“Quantas vezes ocorrem sérios conflitos em um terreiro porque certo
médium começa a manifestar uma entidade com o mesmo nome do guia do dirigente.
Aí começam os ciúmes, asvaidades feridas, e gradativamente o médium
"abusado" começa a ser desacreditado em sua mediunidade, como se uma
determinada entidade fosse propriedade de alguém na Terra. Devemos estudar
mais, observar melhor o plano astral e o que os espíritos do "lado de
lá" têm para nos ensinar. Vemos muitos "sacerdotes" despreparados,
fazendo coisas porque sempre foram feitas de determinada maneira, ou mesmo
proibindo os trabalhadores da corrente de se instruírem por meio da leitura, o
que é algo semelhante à "caça às bruxas" do tempo da Inquisição, que
retorna atavicamente em algumas personalidades
detentoras de poder religioso. Considerando que é possível um mesmo espírito
atuar em diversas falanges com mais de um nome,
de acordo com sua missão e evolução espiritual, percebemos o quanto é grande o
nosso apego às entidades que nos assistem quando
ouvimos corriqueiramente a seguinte afirmação de muitos
médiuns: "meu guia", "meu caboclo", "meu exu". Na
realidade, eles é quem nos escolhem do "lado de lá". A opção sempre
parte do mundo espiritual. Quantas vezes nos achamos privilegiados
por ter como guia o caboclo mais forte, quando ele está se manifestando bem ao nosso lado, no médium mais simples e prestativo do
terreiro, como um humilde pai velho, por não encontrar
mais no seu antigo aparelho o campo psíquico livre da erva daninha que é a
sorrateira vaidade.
Da
mesma forma, um espírito pode estar atuando manifestado mediunicamente em
vários aparelhos ao mesmo tempo, numa diversidade de terreiros. É possível a
certas entidades vibrarem numa espécie de multiplicidade vibratória
(ubiqüidade), pois as distâncias e o tempo do "lado de lá" diferem em
muito do plano físico. Imaginemos uma mesma fonte geradora de eletricidade que alimenta
muitos fios que levam a energia para vários bairros. A mesma força que entra na
mansão de João, entra no casebre de José, na choupana de Maria, na casa do
feirante, no apartamento do médico, sendo a origem fornecedora a mesma, ainda
que mude a luminosidade e a cor aos nossos limitados olhos.
Concluindo
este item referente à estrutura astral do movimento umbandista, esclarecemos a quem
acusa a umbanda de personalista que raramente uma entidade atuante em nossos
terreiros se prende a uma encarnação específica e a revela aos filhos da Terra,
pois entendem que esses detalhes são de pouca importância diante da gigantesca
caridade que têm de prestar. A humildade, como bem recomenda a espiritualidade
de umbanda, dispensa histórias romanescas de personalidades distintas do
passado, a exemplo de ilustres tribunas, sacerdotes, centuriões e senhores da
lei. Nossos guias bem sabem que os conhecimentos desses feitos servem apenas
para exaltar um médium diante de uma comunidade.
É
surpreendente o fato de personagens famosos de outrora estarem humildemente por
trás de uma aparência de caboclo, como acontece com doutor Bezerra de Menezes,
e inúmeros outros espíritos, a exemplo de Joana de Ângelis, que se apresenta
com a vestimenta de uma vovó mandigueira do Congo velho africano. Apelamos aos
companheiros de todas as frentes mediúnicas que deixemos os sectarismos de lado
e permaneçamos distantes de nossas atitudes orgulhosas e superiores perante os
irmãos que optam por doutrinas diferentes das que abraçamos. Vamos nos respeitar
fraternalmente.”
(Origem: Do Livro “Umbanda Pé
No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)
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