“Todas as figuras e minúcias expostas por Jesus em suas parábolas
devem ser examinadas sob carinhosa atenção, porque são mensagens definindo os
diversos aspectos e estados de espírito do homem, absolutamente relacionadas
com o "reino de Deus". Na parábola do "Semeador", desde o
início deve-se vislumbrar os dois elementos fundamentais e de grande
significação espiritual em sua enunciação verbal.
Primeiramente, distinguir-se o Semeador como símbolo do
homem pacífico, que lavra, semeia e produz, em vez de destruir ou prejudicar,
como é o lavrador laborioso. Mas além da presença do Semeador em sua atividade
criativa e útil à coletividade, Jesus também destacou o campo ou o terreno,
isto é, o local de atuação; enfim, a base onde opera o lavrador. Assim, o
Semeador configura em tal exemplo o tarefeiro do Senhor, que semeia a palavra
redentora e distribui o ensinamento libertador do mundo ilusório da matéria; o campo
simboliza a própria humanidade, com os vários tipos de espíritos, os bons,
podendo lembrar o terreno fértil, e os maus, o terreno pedregoso, e os
desatentos, a figura da semente que é comida pelos pássaros do esquecimento.
Nessa parábola, o Mestre Nazareno não valoriza nenhum
guerreiro revestido de armadura ou municiado com armas destruidoras, que possa
tingir de sangue a relva delicada das campinas ou pilhar os bens do próximo;
nem destaca o político do mundo que mistifica na semeadura demagógica, visando
ao seu exclusivo bem. Mas é o lavrador escolhido por símbolo do Semeador, que
lança a semente do Evangelho no campo das mentes humanas, aguardando
pacientemente as messes a frutificar no amor e na tolerância pela ignorância do
seu próximo.
Na linguagem figurada pelo Cristo-Jesus, as diversas
espécies de solo, em que foram lançadas as sementes da parábola, correspondem,
eletivamente, às várias graduações da alma humana, cujas variações são a
pureza, a inteligência, a ternura, e principalmente o espírito liberto de
preconceitos e eletivo à recepção da semente da verdade espiritual. O Mestre
distingue de modo sutil e, ao mesmo tempo, identifica o grau espiritual de cada
tipo de criatura, conforme a sua reação à semente que lhe é ofertada no
ensinamento do Evangelho. Não é difícil distinguirmos o terreno árido do
convencionalismo social, da pretensa cultura, da liberdade luxuriosa, ou do
fanatismo religioso, porquanto muitos são escravos exclusivos das
circunstâncias de sua educação, poder, fortuna, distinção social ou primarismo
anímico. Assim, certos grupos humanos reagem negativamente à atividade semeadora
do Senhor, por força do seu condicionamento educacional ou por temerem prejudicar
os interesses e destaques mundanos de uma falsa sociedade que dilapida a pobre
empregadinha mãe solteira, enriquece prodigamente explorando o assalariado, mas
atravessa a noite na jogatina desenfreada.
Em conseqüência, Jesus refere-se simultaneamente aos vários
tipos de terreno, os quais se prestam à semeadura do lavrador laborioso, na oferta
da palavra do Senhor. Mas, ao mesmo tempo e através das imagens semelhantes,
ele identifica os ouvintes diante da semeadura. Assim, o primeiro terreno é o
improdutivo, batido, pisado e impossível à germinação da semente, e corresponde ao tipo de ouvinte e
crente de censura rígida, apegado aos convencionalismos humanos, onde a semente
mensageira não penetra e, certamente, será facilmente arrebatada pelas aves, ou
seja, desprezada. A imagem simboliza o ouvinte cuja força condicionante ou
instintiva o impede de penetrar no ensinamento, e isso o torna incapaz de
entender a verdade. O espírito imantado pelo atavismo da carne só se influencia
pelos fenômenos objetivos e utilitaristas da vida material. É a criatura
moldada pelos padrões convencionais de um ambiente medíocre, cuja inteligência
não lhe permite uma liberdade de escolher ou porque erigiu a matéria como o principal
motivo do seu culto, por temer palmilhar sendas e caminhos desconhecidos, embora
verdadeiros.
É o terreno em que, pela composição química espiritual, falta a vitalidade
constitucional para a germinação da semente. Entretanto, às vezes ela permanece
e, subitamente, ante o "húmus" da dor, começa a germinar. É o solo
humano rígido comandado por um cérebro que não deixa penetrar a mensagem da boa
nova, salvo se trouxer no seu bojo algo de utilitário aos interesses humanos,
seja de projeção política, religiosa ou social.
No segundo caso, a semente brota, mas sem a raiz possuir
profundidade e a planta é tenra, e não cresce ou seca facilmente no terreno
rochoso e duro. Simboliza os ouvintes entusiastas da primeira hora, porém
criaturas volúveis e superficiais, portadoras de bons sentimentos, mas não
possuem firmeza nas convicções, por falta de uma boa estrutura psicológica, que
ajude a enraizar e aprofundar a semente recebida. Sem as raízes de uma cultura
"universalista" e adesão aos princípios profundos da vida eterna, não
encontra base para a sua fixação. É a flor do cáctus de uma vivência efêmera,
fruto das emoções passageiras das almas, infelizmente, vazias. Em tais personalidades,
a semente evangélica parece germinar com aparente vigor e impetuosidade no primeiro
instante de percepção, para depois se estiolar abruptamente, por falta de
interesses mais profundos pela vida verdadeira do Espírito Imortal. São os crentes demasiadamente
emocionais, cuja alegria veemente com algo que os entusiasma é rápida e
passageira, por falta de melhor estrutura mental ou estado evolutivo.
Falta-lhes a convicção da sabedoria que lhes aprofunde as raízes da semente em
germinação, pois ante a primeira intempérie fenece-lhes na alma a mensagem divina,
por ser fundamentada numa crença defeituosa e débil. São os crentes, cuja vida
não obedece aos ditames da palavra do Cristo, e, por isso, estiolam os arbustos
dos ensinamentos superiores por falta da seiva vitalizante de uma crença e fé,
que possa encarar a razão face a face.
No primeiro caso, a semente evangélica fica exposta no solo
duro, batido e pisado pelas atividades interesseiras do mundo material, e esta
camada estratificada torna-se inútil para a germinação. No simbolismo do
ensinamento de Jesus, é um terreno no qual a semente não penetra e exposta à
superfície é facilmente apanhada pela avidez das aves. No segundo exemplo, a semente brota, mas sem raízes e a planta
seca, não cresce, porque o terreno é rochoso, e abrange os ouvintes que, na realidade,
não passam do dito tão comum de "fogo de palha". São criaturas de
emoções passageiras e promessas insinceras, cuja crença superficial e sem
convicção nada vitaliza em torno de si. Finalmente, no terceiro trato de terra
a semente, então, penetra, germina e cresce; mas a planta que dali surge é asfixiada
pelos espinhos que medram simultânea e prodigamente em torno. Em resumo, no primeiro
trato de terra a semente não germina por causa de um solo pisado e
estratificado, impróprio para o cultivo e, apesar de brotar, fenece
desamparadamente. No terceiro, a semente penetra, germina e cresce, mas a
planta que surge é absorvida ou sufocada pelos espinhos agressivos e
destruidores.
Jesus então retrata, nesse terceiro exemplo, os crentes
capacitados para o "reino de Deus", mas cujo espírito ainda se perde
pelo apego aos bens terrenos ou divagam em raciocínios filosóficos estéreis.
Eles enfraquecem a fé, porque acendem ora uma vela a Deus, ora outra a Mamon.
Finalmente, surge o quarto exemplo na figura do bom terreno, que é fértil e dadivoso, no qual os ensinamentos cristãos
germinam e produzem messes fartas, por serem mentes de espíritos mais experientes
nas lutas reencarnatórias, e parcialmente libertos dos preconceitos de um mundo
primário e dominado pela efervescência do instinto animal. Abrange as criaturas
retas e boas, que aceitam o Cristo integrando-se completamente às normas evangélicas de libertação
espiritual, sem reservas e com absoluta sinceridade e fé. São os crentes que
revelam à luz do mundo uma vivência sadia, simples, serviçais, tolerantes e,
acima de tudo, fiéis nas suas ações para com o próximo e respeito para com os
princípios da vida espiritual.”
Ramatís – Do Livro: “O Evangelho
À Luz do Cosmo”