PERGUNTA:
Jesus foi
realmente flagelado? Temos compulsado obras que desmentem esse relato dos
evangelistas, considerando que seria demasiada perversidade e contrária à ética
dos romanos flagelar um condenado à sentença de crucificação!
RAMATÍS:
Por que Jesus não poderia ser flagelado, se o
condenaram ao suplício mais atroz e infamante, como a morte na cruz? Os
castigos corporais eram de hábito comum entre os romanos; o chicote, um símbolo
do seu poderio sobre os povos vencidos, e a flagelação, embora fosse um método
bárbaro, consistia num corretivo tão comum entre os próprios concidadãos de um
mesmo país, como o velho regime da palmatória sob o jugo do mestre-escola. E
isso não poderia ser diferente naquela época, em que as qualidades cristãs
ainda eram embrionárias na humanidade. Aos romanos pouco lhes importava a
distinção entre os prisioneiros vencidos ou escravos, pois não lhes minorava a
pena e o tratamento o fato de serem pobres, ricos ou cultos, mas qualquer
reação do vencido punia-se pelo primeiro capataz ou soldado que se sentisse
irado ou ofendido por qualquer resistência alheia.
O chicote descia sem
cessar nas carnes dos infelizes escravos, que deviam dar o máximo de suas
energias para o bem de Roma. Quando caíam esfoliados ou imprestáveis, os seus
algozes os matavam impiedosamente ou então os deixavam apodrecer ao relento e
sem qualquer assistência. O burro de carga que
hoje trafega pelas ruas das cidades amparado pelas sociedades protetoras dos
animais, vive em melhores condições do que o ser humano que era cativo dos
romanos.
Malgrado o nosso sentimentalismo e a preocupação de resguardarmos a cultura de Roma, o certo é que os romanos ainda não revelavam
virtudes tão elogiosas, que os fizessem tratar com ternura ou tolerância os
rebeldes ou prisioneiros obstinados. O chicote não levava endereço certo; era
um modo de manter a memória dos vencidos sempre alerta para o poder e a glória
de Roma. Jesus não passava de um judeu culpado de subversão pública, e agravado
pela condenação do Tribunal Religioso dos seus patrícios, por cujo motivo seria
passível da flagelação habitual a todos os condenados. Embora condenado ao
suplício da cruz, nem por isso devia ser poupado do azorrague, como a
preliminar tradicional de qualquer punição. No entanto, devido à sua excessiva
fraqueza e estado enfermiço febril, o "lictor" vergastou-o de leve,
por três vezes apenas, usando o chicote feito de tiras de couro cru, mas sem as
pontas de chumbo ou de ossos que arrancavam pedaços da carne.
(Do Livro: “O Sublime
Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)
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