PERGUNTA: Seria louvável que as criaturas, em vez de
reconhecer em os equívocos de um comportamento sexual danoso à sua integridade espiritual,
ainda fossem estimuladas pelo epicurismo censurável?
RAMATÍS:
Até os cães e os gatos sabem distinguir o alimento nutritivo, e
evitam ingerir a comida nociva. Em conseqüência, o espírito do homem possui, em
si mesmo, um "sexto sentido", uma faculdade intuitiva, a qual o faz
distinguir, claramente, as suas conveniências e inconveniências.
Ninguém
precisa indagar se o álcool prejudica; basta tomar um porre e, no dia seguinte,
poderá meditar no mal-estar da ressaca pelos efeitos tóxicos, cefaleias e, ao
mesmo tempo, os reflexos degradantes. Qualquer criatura necessita se nutrir e,
para isso, usa os tipos de alimentos mais de seu agrado e maior valor nutriente;
mesmo o homem mais bronco não mistura sal com açúcar, nem põe gelo no chá
fervente. Sabe saciar a fome, sem exorbitar na quantidade de comida, porque
abusando no excesso de gula, não tarda a frequentar os consultórios médicos
para eliminar os efeitos do "pecado" da glutonaria. O próprio burro sabe
distinguir e preferir o melhor para si, entre a sombra fresca da árvore
frondosa, ou a exposição à canícula de verão para descansar.
Evidentemente,
o próprio homem "sabe" e "sente", por força de sua
graduação espiritual, qual deve ser o mais alto comportamento sexual, polígamo
ou monógamo, respeitar o pensamento conjugal ou traí-lo, gozar de conceito superior
como criatura digna ou, então, o "conquistador barato", semeando infelicidade
e prejuízos, enganando amigos e desonrando lares. Enquanto Nero chafurdava nas
orgias mais lascivas de Roma, rodeado de uma aristocracia tão podre quanto ele,
os cristãos morriam cantando Hosanas a Deus, porque escolheram o Cristo, que é
Amor e Pureza.
PERGUNTA: Mas não seria isso quase uma
justificativa do 'pecado", induzindo no caso de mau comportamento sexual,
a uma pré-absolvição de quem erra?
RAMATIS:
Perdoar ou justificar o
pecador não é promover o pecado, pois, quem peca é já um prejudicado pelo ato
cometido e, sem dúvida, pela tendência em praticar os mesmos atos. O espírito
do homem evolui de um estado quase grupal para a consciência individual,
quando, então, reconhece os motivos e impulsos instintivos necessários à sua
evolução na infantilidade espiritual, quando poderiam Sob a Luz do Espiritismo ser virtudes e depois pecados, ao
chegar a adulto. Assim, é admissível a criança furtar frutas do refrigerador,
entretanto, é censurável o adulto fazê-lo do vizinho. As crianças podem ser
esfaimadas na mesa; fazer careta para os visitantes; fazer suas necessidades
fisiológicas em público; fumar fingidos cigarros; atirar pedras nas árvores
frutíferas, beijar-se e abraçar-se; brincar de pai, mãe e filhos, casamentos faz-de-conta,
e até mostrar-se, mutuamente, os órgãos sexuais externos, pela curiosidade
natural delas.
No
entanto, toda essa curiosidade a estimular o desenvolvimento mental é virtude
na criança, porém, será reprovável ao ser praticado por adultos, gerando maus
resultados. O homem, no entanto, é fortemente impelido pela curiosidade, desde
a infância simbólica da época do sílex; sua natureza é experimentar, ver de
perto, sentir a reação das coisas e dos seres, as quais implicam numa série de
vantagens e prejuízos, quando dessa curiosidade surge o vício, a degradação ou
o prejuízo a si e outrem.
Em
conseqüência, não há propriamente uma "pré-absolvição" pelo fato de
se justificar o mau comportamento
sexual como efeito da graduação espiritual primária do terrícola,
principalmente, tendo ele conhecimento antecipado dos princípios físicos,
morais e mesmo espirituais transgredidos por ele, do recíproco efeito punitivo.
Qualquer pessoa impudica sabe ser contrária às leis, desviar, na vida já
difícil, a empregadinha lutando pela sobrevivência, uma vez que tal ente,
através de sua capacidade mental e discernimento, reconhece que a mulher que
pretende explorar na satisfação de sua lubricidade representa, também, a imagem
de sua irmã, mãe, futura esposa e prováveis filhas.
Evidentemente,
não pretendemos sugerir qualquer tipo de atividade e relações num regime de inconsciência
e pecaminoso, mas, também, não queremos apontar normas rigorosas, proclamando
um artificialismo e virtudes artificiais para um mundo de vivência e aprendizado
espiritual primário como é a Terra. Seria absurdo exigirmos de crianças, em
seus folguedos, disciplina rígida de um quartel. Tudo é lembrado, de nossa
parte, no sentido da melhor compreensão entre os homens e o maior entendimento dos
valores que levam mais breve à ventura imortal. Através das agradáveis ou
desagradáveis experiências na vida física, o espírito imortal desperta e
desenvolve as virtudes humanas sobre o instinto animal, até chegar às próprias
qualidades excelsas da inteligência, do sentimento, da sabedoria, do poder, da
cortesia, da intuição e, acima de tudo, o amor, aquisições finais de todas as
almas criadas por Deus.
Do
livro: “Sob A Luz Do Espiritismo” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do
Conhecimento.
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