Sabedoria Ramatis

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A dualidade do sincretismo na crendice popular: orixás santificados, exus demonizados – Vl






PERGUNTA: - Quando e de que maneira os orixás entram no contexto da umbanda? Eles são trabalhados e incorporados?

RAMATÍS: - Os orixás são aspectos da Divindade, altas vibrações cósmicas que se rebaixam até vós, propiciando a manifestação da vida em todo o Universo. É preciso compreenderdes que existem vários planos vibratórios no Cosmo e que Deus, em Sua benevolência, manifesta-Se por meio de vibrações próprias em cada dimensão. Essas vibrações energéticas não são o próprio Incriado, que permanece sem ser manifestado diretamente. Cada um dos orixás tem peculiaridades e correspondências próprias na Terra: cor, som, mineral, planeta regente, elemento, signo zodiacal, essências, ervas, entre outras afinidades astromagnéticas que fundamentam a magia da umbanda por linha vibratória.
Assim, a cada um dos orixás se afina uma plêiade de espíritos que atuam nas formas estruturais que sustentam o movimento da umbanda no Espaço: pretos velhos, caboclos e crianças, todos plasmando um triângulo fluídico magnético do plano espiritual superior que "flutua" sobre o Brasil, para cujo centro se direcionam as vibrações do Cristo Cósmico e todas as formas e raças espirituais que se enfeixam na umbanda para fazer a caridade. Na umbanda, os orixás não incorporam. Afirmamos que isso é impossível, pois não é da natureza universal quaisquer manifestações personificadas dos orixás. O que verificais em alguns terreiros sérios de cultos de nação e que mantêm as tradições africanistas antigas, claramente não evidenciando a prática umbandista, são, em sua maioria, manifestações do inconsciente, de arquétipos padronizados, que no transe ritualístico exteriorizam uma personagem simbolizando essas altas energias cósmicas, ditas orixás, "concretizando", para o entendimento humano, por meio de expressões coreográficas, algo que vos é abstrato. Também se manifestam espíritos ancestrais afins com a família-de-santo da Terra, e que na espiritualidade preservam seus hábitos religiosos, como se estivessem nos antigos clãs tribais no interior da velha África.
Assim, os orixás se "manifestam" na umbanda, indiretamente, por meio dos espíritos que se unem no plano astral formando as linhas vibratórias uma para cada um deles, ditos orixás. É um forma de se unirem organizadamente em auxílio aos filhos da. Terra. Nenhuma linha vibratória que representa um orixá é melhor que outra. Todas têm a mesma importância.


PERGUNTA: - Quais os motivos de as personagens ditas orixás, e suas histórias de amor e quizilas, serem tão comuns e aceitas nos cultos afro-brasileiros?

RAMATÍS: - Os cultos afro-brasileiros são massificados, assim como a umbanda o é. Isso não quer dizer que sejam inferiores aos cultos eletivos, como o são as ordens iniciáticas: Maçonaria, Rosacruz, Teosofia, entre outras. Considerai ainda que o fato de os cultos afro- brasileiros serem populares não significa que muito de seus terreiros não tenham ritos internos para uns poucos eleitos que são iniciados nos segredos velados à maioria profana. Estudai as mentes dos indivíduos comuns: cidadãos aposentados, trabalhadores da indústria de construção, donas de casa, desempregados, marceneiros, pedreiros, artesãos, pequenos comerciantes, e verificareis que em geral são totalmente voltadas para o exterior. Trata-se de pessoas cujas atenções se voltam para ritos externos, com o desfile de imagens simbólicas que causam continuas impressões no campo de suas consciências simples e ainda incapazes de abstrações meditativas silenciosas na busca do "eu interior" do espírito eterno.
As tradições orais africanas foram mantidas pelas histórias de personagens ancestrais, maneira sábia de associar a reverência ao Divino numa cultura que não registrava seus conhecimentos e se mantinha com a imperiosa necessidade do segredo para perpetuar o poder sacerdotal das castas dominantes. Os enredos de quizilas e amores dos orixás, considerados personificações de um passado remoto povoado de deuses intempestivos  e ligados às várias famílias-de-santo espalhadas em muitos clãs tribais, estavam de acordo com as crenças da época, que levavam essas comunidades a ter como verdadeiro o dogma de que eles haviam encarnado sempre numa mesma parentela.
Com a universalização, no Brasil, das crenças do panteão africanista, que foram popularizadas com as tradições das diversas nações escravizadas, muitos prosélitos desses cultos massificados na atualidade começam a entender o verdadeiro sentido dos orixás e aceitam essas historietas romanescas de ódios, vinganças e amores irascíveis como maneira didática de associar os arquétipos de cada orixá, os tipos comportamentais humanizados, com os crentes que lhes são afins em vibrações, o que contribui saudavelmente para esclarecer dúvidas, bem como para melhorar cada indivíduo.

 

(Origem: A Missão da Umbanda – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)

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