PERGUNTA: - Cremos que as palavras pronunciadas durante a prece
são de pouca importância e eficácia. Não é assim?
RAMATÍS: - As
palavras também se configuram na mente humana durante a prece porque lhes cabe
a função de expressar as idéias e os variados estados de espírito do homem,
embora os seus lábios não as pronunciem. A oração sem palavras
"pensadas" ou "pronunciadas" seria então o estado de
espírito do "samadhi" tradicional dos hindus. 4 No entanto, o homem só pode orar quando
parte de um motivo ou de uma idéia que ele associa a outras idéias mais ou
menos sublimes, até estabelecer em si mesmo um ritmo psíquico cada vez mais
ascendente.
4 - Nota do Revisor: "Samadhi" é um estado de espírito de
pura abstração e peculiar das almas santificadas. No Ocidente é conhecido pelo
"êxtase" dos santos.
Em conseqüência, o impulso inicial da oração também exige de vossa
mente a projeção de uma palavra correspondente à emoção, à ansiedade ou ao sentimento
que experimentais naquele momento, até configurar-se na vossa consciência. A
prece exige sempre um motivo, um elo ou ponto de partida, para depois
desatar-se na mente humana, quer seja a rogativa a Deus para restaurar o
espírito combatido, quer seja a súplica para amenizar o sofrimento da alma de
alguém falecido. Quando a prece se acende na intimidade da criatura, as
palavras também lhe afloram vivíssimas na mente, correspondendo às figuras, às
idéias e aos estados de espírito que ela vive naquele momento. Quer se trate de
uma prece endereçada a Jesus, a um santo católico ou guia espírita, o homem
quando ora tem de partir de algo já conhecido ou ideado na sua mente.
A prece maquinal, o recitativo displicente ou a ladainha
fastidiosa são inócuas, porque lhes falta no seio das palavras o sentimento
espiritual que faz a alma vibrar com a intimidade divina. E as preces
dramatizadas, compungidas ou exaltadas, também se anulam nessa exteriorização,
pois os recursos vulgares do mundo material transitório não possuem a força
grandiosa de sublimar o Espírito eterno. A pose mental no ato da prece é um
estado de fuga ou de liberação espiritual, em que a personalidade humana cede em
favor da individualidade eterna.
Às vezes, o sacerdote católico, o pastor protestante ou o
doutrinador espírita oram mediante longos gestos de súplicas e exclamações
comoventes, mais preocupados quanto à opinião pública do que mesmo à sua
comunhão espiritual com Deus. No entanto, um homem simples, analfabeto e
destituído dos recursos de oratória, porém, humilde e confiante no seu Criador,
pode obter facilmente os favores sublimes do Alto, em sua linguagem profana e
singela, porque trata-se de uma rogativa sincera, pura e sem interesse pessoal.
5
5 - Notado Médium: Estas palavras de Ramatís fazem-nos recordar um
conto sertanejo, humorístico, em que alguns sacerdotes católicos, pastores protestantes,
médiuns espíritas e adeptos esotéricos achavam-se impedidos de realizar uma
festividade campestre de confraternização, porque a chuva caía inclemente.
Então, os sacerdotes católicos, compenetrados e compungidos, fizeram comovente
apelo a Deus para cessar a chuva, mas sem obterem qualquer resultado. Em
seguida, os pastores protestantes também rogaram, sem resultado, a mesma graça.
Finalmente, os espíritas e os esoteristas recitaram enternecida
prece. Contudo, apesar da linguagem culta, o fraseado castiço e o tom
religioso, todos fracassaram, pois a chuva continuava a cair impiedosamente.
Então o caboclo humilde, que os hospedava, bastante pesaroso ante a desilusão
dos hóspedes, levantou-se, chegou à janela e olhando sério para o céu, exclamou
num tom de censura: "Ué, meu Pai? Mecê tá zangado hoje? Num quê pará a
chuva prôs coitados fazer sua festa?" Para espanto geral de lodos, eis que
a chuva cessou repentinamente.
Do livro: “ELUCIDAÇÕES DO ALÉM” Ramatís /Hercílio Maes – Editora
do Conhecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.