Sabedoria Ramatis

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sexta-feira, 29 de junho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO lV






PERGUNTA: Há veracidade nos relatos evangélicos de que Jesus também foi vilipendiado mesmo depois de pregado na cruz?


RAMATÍS: Do alto da cruz Jesus circundou o seu olhar terno e amoroso sobre as criaturas que se achavam dispersas pelo cimo do Gólgota, procurando rostos amigos e entes queridos.
Finalmente identificou Madalena, Salomé e Joana de Khousa; João, o querido discípulo, e seu irmão Tiago, sempre paciente e entusiasta; Marcos, corajoso e decidido; Tiago, maior, o fiel amigo. Mais além, quase atingindo o cimo do monte, chegava Pedro, cujo vulto alto e robusto parecia apoiar-se em seu irmão André; a seu lado, Sara e Verônica amparavam Maria, a infeliz mãe, que retornava ao Gólgota, depois de socorrida pela terceira vez dos seus desfalecimentos cruciantes ante o martírio do filho querido. Aquele quadro afetivo enfeixando as imagens dos seres que tanto ele tinha amado na sua jornada terrena; que, pouco a pouco, venciam o temor humano e vinham se juntar ao pé da cruz incendidos pela força da vida espiritual, satisfez Jesus e o encheu de regozijo. A sua morte e seu sacrifício já não seriam inúteis, pois as almas que escolhera para transmitir as suas idéias à posteridade, agora se comunicavam entre si e se agrupavam pela força coesiva dos pensamentos e dos sentimentos evangélicos, assim como as ovelhas, dispersas pela tempestade, depois se reúnem novamente sob o carinho do seu pastor!
Mas, de súbito, Jesus foi interrompido no seu devaneio consolador pelos gritos, chalaças e escárnios dos infelizes agentes de Caifás, que antes de se retirarem do Gólgota ainda procuravam arrematar a sua ignomínia com gestos de indiferença selvagem, para agradarem aos seus chefes vingativos. Acossados pelos espíritos das trevas, sarcásticos e despeitados pelo triunfo indiscutível de Jesus, eles desceram à vileza de um humorismo tão negro como suas próprias almas!
Desce da cruz, ó Filho de Deus! Chama teu Pai para te livrar do suplício! Guarda-me um lugar no teu reino! Para onde fugiram as tuas legiões de anjos? Salva o Rei dos Judeus no seu trono da cruz! Desce da cruz, salva-te primeiro e nós seremos teus crentes!
Enquanto riam fazendo gestos de deboche, Jesus pousou-lhe o olhar compassivo e resignado, fitando-os sem ressentimento, inclusive aos soldados que, às vezes, riam das zombarias dos esbirros de Caifás. Imensa ternura invadiu-lhe a alma, vibrando sob o mais puro e elevado amor; novamente o seu olhar claro e expressivo, repleto de poderoso magnetismo angélico, então resplandeceu num fulgor majestoso, envolvendo aqueles seres tenebrosos num banho purificador e balsâmico, que os fez estremecer tocados pelo remorso e os fez silenciar. Após aquela transfusão de luz e amor, que tributou aos seus próprios algozes, abrindo-lhes o coração para um entendimento mais feliz da vida espiritual, Jesus ergueu os olhos para o alto e a sua voz suave e misericordiosa então se pronunciou vibrando ditosa no holocausto de sua própria vida:
"Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem!' (4)

(4) Lucas, XXIH — 34.


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

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