Sabedoria Ramatis

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terça-feira, 26 de junho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO ll






PERGUNTA: E que dizeis das cenas relatadas pelos evangelistas em que Jesus foi alvo de cruéis zombarias e insultos, por parte dos soldados romanos? (1)



RAMATÍS: Realmente ocorreram algumas cenas degradantes contra o Mestre Jesus no pátio da prisão romana, mas não se ajustam à descrição melodramática dos evangelhos. Os legionários romanos, como prepostos de Pôncio Pilatos, eram produtos de férrea disciplina de três anos de trabalho consecutivo e preparo guerreiro; homens corajosos, altivos e decididos, embora rudes e impiedosos. No entanto jamais desciam ao espetáculo circense de cuspir e esbofetear os prisioneiros, pois mantinham certo decoro nos seus atos e tudo faziam para não mancharem a sua dignidade de "homens superiores"!

Quando Jesus foi recolhido ao pátio da prisão situada a poucos passos do Pretório, diversos simpatizantes e amigos o seguiram; os mais sensíveis choravam por vê-lo preso e outros lançavam seus protestos contra o crime de condenarem o generoso rabino que só pregava o amor e a paz. Mas a turba de mercenários contratada pelo Sinédrio e acicatada pelos acólitos de Caifás, impedia propositadamente qualquer manifestação de simpatia ao prisioneiro Jesus, que ainda não havia perdido a estima do seu povo. Mas Ele não foi humilhado pelos legionários do governador, conforme diz Mateus (XXVII — 27), sofrendo toda sorte de zombarias, insultos, escárnio e maus tratos. Isso aconteceu por parte da criadagem ínfima, de alguns servos e escravos da comitiva d Pilatos, e que, por ser hora de refeições, ali descansavam e eram vezeiros em tais empreendimentos sarcásticos. Infelizmente, a maioria se compunha de hebreus mercenários, desses apátridas que buscam prestígio ante os seus próprios donos ou capatazes, embora tenham de tripudiar vilmente sobre os próprios patrícios. Alguém apanhou um pedaço de pano vermelho, que ali servia para os soldados jogarem dados, e o colocou nos ombros de Jesus, enquanto outro lhe punha uma cana entre as mãos, á guisa de um cetro real. Não satisfeitos, ainda arrancaram galhos finos de um pé de vime adjacente e o trançaram na forma de uma coroa, aliás, sem espinhos, que puseram sobre a cabeça do Mestre. Divertiram-se todos durante alguns momentos cruzando à frente do rabi, fazendo mesuras e saudando-o à conta de um rei; um mais sarcasta puxou-lhe a barba, obrigando-o a acenar algumas vezes com a cabeça em resposta às suas petições zombeteiras. 
Os legionários romanos postados ali por perto, riam-se, sem dúvida, talvez sugerindo alguma chalaça; mas nenhum deles participou daquelas cenas grotescas, cousa que ainda no vosso século costuma acontecer a muitos inocentes vítimas de semelhantes trocistas ignóbeis. Momentos depois, homens e mulheres, autores da farsa infeliz, desapareceram para atender às suas obrigações, enquanto Jesus ficava a meditar no opróbrio de receber as piores afrontas e crueldades por parte dos seus próprios patrícios, em vez de sofrê-las somente de seus adversários. Mais uma vez ali se provava o velho ditado, ainda hoje conhecido, de que "a pior cunha é sempre aquela que sai da mesma madeira"!


(1)João, XXIX — 1 a 3; Mateus, XXVII — 26 a 31.



(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

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