PERGUNTA: - O avanço das concepções judaico-cristãs-católicas
sobre as diversas religiões, inclusive a umbanda, associado à imputação de
"culpa" aos seus adeptos, não contribuiu para a instalação e
manutenção de um estado de consciência infantil nas coletividades envolvidas,
diante das verdades espirituais?
RAMATÍS: -
O sentimento de culpa deve conduzir-vos a um saudável e constante amadurecimento
fundamentado na reavaliação de atitudes. O que o catolicismo fez ao longo da História
e que se encontra ainda muito arraigado no inconsciente coletivo foi
estabelecer uma terrível dominação religiosa com o lema "fora da Igreja
não há salvação". Essa proposição doutrinária culposa opõe-se ao legado
crístico deixado no Evangelho de Jesus, que, ao contrário de aprisionar
consciências, as liberta.
A contextualização histórica da incrustação de culpa
na consciência humana foi um avanço evolutivo que depurou alguns ritos
religiosos. Antes dos hebreus visionários e pioneiros, os "deuses" se
satisfaziam com sacrifícios sanguinolentos e não tinham nenhuma noção de moral crística.
Bastava um fiel degolar uma cabra ou arrancar o coração de um carneiro para um
daqueles bezerros de ouro fazer chover ou fertilizar as mulheres. O próprio
Jeová se regozijava com a bajulação concretizada nas oferendas. Era um
"deus" belicoso, dos exércitos, que submetia seus filhos a provas de
fé crudelíssimas, como aquela por que passou Abraão, quase tendo que imolar o próprio
filho.
Esse modo de se relacionar com as divindades não foi
exclusivo de uma única etnia no orbe terrestre, manifestando-se nas tribos
africanas e silvícolas em diversas localidades geográficas, algumas até com
rituais de antropofagia, em que comer o inimigo fortificava o espírito, simbolicamente
não muito diferente de ingerir o corpo amigo de Jesus na eucaristia católica.
Eis que vieram os profetas antecedendo o Rabi da Galiléia em sua mensagem
libertadora. Significativamente, Isaías bradava com voz de trovão, falando em
nome de um único Deus vivo: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai de diante dos
meus olhos a maldade de vossas ações! Cessai de fazer o mal! Aprendei a fazer o
bem, procurai o que é justo, aliviai a opressão, fazei justiça ao órfão,
defendei a causa da viúva".
A moral contida no Evangelho de Jesus e magistralmente
exaltada em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é universal e cósmica, tem aplicabilidade às
várias religiões terrícolas, mesmo que o conceito de mal ou bem seja limitado por
vossa temporalidade material, que
ocasiona mudanças de hábitos e
valores constantes.
A moralidade preconizada por Jesus é mediadora,
equilibrando-se entre "a moda" de não se arrepender de nada dos
cultos africanistas e ritos tribais antigos e a total submissão culposa dos novos
católicos, dois extremos que não se aplicam à consciência coletiva atual. Ela
busca a unidade no conjunto dos indivíduos e da sociedade, convergindo para
todas as doutrinas da Terra, mesmo que o processo de religiosidade se subdivida
em múltiplos pedaços, qual colcha de retalhos, como se fossem gavetas de um
único armário que não se comunicam.
Em verdade, na umbanda, o retorno à unidade religiosa
requer dos cidadãos amadurecimento espiritual; exige a quebra da infantilidade
fragmentada, promovendo a união na diversidade, em que as diferenças não
significam desigualdades. Esse discernimento é vagaroso, mas não impossível.
Há uma relação direta do sensitivo com o sagrado, em
que os transes mediúnicos vivenciados nos terreiros pelo intercâmbio com os
espíritos enviados dos orixás trazem do inconsciente a unidade cósmica de
outrora, já vivida nos planos fora da materialidade. O sentimento de serdes Um
com o Pai vos conduz a uma mudança gradativa de consciência e à percepção de
que toda a expressão de religiosidade na Terra converge para Ele, o Uno, o
Incriado Eterno. Tudo é parte desse Todo, tornando-se irrelevantes as formas
das religiões instituídas na Terra diante da unicidade dessa essência
religiosa, cósmica e convergente, tão intensa na seara umbandista que extrapola
a dualidade culposa imposta pelos infantis dogmas judaico-católicos, ainda tão
presentes nos ritos sincréticos.
O saber profundo de cada uma das crenças da Terra é
análogo: indica um tipo de relação com o Divino em que as partes integram um
conjunto maior, sem que se desmereçam reciprocamente ou priorizem umas às
outras. Assim a umbanda, por sua universalidade cultural e ritualística, caminha
a passos largos, porém discretos, rumo à instalação e à manutenção de um estado
de consciência madura e unificada, de fraternidade amorosa entre as
coletividades que a seguem, envolvidas na busca das verdades espirituais.
PERGUNTA: - Existem "umbandistas" que
preconizam liberar a umbanda de Jesus e do "ranço" católico e
espírita, alegando que os africanos e o culto à natureza nunca veneraram o
Evangelho do Divino Mestre. O que podeis nos dizer sobre isso?
RAMATÍS: - Procuram
negar Jesus numa tentativa tão-somente de africanizar a umbanda. Entendemos que
isso é um reducionismo e uma incompreensão do significado cósmico do Cristo. A
essência crística de Jesus, de Buda, Maomé, Ghandi, Krishna, entre outros
enviados, vai além da religião católica, que é símbolo em vosso inconsciente de
ser cristão. É importante deixar o "biblismo" e o
"igrejismo" de lado e enfocar vossa mente na essência da mensagem do Evangelho
de Jesus, tão bem lembrada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas na data da anunciação,
do culto nascente. Para isso, não precisa haver imagens e podeis gradativamente
"dessincretizar" a umbanda, libertando-a das ladainhas e dos
oratórios católicos.
A mistura da umbanda com as práticas mágicas populares
ocasiona uma fricção nas consciências dos prosélitos nesse início de terceiro
milênio, criando uma crise de identidade em algumas expressões sacerdotais,
levando-as a posturas abruptas para se perpetuarem no poder. Elas impõem,
assim, um senso de urgência irreal, querendo a exclusão violenta do que as desagrada,
como preconizam os "pais-de-santo" famosos da "umbanda",
perdidos nas iniciações coletivas regiamente pagas, disfarçados entre
"mistérios" ocultos, veladamente esfaqueando um galo aqui, um bode
acolá, a pedido do falso "exu" que vilipendia o Verdadeiro.
A umbanda é universal e não se limita a uma raça ou
etnia: africana, negra, índia, vermelha, branca ou amarela. Na verdade, existe
uma frustração crescente de certos "umbandistas" na busca de
referenciais para seus atos primitivos: fazer a cabeça com sangue, deitar para
o santo, além de raspagens e matanças.
Para terdes a convicção interna que não falseia, o
fundamento imprescindível à essência da umbanda é mover vossos espíritos para a
caridade. É óbvio que isso não combina com sacrificar animais, da mesma forma
como é-inconcebível idealizardes Jesus oficiando entre os apóstolos com faca
afiada à mão entre berros de galos e animais de quatro patas que serão cortados
com precisão mortal em nome do Pai.
Cada vez mais é preciso indicar o que é umbanda. A
partir disso, cada um pode então concluir o que não é a Divina Luz.
(Origem: A Missão da Umbanda – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do
Conhecimento)
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