“Cultuamos
os orixás na umbanda; por isso, é importante enfatizar algumas diferenças cruciais
em relação aos cultos das diversas nações africanas. Primeiramente, temos de
ressaltar que a prática umbandista não é politeísta: acreditamos em um Deus
único e inigualável, não importando muito se o seu nome é Zambi, Olurum ou
simplesmente Pai. Os orixás são forças da natureza, energias cósmicas provindas
do Criador. Portanto, não os incorporamos nem eles apresentam características
humanas, como vaidade, ciúme, sensualidade e raiva. Não nos vestimos com as
roupas dos deuses nem damos de comer aos "santos" incorporados, e
eles também não aprendem a dançar conosco.
Quem se
manifesta nos terreiros de umbanda são espíritos desencarnados que têm
afinidade com determinado orixá e formam as chamadas linhas vibratórias. Na
maioria, são entidades que ainda irão reencarnar e que estão em aprendizado
recíproco com seus médiuns. Como têm um compromisso coletivo a realizar,
encontram no Astral oportunidade de aprendizado e evolução fazendo a caridade.
Outras (a minoria) são mentores que não mais reencarnarão compulsoriamente no
planeta, e, por possuírem um elevado amor, estão vinculadas à coletividade
espiritual terrena nos auxiliando, assim como Jesus o faz desde épocas
imemoriais.
Uma
significativa parcela dessas consciências extracorpóreas já poderia estar nos
planos vibratórios celestiais, mas, por vontade própria, exercitando o livre-arbítrio,
optaram por atuar em densa camada evolutiva, como a da Terra. Assim como as
águias conseguem voar rente à superfície do solo, junto às galinhas d'angola,
os que ascenderam podem fixar-se mais abaixo, nas escalas evolutivas, para
estar mais próximos dos que amam e que ficaram para trás na escada do espírito
eterno. No entanto, o inverso requer esforço, transformação e mérito, assim
como a galinha d'angola não consegue pairar voando no sopé da montanha como a
águia o faz.
Na
umbanda, a mediunidade é um processo natural, decorrente de uma ampla sensibilização
fluídica do espírito do médium, antes do reencarne, de forma a facilitar a
sintonia com as entidades que o auxiliarão e que têm compromisso cármico com
ele. Então, é dispensável as camarinhas e os longos isolamentos para
"deitar pro santo", os pagamentos pecuniários aos sacerdotes, a fim
de obter ritos de iniciação, bem como os sacrifícios animais com cortes rituais
na altura do crânio do médium para fixar "divindades" no chacra coronário.
Também não é preciso dar comida à cabeça para firmar o guia nem
"obrigações" de troca com o Sagrado, muito menos adotar procedimentos
de imolação com derramamento de sangue para reforçar o tônus mediúnico, que são
interferências ritualísticas existentes em outros cultos, mas não fazem parte
dos fundamentos da umbanda.
Todo o
método de interferência e "acasalamento" medianímico entre aparelho
encarnado e guia espiritual é natural e se concretiza após longa preparação
entre encarnações sucessivas, conforme pôde ser comprovado pela manifestação
límpida e cristalina da mediunidade em Zélio de Moraes, que, em tenra idade física,
recebeu o Caboclo das Sete Encruzilhadas, numa expressão de mediunismo
espontâneo e inequívoco. Há de se registrar que ele não teve "pai de
santo" e nunca permitiu que o chamassem com tal distinção sacerdotal, o
que nos leva a refletir sobre a vaidade existente entre certas lideranças
umbandistas, cujas criaturas são iguais a quaisquer outras. Nunca se teve
tantos sacerdotes, mestres, gurus e discípulos inseridos numa ferrenha e
aguerrida competição entre "escolas", buscando a prevalência entre as
ovelhas, como hoje, na era da comunicação digital, das listas de discussões na
internet. Esquece-se de que se os pastores brigam pela tosquia do rebanho,
poderá faltar lã na invernada.
Temos
na origem africana da umbanda consistente fundamentação, especialmente a do conhecimento
dos orixás, dos elementos, das ervas, dos cânticos, enfim, da magia. Foi pelo sincretismo
entre a religiosidade africana e o catolicismo que os fundamentos dos orixás se
mantiveram ao longo dos tempos no Brasil, embora, voltando ao passado remoto, à
época da submersa Atlântida, cheguemos a esses mesmos ensinamentos sagrados,
detectando que a essência em suas semelhanças foi mantida, ainda que tenha
havido uma enorme diversidade de culto na história das religiões.
Inquestionavelmente, se não fossem os africanos trazidos para solo pátrio não
teríamos os orixás na umbanda atual.”
(Origem:
Do Livro “Umbanda Pé No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do
Conhecimento)
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