“Fala-se
muito da umbanda como sendo um "movimento de expressão por meio de diferentes
rituais". Isso ocorre porque não existe uma codificação que a ampare, fazendo prevalecer um modelo doutrinário que promova a uniformidade
entre os terreiros. Ao mesmo tempo em que a umbanda permite que as lideranças
espirituais criem ritos, conforme a orientação de seus guias e o compromisso
cármico evolutivo mantido com eles, é alvo de constantes conflitos, em razão
das divergências apresentadas entre a infinidade de terreiros existentes,
quando se compara esses fundamentos.
Sendo
um movimento direcionado do Astral para a Terra, é difícil concordar com
modelos pré-estabelecidos que apresentam a umbanda com um número fixo de linhas
vibratórias por orixás, impondo formas de apresentação das entidades que
labutam na sua seara. Podemos afirmar que a umbanda não é uma religião
mediúnica engessada, estratificada, como se fosse um exército que só pode
trabalhar com este ou aquele espírito, desde que se manifestem nas formas de
caboclos, pretos velhos e crianças, quantificando-se o número de espíritos que
a compõem por linha, legião, falange e sub-falange.
Quando
analisamos esses fundamentos, verificamos que exaltam-se a forma e minimizam se
a essência umbandística que o caracteriza como um movimento caritativo
mediúnico de inclusão espiritual, e nunca de exclusão. A natureza cósmica não é
rígida e imutável, e sim flexível e em constante transformação. Por exemplo: as
formas de apresentação dos espíritos que se classificam como exus são as mais
diversas possíveis, descartando-se a imposição de que somente caboclos, pretos
velhos e crianças são "entidades de umbanda", embora reconheçamos que
são as principais, sem desmerecer nenhuma outra ou dar uma conotação de
superioridade sobre as demais, pois sabemos que formam uma espécie de triângulo
fluídico que sustenta o movimento do Astral para a Terra.
Na
verdade, antes de ser anunciada para os habitantes da Terra pelo Caboclo das
Sete Encruzilhadas, a umbanda já existia no Espaço, congregando uma plêiade de
espíritos comprometidos com a universalidade do amor pregado por Jesus que, nos
seus primórdios, se apresentavam através da mediunidade basicamente como
caboclos e pretos velhos, por se ligarem às raças excluídas do mediunismo pelo
preconceito do movimento espírita da época. Essa situação demonstra um atavismo
milenar dos espíritas que nada tem a ver com o espiritismo, doutrina
libertadora por natureza. Infelizmente, ainda hoje, entidades que se apresentam
como negras e índias são proibidas de manifestarem suas culturas e suas peculiaridades
em muitos centros espíritas, como se os espíritos fossem exatamente iguais,
como robôs: todos de raça branca, médicos, advogados, filósofos
judaico-cristãos e ex-sacerdotes católicos, de fala padronizada (uma vez que
decoram as obras básicas), com jeito choroso de pregador evangélico e idêntica
compreensão do Além- Túmulo. Seria um parâmetro artificial, porque logo
constatamos, no decorrer do exercício da mediunidade, que a maioria dos
espíritos não são "espíritas", pois apresentam enorme diversidade de
entendimento espiritual, no qual predomina diferentes filosofias e religiões
que convergem em direção às verdades universais consagradas no espiritismo, e
existentes muito antes da recente codificação kardequiana, que formaram suas
consciências desencarnadas ao longo da história planetária. Reflitamos: se os
gomos de uma mesma laranja são diferentes, assim como os anjos e querubins o são, em relação uns aos outros e a
Deus, o que esperar dos mentores e guias que "descem" à crosta para
nos auxiliar?
Não
vamos impor rituais ou fundamentos, neste desinteressado livro, como é da
índole dos nossos amigos espirituais, nem quais são as sete principais linhas
vibratórias da umbanda, já que elas variam de terreiro para terreiro e todos
fazem a caridade. Sabemos que as falanges espirituais são agrupamentos de
espíritos afins a determinados orixás (não os incorporamos na umbanda e trataremos
deste tema em capítulo a parte) que possuem semelhante vibração e compromisso caritativo:
pretos velhos, caboclos, exus, crianças, baianos, boiadeiros, marinheiros
ciganos, orientais das mais diversas etnias, entre outras formas e raças relacionadas
à evolução humana no orbe.
É
importante esclarecer algumas dúvidas mais comuns quanto à formação das
falanges na umbanda. Numa determinada falange pode haver centenas de espíritos
atuando com o mesmo nome, aos quais denominamos de falangeiros dos orixás. A
falange de Cabocla Jurema, por exemplo, é constituída de milhares de espíritos
que adotam este nome, como se fossem procuradores diretos da vibração do orixá Oxossi.
Então, sob o comando de um espírito, existe uma quantidade enorme de outros
espíritos que se utilizam dessa mesma "chancela" ou
"insígnia" - uma espécie de autorização dos Maiorais que regem o
movimento umbandista e que identificam os que já adquiriram o direito de
trabalho nas suas frentes de caridade no orbe. Na verdade, quando um médium
incorpora uma Cabocla Jurema, ele se enfeixa na falange que tem uma vibração peculiar.
Por isso, pode ocorrer a manifestação de centenas de caboclas juremas ao mesmo
tempo, pelo Brasil afora, inclusive dentro de um mesmo terreiro..."
(Origem: Do Livro “Umbanda Pé
No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)
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