“Somos naturalmente desconcentrados.
Conseguimos prestar atenção a uma palestra, sem ficar dispersos, por até seis
minutos. Por isso, os gestos, as palavras, os movimentos e os sons que
caracterizam um ritual, de valor simbólico previamente conhecido dos
participantes, repetidos com regularidade, favorecem a concentração e criam um
condicionamento mental individual e coletivo que propicia um automatismo
salutar na sintonia mediúnica. Por exemplo: diante do ponto cantado da
entidade, quando o médium está "pronto", ocorre imediatamente a
incorporação mediúnica.
Um ritual é uma forma de organização, um
método sistematizado que objetiva disciplinar e dar uniformidade aos
pensamentos, por meio de estímulos sensórios externos que são interiorizados no
psiquismo. A repetição metódica e regular dos cânticos, a visão das imagens por
todos os componentes do terreiro, dispostos de frente para o congá, os
atabaques, os cheiros, a defumação, as cores, os movimentos repetitivos, tudo
isso favorece o condicionamento anímico e a entrega passiva dos médiuns que
darão sustentação à corrente, fortalecendo o intercâmbio mediúnico.
Na umbanda, existem diversos tipos de
rituais que variam diante da necessidade espiritual do grupo e dos
freqüentadores da casa. Não vamos descrever nenhum deles, em razão da enorme diversidade
em nossa religião, e cremos que a finalidade deste livro não é esta.
Evidenciamos, porém, o aspecto social do ritual que une os seus praticantes em
respeito e cumplicidade, além de estreitar os laços de amizade.
Um terreiro de umbanda é o local sagrado
para o culto aos orixás. Entidades espirituais que estão presentes precisam de
um ambiente magnetizado positivamente para a fixação e manutenção de suas
energias no espaço físico-astral consagrado pela fé e confiança dos frequentadores,
tanto da assistência como do corpo mediúnico, sendo o lado de cá uma consequência
do "lado de lá", geralmente bem mais amplo. O culto serve, portanto,
para a invocação e ligação mediúnica com os espíritos-guias que se apresentam
para a realização dos trabalhos de caridade.
Há de se comentar que a diversidade de
culto é consequência da fragmentação religiosa existente na consciência
coletiva. Na umbanda, essa diversidade se intensifica em razão de sua universalidade
convergente, ou melhor, porque a umbanda atrai para si seguidores de várias religiões
que a procuram em busca da caridade. Portanto, a forma de cultuar o sagrado no
interior dos terreiros não deve ser motivo de separatismos, uma vez que a
unidade na umbanda não tem conotação de igualdade; ao contrário, as diferenças
devem unir e não separar.”
(Origem: Do Livro “Umbanda Pé
No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)
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