Sabedoria Ramatis

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A importância do sincretismo para a convergência universalista da umbanda




“Sincretismo quer dizer "combinação de diversos princípios e sistemas", ecletismo, amálgama de concepções heterogêneas. É o somatório de diferentes filosofias e fundamentos magísticos que tendem para uma igualdade, podendo ser diferentes na forma, mas semelhantes na essência. Por ser sincrética em seu nascimento e formação, a umbanda faz convergir para pontos em comum o que se apresenta sob diversas formas ritualísticas em todas as outras religiões do planeta. Ao contrário da opinião de zelosos religiosos, isso não a enfraquece doutrinariamente, não conspurca uma falsa pureza que outras religiões afirmam possuir e não a deixa menor do que qualquer culto ou doutrina mediúnica. Há de se comentar que a diversidade é da natureza universal, pois nada é igual no Cosmo, nem mesmo as folhas de uma única árvore. Assim, a umbanda se apresenta como a mais universalista e convergente das religiões existentes no orbe.
Também não podemos deixar de comentar o preconceito que ainda existe em relação à raça negra, particularmente a tudo o que é oriundo da África, o que se reflete irremediavelmente na passividade mediúnica. Esse atavismo acaba se impregnando nas pessoas que atuam na umbanda, pois ainda não somos perfeitos. Especialmente quanto à origem africana da umbanda (temos a origem indígena e a branco judaico-católico-espírita), lamentavelmente ainda persistem os ranços na busca de "pureza" doutrinária, como se tudo que viesse do continente africano fosse de um fetichismo sórdido e da mais vil magia negativa, o que não é verdade pois temos de ser fiéis à nossa história recente e à anunciação da umbanda na Terra. Se não fossem os africanos, não teríamos hoje a força e a magia dos orixás no movimento umbandista, embora saibamos que emmuitas outras culturas esses conhecimentos se manifestaram, inclusive entre nossos índios, e, voltando no tempo, até na velha Atlântida. Porém, reportando-nos aos registros históricos mais recentes, sem sobra de dúvidas, foram os africanos que, no interior das senzalas insípidas e inodoras, inteligentemente sincretizaram os orixás com os santos católicos, perpetuando-os em berço pátrio até os dias de hoje. Vamos resgatar um pouco dessa origem, digna de todo nosso respeito.
Na época da escravidão, houve um sincretismo afro-católico denominado cabula, principalmente nas áreas rurais dos estados da Bahia e Rio de Janeiro, que, segundo pesquisas históricas, são considerados os rituais negros mais antigos de que se em registro envolvendo imagens de santos católicos sincretizados com orixás, herança da fase em que os cultos africanos eram reprimidos nas senzalas, onde os antigos sacerdotes mesclavam suas crenças e culturas com o catolicismo, a fim de conseguir praticar e perpetuar sua fé. No final do século XIX, quando ocorreu a libertação dos escravos, a cabula já estava amplamente disseminada na nossa cultura como atividade religiosa afro-brasileira.
Esse sincretismo foi mantido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas após a anunciação da umbanda como religião nascente, em 1908. Antes de sua origem oficial, era comum no Rio de Janeiro práticas afro-brasileiras similares ao que hoje ainda se conhece como cabula e almas e angola. Cremos que o surgimento e anunciação da umbanda, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, forneceu as normas de culto para uma prática ritual mais ordenada, voltada para o desenvolvimento da mediunidade e da prática da caridade com base no Evangelho de Jesus, prestando auxílio gratuito à população pobre e marginalizada do início do século passado.
Atualmente, podemos afirmar que é majoritária a presença dos orixás na prática doutrinária da umbanda. Inclusive cresce cada vez mais o culto com imagens simbólicas em formas originais africanas, pois o gradativo e crescente entendimento da reencarnação sugere à coletividade umbandista que é provável que muitos dos santos católicos já tenham reencarnado.
para apoio visual à nossa adoração. Nada tenho contra quem o faz de forma diferente, e convivo harmoniosamente com a diversidade universalista da umbanda. Dias desses, um médium neófito apreensivo falou ao Caboclo Pery de sua preocupação por estarem falando que a umbanda é africanista, "coisa de candomblé", porque dispomos das imagens de Oxalá, Oxossi, Nanã, Ossanhã no congá, e demais orixás africanos simbolizados no terreiro. Vibrado em minha sensibilidade mediúnica, o caboclo, em sua objetividade e calma peculiares, apontou com o indicador para a imagem de um preto velho de terno branco exposto no altar, e iniciou o seguinte diálogo com o aflito medianeiro:

Palavras do médium

Como dirigente fundador da Choupana do Caboclo Pery, e de acordo com os compromissos cármicos assumidos com os amigos do "lado de lá", fui orientado a cultuar os orixás preponderantemente na forma africana, uma vez que se trata de imagens apenas para apoio visual à nossa adoração. Nada tenho contra quem o faz de forma diferente, e convivo harmoniosamente com a diversidade universalista da umbanda. Dias desses, um médium neófito apreensivo falou ao Caboclo Pery de sua preocupação por estarem falando que a umbanda é africanista, "coisa de candomblé", porque dispomos das imagens de Oxalá, Oxossi, Nanã, Ossanhã no congá, e demais orixás africanos simbolizados no terreiro. Vibrado em minha sensibilidade mediúnica, o caboclo, em sua objetividade e calma peculiares, apontou com o indicador para a imagem de um preto velho de terno branco exposto no altar, e iniciou o seguinte diálogo com o aflito medianeiro:
- Este aqui pode?
- Sim - respondeu o neófito.
- Por quê?
- Este preto velho está usando um terno, o que significa que ele foi alforriado, pois se fosse
escravo não poderia. Logo, deve ser brasileiro e não africano.
- O preto velho do Congo que trabalha com você nas consultas é africano ou nasceu no
Brasil?
- Não sei dizer.
- Isso tem importância para você fazer a caridade com ele?
-Não.
- Então, meu filho, não perca tempo com os preconceitos das pessoas, com o que dizem ou não. Olhe para dentro do seu coraçãozinho e aprenda com as entidades que o assistem. Verticalize seu orgulho, desça do pedestal e se iguale aos outros, permitindo a si mesmo ver quem está ao seu lado dando-lhe assistência. Observe o que é feito dentro desta humilde choupana, e conclua se há algo que contrarie os desígnios maiores do Cristo, que estão em todas as raças deste planeta tão judiado pelas emanações mentais dos homens. As diferenças raciais foram criadas para que vocês se libertem da superioridade de uns em relações aos outros. É inevitável que reencarnem em todas para que possam aprender que as diferenças somam, e não separam, pois Deus oferece Seu amor incondicional igualmente para todas as Suas criações. Vá, abaixe a sua cabeça porque as trombetas da caridade estão soando! Não temos mais tempo para a orgulhosa soberba racial que tanta guerra fratricida religiosa ainda causa na crosta.”



(Origem: Do Livro “Umbanda Pé No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)

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