Sabedoria Ramatis

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terça-feira, 23 de abril de 2013

O instinto animal e o psiquismo humano.








Conforme já vos dissemos, o perispírito é um efervescente aglomerado de energias que assumem rapidamente as mais inconcebíveis configurações, obediente à força do pensamento e ao desejo do espírito, ao passo que o pesado corpo de carne é como um biombo que, só depois de muito tempo, expõe ao mundo exterior as transformações definitivas da alma. Quando as emoções violentas explodem de súbito naqueles que ainda não possuem o controle evangélico sobre as paixões animais, elas produzem na aura os sinais flamejantes do relâmpago, ou centelhas ameaçadoras, em cores vivíssimas, que se ajustam hermeticamente ao conteúdo mental e às emoções descontroladas. Como o perispírito é um produto de milhares de séculos, tendo se caldeado lentamente desde as espécies mais inferiores, é óbvio que ele ainda possui em sua contextura a síntese atávica de todas as paixões, impulsos e instintos animais, que não só lhe forneceram o magnetismo criador, como ainda protegeram a sua configuração e os seus primitivos ensaios de ancestralidade biológica.

Os cientistas do vosso mundo têm elaborado exaustivos compêndios de anatomia, fisiologia, genética, zoologia e embriologia, nos quais tratam de todas as minúcias do corpo físico. Assinalam que os próprios segmentos de vários órgãos internos muito se assemelham a determinados aglutinamentos de formas embrionárias, como répteis, batráquios e aracnídeos, que mais parecem ter-se agregado disciplinadamente, para então se constituírem em vigorosos sistemas orgânicos do corpo humano.
Sob a mesma regra de hereditariedade física biológica, também há no perispírito um produto psíquico, como resultante de sua concentração energética nos planos interiores da vida, que possui algo da influência evolutiva dos próprios vermes, répteis e animais que contribuíram para formar o organismo instintivo do homem, apropriado ao desenvolvimento de sua razão. Indiscutivelmente, é bem grande a diferença de ação e instinto entre as próprias espécies animais: a raposa sobrevive requintando a sua astúcia inata; o leão, símbolo de lealdade animal, enfrenta o adversário em campo aberto; o tigre ataca traiçoeiramente e, farto, se retira; mas a hiena, cruel e vingativa, mata pelo simples prazer de destruir! E já se podem anotar diferenças de temperamentos psíquicos até no semblante do animal, pois há enorme distância emotiva no olhar nobre do cão inteligente e amigo, comparado à expressão cínica do olhar do macaco. Na própria raça ou espécie já diferem os estigmas que revelam a paixão interior; o cavalo ereto e fogoso, cujo olhar é inteligente convite para a galopada, não parece irmão do animal humilhado ao varal da carruagem, olhos no solo, já meio insensível ao chicote e entregue passivamente à sua sina. Cães nascidos da mesma prole revelam paixões diferentes entre si; há o valente que enfrenta o próprio homem, o covarde que foge do gato esquelético, o traiçoeiro que ataca sorrateiramente e o fleugmático, cujo sono ninguém perturba.
Essa dinâmica das paixões animais, que varia entre os próprios grupos racistas, é que comanda então os estigmas, assim como na licantropia o paciente chega a transformar a fisionomia pela ideia fixa de supor-se um lobo.


 
Do livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento

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