“Magia é movimentação de energia pela aplicação da vontade e da
força mental de um agente encarnado ou desencarnado (ou ambos, em união de
interesses), com a finalidade de criar campos de forças magnéticos específicos
(atração, defesa, retenção, repulsão). Atraímos energias quando riscamos um
ponto com essa finalidade e, ao mesmo tempo, realizamos uma invocação.
Quando tocamos uma sineta diante da tronqueira de exu (local
onde é fixado vibratoriamente o guardião do templo, geralmente à entrada e aos
fundos do terreiro), nos defendemos pedindo proteção e segurança. Da mesma
forma, alguns atos magísticos podem ter por objetivo a retenção de certas
energias, como por exemplo: ao acendermos uma vela para um determinado orixá no
local vibrado dentro do terreiro para essa finalidade específica, ou quando
rogamos amor para Oxum ou prosperidade para Iemanjá.
Temos de liberar o ato magístico da conotação de misticismo
fantástico, de mistério fenomênico, de algo sobrenatural. Toda ação de magia se
baseia em leis da natureza e delas não se consegue prescindir. Umbanda é
essencialmente magística e toda a sua magia tem por finalidade o bem do
próximo. É importante deixar bem claro que todo ato de magia deve visar ao bem
dentro da máxima evangélica de que "devemos fazer ao nosso semelhante
aquilo que desejamos a nós mesmos".
A aplicação prática da magia se dá por meio de invocações,
evocações, esconjuros, consagrações, contagens, cânticos, mantras e outros
recursos utilizados para facilitar a concentração mental. Quanto mais unido for
um grupo que objetiva praticar a magia, mais coeso e
força terá o ato magístico, embora um mago adestrado consiga
interferir em campos de energia somente pela sua mente disciplinada.
Quando falamos em energia, tratando-se de magia, temos de
contemplar as dimensões vibratórias mais próximas que nos cercam, ou seja, a
física, a etérica e a astral. O pensamento tem poder criador e o que emitimos
se movimenta nessas três dimensões. A partir dessa realidade, nos
conscientizamos de quão responsáveis somos pelo que pensamos. Detalhando
melhor: a dimensão física é formada de energia condensada (matéria); a dimensão
etérica tangencia e é contígua à física e se sustenta pela constante emanação
fluídica desta, fazendo parte dela; e finalmente temos a dimensão astral, da
qual a dimensão material (em que nos encontramos encarnados) é conseqüência,
como se fôssemos um gigantesco mata-borrão. Salientamos que a verdadeira morada
planetária é o mundo astral, onde passamos a maior parte de nossa existência
como desencarnados.
Na umbanda, a movimentação de energias entre essas dimensões se
dá pela via mediúnica, não bastando "apenas" ser um mago sacerdote.
São os guias do "lado de lá" quem conduzem todos os trabalhos e têm o
alcance de justiça e outorga do Astral superior para determinar a amplitude das
tarefas realizadas. Por esse motivo, ficamos bastante receosos com os muitos
magos existentes atualmente, e com a rapidez com que são formados. Somos de
opinião que está faltando mediunidade em muita magia praticada por aí.
Preocupa-nos os cursos de formação coletiva, regiamente pagos, para se obter
insígnias sacerdotais de mago disto ou daquilo, com solenidades grandiosas de
entrega de títulos e paramentos bonitos. Todo o cuidado é pouco quando tratamos
com magia cerimonial caritativa de auxílio ao próximo, pois "aquele que
não tem patuá que não se
meta com mandinga", diz-nos sempre a veneranda Vovó Maria
Conga, sabedora do efeito de retorno para todos nós quando interferimos em
campos de energias de outras pessoas, sem autorização para fazê-lo em conformidade
com as leis cármicas.
É preciso comentar que todo médium da umbanda é, em maior ou
menor proporção, um mago, mas nem todo mago é um médium, pois a premissa para
se ter uma função sacerdotal na umbanda é a mediunidade, e não o contrário:
dirigentes magos, sem nenhuma mediunidade, na frente de um congá. Nada temos
contra a ênfase mágica sacerdotal e iniciática de outros cultos, que até podem
ser confundidos com a umbanda, em vários aspectos ritualísticos, pelos olhos
leigos da sociedade. Ocorre que não somos "meros" repetidores de
ritual, qual cenógrafos de teatro. Não sabemos exatamente o que se está fazendo
por aí, mas com certeza esse grande comércio de magia que está virando
indústria não é umbanda, aquela umbanda simples e de pujança mediúnica instituída
pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. A ênfase iniciática e mágica, meramente
pelo efeito ritual externo, vistoso, decorre da vaidade humana e é um
reducionismo da nossa religião, da sua humildade, simplicidade, e
principalmente do mediunismo com as suas entidades, verdadeiras mantenedoras da
força e do axé de nossos congás por este Brasil afora.”
(Origem: Do Livro “Umbanda Pé No Chão” –
Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)
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