...“Tendo sido o seu corpo
astral sensibilizado para ser médium de cura nesta última encarnação, no seio
da Umbanda, recaiu abruptamente em fortes condicionamentos arraigados, e num
comportamento atávico, reativou a conduta de alquimista da Idade Média,
esquecendo dos compromissos assumidos com os mestres cármicos e espíritos amorosos
que o acompanhariam na caridade terrena, que por sua vez muito o auxiliariam
nos resgates dos desmandos do passado.
Voltemos ao despertamento
de Tertuliano, agora no Plano Astral. Acorda e se vê preso num buraco
enlameado, fétido e com uma legião de "homens-lobo", seres desgrenhados
e raivosos do umbral inferior a lhe baterem com correntes pontiagudas de aço
que lhe dilaceram as carnes.
Fica assim não sabe por
quanto tempo. Não tendo mais forças, se entrega num estado de torpor àquela dor
dilacerante, e não se espanta mais com seus ossos expostos, os músculos e
nervos pendurados em pedaços como se tivesse virado animal esquartejado e exposto
num matadouro, e o sangue que nunca cessa de jorrar. Num determinado instante,
sente forte desejo sexual, e se lhe aproxima lânguida e sensual
"mulher", mas quando lhe chega perto do campo limitado de visão, percebe
que no lugar da pele tem escamas cobertas de um tipo de musgo esverdeado
pegajoso, que seus olhos são vermelhos, as pupilas como de felino, as unhas
estiletes cortantes. O ente ignóbil dança a sua frente em gestos obscenos.
Aquele artificial do astral inferior, que ele criou, manipulando-o muitas vezes
para separar casais, hipnotiza-o e o envolve sensualmente.
Não podendo se controlar
pelo intenso hipnotismo, se entrega ao conluio sexual com essa
"mulher" assombrosa, que lhe suga as últimas energias vitais, e sente
que não tem mais vontade própria, perdendo sua última gota de dignidade. Roga a
todos os demônios e lucíferes que o tirem de tão sinistro destino.
Imediatamente, em
completa prostração e fraqueza, vê-se diante de um mago negro, que veste uma
longa capa escarlate, de tórax e abdome encovados e de feitio reptílico, de
aparência geral comprida e delgada, com o pescoço dilatado similar a uma cobra
naja enraivecida pronta a dar a investida mortífera, que se propõe arrebanhá-lo
para as suas hostes, dizendo-lhe que assim como todos eles haviam trabalhado
para ele enquanto estava encarnado, agora era chegado o momento dele retribuir
sendo escravo deles. Caso não aceitasse esta situação, que ficasse a penar no
buraco em que se encontrava. Concorda com a proposta e a primeira missão que
lhe dão é atacar e destruir a sua ex-esposa, o filho e a filha, como prova da
sua fidelidade. Reluta, mas por fim cede, e completamente perdido de ódio por
tudo e por todos, instala-se na contraparte etérica da residência dos antigos
parentes. Leva-os verdadeiramente a um inferno de Dante pelos fluidos enfermiços
que exalava, que não detalharemos para o nosso relato não ficar excessivamente fúnebre.
Quando tudo parece que
está chegando ao fim, e a companheira de décadas está quase louca, o filho só
pensa em suicídio e a filha está grávida de pai desconhecido, a ex-esposa –
antiga médium de Umbanda - num vislumbre de lucidez, vê-se em quadro
ideoplástico clarividente, criado e inspirado por "sua" preta velha,
um espírito protetor, que orienta-a para procurar ajuda espiritual, sob pena de
todos sucumbirem. Resolve determinadamente, surpreendendo-se com as próprias
forças, procurar ajuda num Terreiro de Umbanda.
Em consulta realizada,
um Caboclo denominado Ogum Sete Lanças, incorporado num médium, diz que há um
espírito familiar muito perturbado desestruturando a família. Solicita a continuidade
dos atendimentos, fala da persistência que os membros da família terão que demonstrar,
e concomitante aos trabalhos habituais da Umbanda, encaminha todos para uma sessão
de desobsessão, em que, na última quinta-feira de cada mês, são realizados
diálogos fraternos com espíritos sofredores, naquele terreiro.
Através do comando da
falange espiritual desse Caboclo, toda a organização trevosa foi retida e
Tertuliano foi esclarecido e aceitou ir para um local de correção e estudo no
Astral sob a égide da Umbanda. Seus familiares encarnados têm novamente o
bem-estar em suas vidas.
Após um longo período de
aprendizado e treinamento numa escola corretiva, Tertuliano foi aprovado para
trabalhar no Plano Espiritual, como auxiliar numa legião entre as muitas que compõem
a Umbanda. Passou a ser denominado de Bará Longo, tendo este nome que o
identifica impresso no uniforme que ocupa, em vermelho, como um bordado
luzente, junto ao peito, logo acima do coração. Diz-nos que é somente um
identificador do tipo de tarefa, pois muitos outros assim também são
denominados, o que caracteriza a impessoalidade necessária à rígida disciplina da
falange de que faz parte, que está sob as ordens do Exu Guardião Pinga- Fogo.
Aceitou pelo exercício do seu arbítrio, a escala de trabalho que lhe
apresentaram. Hoje labuta como instrumento de combate à magia negra e aos
antigos comparsas do umbral inferior, auxiliando o Guia Vovó Maria Conga, do
Orixá Yorimá. Assim, Tertuliano evolui no Astral, sob a égide da Umbanda, como
um disciplinado Auxiliar, se fortalecendo para não fracassar na sua próxima
encarnação, pois novamente retomará como médium. Atua no meio mais vil e
rastejante que existe, no que podemos chamar de sombra da humanidade, que
conhece muito bem, aplicando seus vastos conhecimentos de magia em prol da
justiça cósmica, semelhante curando semelhante, o que está acima do bem ou do
mal como entendemos precariamente..."
(Origem:
Do Livro “Jardim dos Orixás” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do
Conhecimento)
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