Nos atendimentos apométricos, muitas surpresas se reservam a nós. Enganam-se os trabalhadores que pensam ser suficiente decorar as leis da apometria e realizar o trabalho com amor. Constantemente os benfeitores espirituais nos apresentam situações diante das quais percebemos a grandiosidade dessa técnica, que, aliada ao Evangelho de Jesus, nos torna não somente instrumentos curadores, mas também magos manipuladores e transformadores de energias; situações estas que nos fazem perceber nossa pequenez diante da grandiosidade do Universo e desses comandantes que nos regem espiritualmente. Todos os dias, sob todos os aspectos, temos tudo a aprender, consolidando a realidade de que estar encarnado neste abençoado planeta-escola é uma oportunidade que não podemos desdenhar.
Naquela noite, após o atendimento normal da agenda, apresentou-se
a nós um espírito pedindo oportunidade para nos contar sua história. Ele estava
acompanhado por um preto velho, que já conhecíamos, pois era trabalhador da
casa. Pelo cordão brilhante que saía de sua nuca, deduzimos tratar-se de um ser
encarnado em desdobramento do sono, o que imediatamente suscitou dúvidas em
nossa mente acostumada a tudo interrogar: "Como poderia alguém encarnado estar
presente, se não havíamos solicitado pelos costumeiros 'pulsos energéticos' seu
desdobramento?". Captando a dúvida, o bondoso preto velho nos assegurou
que ele não estava ali para atendimento, e sim sob sua tutela para levar
aprendizado. Ligado ao médium, nosso amigo iniciou sua narrativa:
Encarcerado dentro de um corpo frágil e adoentado, além da
idiotia que me acomete no físico, sou uma espécie diferente aos olhos dos que
passam pela rua e me vêem sentado na porta de minha casa. "Coitado! Seria
melhor morrer", é comum ouvir essa frase. Ou, então, a mãe, passando com o
filho ligado a ela pela mão, naturalmente manifesta: 'Meu filho, se você não
obedecer, vou te entregar para aquele homem feio'. Outras vezes, mulheres grávidas
evitam me olhar para que seus bebês, que foram projetados perfeitos e
saudáveis, não venham a ser iguais a mim, uma bestialidade humana. Minha
consciência mais profunda está recebendo e percebendo tudo isso; porém, presa
dentro da cela que eu mesmo criei no passado, não pode reagir. Se sofro com
isso hoje? É inevitável. Se me revolto? Não, a minha consciência sabe que é um
mal necessário. Nas poucas vezes em que me é permitido "voar" para
longe deste corpo, eu já tenho caminho traçado. Vou me refugiar. nos braços de
Pai Tomé. Lá está ele, em sua humilde tenda, cantarolando ou assobiando,
enquanto mexe em suas ervas. Negro velho mandingueiro sabe quando chego, sente
minha presença e trata logo de sentar-se em seu toco, acender o pito e, com uma
risada gostosa, inicia a doutrinação. Conversamos por horas a fio e saio de lá
me sentindo gente, apesar de tudo. Não sei quando foi a primeira vez que o visitei.
Acho que na noite em que minha mãe foi àquele centro de umbanda, desesperada,
pois achou que daquela vez a convulsão iria me matar. Ele estava lá,
incorporado em outra pessoa, e deu-me seu "endereço". Hoje, a cada visita
que meu espírito faz ao bom negro velho, algo se modifica em meu corpo físico.
Já consegui deixar de babar constantemente, melhorando assim meu aspecto. Até
já sou capaz de chorar, sem fazer aquele grunhido horrível, vejam só! Tudo por
conta das mandingas de Pai Tomé, que, por saber de minha verdadeira história,
me auxilia com muito amor.
Do livro: “A Missão
Da Umbanda” Ramatís/Norberto Peixoto - Editora do Conhecimento.
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