PERGUNTA:
Poderíeis nos esclarecer, com algum
exemplo mais objetivo, quanto a essa influência do automatismo psicológico nos médiuns
anímicos?
RAMATÍS: Alguns médiuns, por exemplo, embora não sejam
completamente anímicos, deixam-se empolgar em demasia
pela vida dos apóstolos ou dos seguidores do Mestre Jesus, vivendo
impressões íntimas que, mais tarde, passam a
comunicar à guisa de manifestações mediúnicas daqueles que tanto admiram.
Os
grandes líderes, profetas, santos, escritores, artistas, governadores,
ministros e demais personalidades que se destacam no cenário do mundo material
exercem profunda impressão nos médiuns muito anímicos, fazendo-os rotular os
seus próprios guias com esses nomes tão em evidência na história religiosa ou
literatura profana. Outros, devido à excessiva imaginação muito ativada na sua
mocidade, quando
se deixavam arrebatar pelos romances de aventuras decalcados da história, vivem
no transe mediúnico
essas impressões excitantes e que se sobrepõem, às vezes, à identidade e ao
assunto dos espíritos
comunicantes.
O
Egito dos faraós, a Grécia dos filósofos, a Itália dos doges e dos césares, a
França dos aventureiros de capa e espada, ainda vibram com forte vitalidade na mente
da maioria das pessoas e, portanto, dos médiuns. Principalmente a
França exerceu forte influência na alma dos leitores de aventuras;
os personagens mais célebres de sua história ainda se movem na sua retina,
emoldurados pelo vulto da Notre Dame, do Sena, da praça da Greve, do pátio dos
milagres, das tabernas de Paris ou à sombra da tétrica guilhotina.
Os guardas de Richelieu ou de Mazzarino, em luta acirrada com os mosqueteiros
do Rei, através das páginas de Dumas, ainda lançam o fulgor das espadas ou o
brilho dos seus punhais na memória dos leitores mais emotivos. No período
monárquico alinham-se em fila Luiz XIV e Luiz XV, Catarina e Maria de Médicis,
La Vallière, Du Barry, Pompadour, Maria Antonieta ou os Guise. A República
surge recortando as figuras de Robespierre, Napoleão, Marat, Danton, Fouché, Madame
Roland, Delfin de França, Desmoulin e outros. O automatismo psicológico, ou
personalismo, que domina profundamente na subconsciência do ser, estratifica
com o tempo as imagens mais simpáticas e que produziram maior impressão nas
criaturas sugestionáveis, fazendo-as emergir por associação de idéias ou devido
ao clima psíquico adequado.
E
o médium anímico, muito indisciplinado em suas emoções e entontecido pelas
imagens que bailam na sua mente descontrolada, não tarda em transferir para o
ambiente espirítico as personalidades que mais o impressionaram na existência,
dando-lhes vida triste, heróica ou desafortunada. Através de supostas comunicações
mediúnicas do Além, os personagens exaltados nos romances aventurescos e de
fundo histórico ainda continuam a se manifestar com insistência em certos
trabalhos mediúnicos, impondo as mesmas características que há séculos deveriam
ter possuído em vida. Aqueles que a história romanceada os descreveu heróicos,
benfazejos ou despreendidos,"baixam" nas sessões espíritas a cumprir
missões elevadas e que condizem perfeitamente com o seu caráter e temperamento
tradicionais. Mas os que a pena do escritor os retratou tiranos, cruéis,
falsos, maquiavélicos ou cúpidos também se apresentam nas sessões espíritas
corroídos pelo remorso ou pelas dores, ou então jurando vingança e prorrompendo
em ameaças contra os que pretendem doutriná-los.
Os
vultos trágicos da Revolução Francesa só no território brasileiro já foram
doutrinados dezenas de vezes, pois determinado número de médiuns ainda não
conseguiu libertar-se completamente da fascinação exercida na sua mente pelas
leituras românticas e históricas, cujos personagens excitam-lhes a memória e
interferem animicamente nas comunicações dos espíritos, impondo-se, por vezes,
com foros de profunda realidade.
Do
livro: “Mediunismo” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.
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