PERGUNTA: —
Poderíeis citar algum caso em que, embora estando a alma em reencarnação
inferior, pode-se provar que a sua natureza espiritual não baixou de nível?
RAMATÍS: A prova
de que o espírito mantém a sua consciência integral do pretérito, mesmo sob
qualquer deformação física ou situação deprimente na matéria, está nas
experimentações de hipnotismo, quando determinados pacientes, submetidos à
hipnose, revelam pendores artísticos, senso intelectual ou conhecimentos
científicos que lhes transcendem fortemente a personalidade comum conhecida.
Quantas
vezes o camponês, inculto, depois de hipnotizado, se expressa corretamente em
idioma desconhecido, revela uma inteligência superior ou uma individualidade
elevada! É uma bagagem de produtos elaborados nas vidas anteriores, que emerge
superando a provisória condição a que o espírito se ajustou, devido a ter
exorbitado da sua inteligência ou do seu poder no passado.
A roseira
de qualidade, quando plantada em terreno impróprio, embora reduza o perfume de
suas flores ou se atrofie na sua formosura vegetal, revelará novamente a sua
plenitude floral assim que a replantem em terreno fértil. Sob idênticas condições,
a alma inteligente não perde a sua consciência espiritual já estruturada nos
evos findos, mesmo quando privada de todas as suas faculdades de expressão no
mundo de formas; ela apenas fica ofuscada e restringida na sua ação mental. A ausência
das pernas, no aleijado, não lhe extingue o desejo de andar, nem mesmo esse
desejo se enfraquece; é bastante que lhe ofereçam pernas ortopédicas e ele tudo
fará para reconquistar a sua antiga mobilidade, provando a permanência da sua consciência
diretora do organismo.
PERGUNTA: —
Gostaríamos de compreender, então, através de qualquer exemplo elucidativo,
como é que espíritos mais evolvidos em ciência, arte, filosofia e senso
religioso, como muitos da Terra, poderão ajustar-se com êxito no corpo grosseiro
e letárgico dos homens primitivos.
RAMATÍS:
Concordamos em que os exilados terrícolas possam ser mais evoluídos em
conhecimentos científicos, artísticos, filosóficos ou religiosos e, naturalmente,
já possuam certos requintes de civilização, mas não concordamos quanto aos seus
sentimentos, porquanto a maioria deles ainda está bastante enquadrada no
temperamento passional do homem das cavernas. O acadêmico que mata o seu
desafeto com um punhado de balas despejadas de artística pistola de prata, nem
por isso merece melhor tratamento do que o bugre que esmaga o crânio do seu
adversário sob o golpe de massudo tacape. Enquanto o civilizado é mais responsável
pelo seu ato, porque já compulsou compêndios de moral superior e não pode
ignorar os ensinos do Cristo, o selvagem é menos responsável, porque só aprendeu
que a sua glória e o seu valor aumentam na proporção do número de crânios
amassados...
Entre o
ladrão que arrisca a vida para furtar uma galinha e o eleito do povo que
esvazia os cofres da Nação com a gazua da caneta-tinteiro, o primeiro merece mais
respeito e admiração; porque o seu roubo possui algo de heróico e não se protege
com as garantias oficiais do Direito subvertido pelos mais poderosos! É possível
que haja mais cultura no cérebro do bêbado de fraque e cartola, consumidor do
uísque importado, do que no do homem primitivo, que grita estentoricamente
depois de uma carraspana de milho fermentado; mas, quanto às condições morais e
à natureza espiritual, o selvagem é, pelo menos, mais inocente, porque ninguém
o fez compreender o ridículo e a estupidez da bebedeira.
É
suficiente abrirdes as páginas do jornal cotidiano, para verificardes quantas criaturas
alfabetizadas, membros de associações desportivas e culturais, clubes filantrópicos
e credos religiosos, detentoras de prêmios de oratória, bolsas de estudo e
senso artístico, ou condecorações de mérito, famosas pela frequência aristocrática
aos clubes chiques, distintas pela educação esmerada, "elegantíssimas no
seu trajar", como as situam melifluamente os lugares comuns da imprensa social,
caluniam, envenenam, esfaqueiam e fuzilam esposos ou esposas, irmãos, parentes
e até mesmo os progenitores! Esses espíritos, aparentemente evoluídos, que
ainda conseguem evitar o cárcere onde geme o infeliz ladrão de galinhas, deixam-se
fotografar trajando finíssimos pijamas de seda e ostentam calculados sorrisos
fotográficos. É natural que a sua elegância, cultura e cientificismo, apreciados
na Terra, sejam argumentos contra a pseudoinjustiça do exílio para o planeta
inferior; entretanto, sob o nosso fraco entender, lamentamos antes, e
profundamente, a sorte do homem das cavernas, que terá de receber esses
espíritos "cultos" em seu "habitat" rude, mas profundamente
honesto!
Na
realidade, os exilados da Terra serão aqueles que perderam os pelos, mas não
evoluíram do animal para o homem, estando vestidos com trajes modernos, mas em
discordância ainda com a sua índole, no vosso orbe. Esses, sob o imperativo da
lei natural, deverão voltar a empunhar o velho tacape e a devorar vísceras sangrentas,
cruas, embebedando-se com o milho fermentado, em lugar do conhaque ou do
uísque. Não se trata de punição, mas de uma devolução natural e lógica, em que
os "homens das cavernas", desajustados na Terra, serão encaminhados
ao seu verdadeiro ambiente psicológico.
A
emigração ser-lhes-á de imenso benefício nesse outro planeta, no qual deverão
sentir a euforia do batráquio devolvido à sua lagoa. Ao homem pacífico e evangelizado,
que cultua a ordem e a estabilidade espiritual na Terra, é imensamente
prejudicial que aumente a progénie dos homens das cavernas, habilmente
disfarçados sob os trajes elegantes, o desembaraço oral e o volumoso arquivo
literário ou científico, mas ainda famélicos de banquetes, de embriaguez elegante
e de fortunas fáceis. As suas armas, demasiadamente aguçadas pelo intelecto,
superam geometricamente o coração e, assim, criam desatinos e discrepâncias no
vosso mundo, já em vésperas de promoção espiritual. Eles são egocêntricos e
descontrolados, instintivos e ambiciosos, e vivem repletos de cupidez pela
mulher do próximo; quando se centralizam nos seus mundos de negócios, idealizam
planos argutos favoráveis exclusivamente à parentela e a si mesmos; semeiam
intrigas políticas e criam trustes asfixiadores; favorecem a indústria do
álcool, mas dificultam a produção do leite e do pão. Significam perigosa horda
de selvagens vestidos a rigor, que galgam posições-chaves na sociedade e na
administração pública, mas, enceguecidos pela volúpia do ouro e do prazer, não
trepidam em armar as mais cruéis e astuciosas ciladas, que deixam verdadeiramente
boquiabertos os seus irmãos peludos, das cavernas!
Mas a Lei,
justíssima e boa, disciplinadora e coesa no mecanismo evolutivo, termina
afastando-os da rápida experiência prematura na civilização, e os coloca outra
vez no seu verdadeiro "habitat", onde se afinam melhor à psicologia
do irmão vestido com as peles naturais!
DO LIVRO: “MENSAGENS DO ASTRAL”
RAMATÍS/HERCÍLIO MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.