Sabedoria Ramatis

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segunda-feira, 20 de maio de 2013

POR QUE JESUS TERIA DE NASCER NA JUDÉIA?











PERGUNTA: Jesus teria que nascer fatalmente na Judéia, para ter bom êxito na sua missão redentora? Porventura não existia, na mesma época, algum outro povo que, espiritual e psicologicamente, pudesse servir para o mesmo objetivo?



RAMATÍS:  Desde que a Administração Sideral reconhecesse, em qualquer outro povo, qualidades e até os defeitos peculiares do judeu, é óbvio que Jesus não precisaria se encarnar em Israel. Mas a Judéia e os hebreus, embora considerados na época "uma coleção desprezível de escravos" (1), por seus costumes, por sua fé religiosa e capacidade de adaptação a todos os misteres da vida, é que realmente ofereciam as condições psicofísicas eletivas para o melhor sucesso da missão salvacionista do Messias. Aliás, o Velho Testamento sempre c considerou o povo eleito para o advento do Messias; e o próprio Moisés, no monte Sinai, ao unificar a revelação espiritual para um só Deus — Jeová — lançou as bases preliminares do Cristianismo!
Isso aplainou o caminho para o Mestre Jesus consolidar sua obra, dispensando-o do espinhoso trabalho de fundir diversos deuses pagãos numa só unidade, como ele depois pregaria através do seu sublime Evangelho. É óbvio, portanto, que só uma raça estoica, ardente e fanática em sua crença religiosa monoteísta seria capaz de corresponder ao convite espiritual de Jesus, sem qualquer resistência ou sarcasmo à encantadora mensagem da "Boa Nova" e do "Reino de Deus"! O judeu traz o seu sentimento à flor da pele e vive mais pela fé do que pelo raciocínio, embora seja instintivamente muito sagaz para negócios e especulações da vida humana. Mas, em questão de crença e de devoção, ele pouco indagava dos motivos que o mandavam proceder deste ou daquele modo com o seu Deus. A sua fé inata não pedia explicações intelectivas; ele cria e obedecia cegamente naquilo que transcendesse o seu mundículo de atividades humanas. Por isso, Jesus encontrou o caminho aberto para a sua predica evangélica entre os judeus, sem precisar destruir o antropomorfismo de Jeová, sem alterar as legiões angélicas, sem desmentir os velhos patriarcas e profetas do Antigo Testamento. Ele viera iluminar, ou ampliar os próprios ensinamentos de Moisés e torná-los mais amenos quanto à sua responsabilidade moral. Substituía o conceito pessoal e punitivo de "olho por olho e dente por dente", pela condição cármica de "quem com ferro fere com ferro será ferido", na qual Deus não castiga, mas é a própria criatura que se pune dos seus pecados, aceitando, espontaneamente, os mesmos efeitos das causas perniciosas movimentadas no passado. Jeová, sob o toque sublime dos ensinos de Jesus, tornava-se mais tolerante, terno e compassivo, diminuindo suas exigências demasiadamente humanas. Isso atendia às simpatias dos galileus, que eram considerados gentios ignorantes dos formalismos religiosos, e que aceitavam, sem protestos, a nova versão de Jeová, distanciando-se cada vez mais das seitas religiosas e dos bens do mundo. Mas os fariseus, embora sem qualquer temor dos ensinamentos daquele rabi da Galiléia, perceberam que se enfraquecia a virilidade doutrinária de Moisés. E a perigosa desumanização de Jeová poderia trazer sérios prejuízos aos cofres do Templo! Daí por diante, eles passaram a vigiar Jesus e recear os efeitos de suas ideias desagregadoras na comunidade dos galileus.




PERGUNTA:  Jesus também não poderia comprovar sua missão, encarnando-se entre outras raças, que, igualmente, adoravam a Divindade e rendiam-lhe cultos religiosos? Que lhe parece?


RAMATfS:  Não é somente o culto religioso, a devoção pobre ou fidalga, mas acima de tudo importa distinguir, num povo ou raça, qual o sentimento que o anima nessa crença religiosa. Há cultos religiosos de natureza profundamente racionalista ou excessivamente interesseiros, que se devotam a diversos deuses. A missão de Jesus, em seu início, e acima de tudo, pedia "sentimento puro", fé inabalável, humildade absoluta e certa ingenuidade dos seus simpatizantes, a fim de cimentar-se rapidamente, sem discussões estéreis, especulações fatigantes ou. Dúvidas mortificantes. Tendo seu início nas raízes mais profundas do coração humano, só a valorização imediata de sentimentos e de emoções quase infantis poderia sustentar o Cristianismo no seu berço, até aliciar, mais tarde, os testemunhos próprios dos intelectos mais desenvolvidos. Hoje, o Evangelho é, sem qualquer hesitação, uma doutrina respeitada pelos cérebros de maior cultura filosófica e científica do mundo, considerado um poema de beleza e um tratado de libertação do espírito aguilhoado à animalidade biológica. Raros homens puderam entender quantas dificuldades Jesus encontrou nos primeiros dias de sua pregação doutrinária, quanto ao seu cuidado para que fosse afastada e superada qualquer excrescência do mundo. Os próprios espíritas de hoje podem avaliar esse zelo de Jesus para manter a pureza iniciática do Cristianismo, pelo esforço que também fazem para evitar que o Espiritismo codificado sofra as deformações, os ridículos das práticas supersticiosas impróprias à sua mensagem de libertação espiritual.
Por isso, Jesus teve de recorrer exclusivamente aos homens brutos, ignorantes e intempestivos, porém simples, francos, humildes e sinceros em suas emoções, como foram os apóstolos. Eles jamais contestavam os ensinos do Mestre, nem lhe opunham as conclusões próprias dos malabarismos do intelecto. Bebiam as palavras que lhes eram transmitidas noticiando o "Reino de Deus" e criam cegamente naquela mensagem de ternura e esperança infinitas! Assim, foram eles o cimento vivo que solidificou os fundamentos do Cristianismo, até se tornar resistente e imune às influências dos credos pagãos da época e às distorções religiosas. próprias das falsas interpretações pessoais.
Devido ao seu fabuloso conhecimento sobre a psicologia da alma humana, Jesus sabia dos prejuízos que sua obra sofreria, caso recorresse, de início, ao intelecto dos homens em vez de falar-lhes ao coração. Os seus primeiros discípulos teriam de ser criaturas descomplexadas, com emoções à flor da pele, tal qual as criancinhas, "porque, delas é o reino dos céus". Artista Divino, trabalhando há dois mil anos com material tão deficiente como o pescador, o camponês, o publicano e a prostituta, Jesus esculpiu na carne humana as figuras monumentais de um Pedro, João, Mateus, Tiago, Timóteo, Madalena e outros! Só depois que o coração dos simples consolidou a base do Cristianismo é que o Alto então recorreu mais propriamente ao intelecto, chamando ao movimento libertador cristão a figura de Paulo de Tarso. Mesmo José de Arimatéia, Nicodemos e Gamaliel, homens de cultura e de relevo na época, gozaram de certas credenciais junto ao Mestre, porque, simpáticos à doutrina dos essênios (2), já eram humildes de espírito.
Sem dúvida, empolga-nos reconhecer que a mesma doutrina, cujas bases Jesus assentou na rudeza e simplicidade de um Pedro, na sublimação de Madalena e na sinceridade do publicano Mateus, mais tarde,' gerou um Agostinho, discípulo apaixonado de Platão e cuja eloqüência, ao expor a Teologia Cristã, abalou Roma e Cartago; ou ainda, o maior filósofo da Igreja, como é Tomás de Aquino, um dos maiores gênios da Idade Média na propaganda do Catolicismo. Mas prevendo também o perigo do intelecto desgarrar-se em demasia e depois formalizar o Evangelho acima do coração humano, aristocratizando em excesso o clero responsável pela idéia cristã, o Alto recorre então ao mesmo espírito que fora o apóstolo João, e o faz renascer, na Terra, para viver a figura admirável de pobreza e renúncia de Francisco de Assis! Assim, o calor cordial do sentimento purificado e a abdicação aos bens transitórios do mundo, vividos pelo frade Francisco de Assis, reativaram novamente a força coesiva e poderosa que cimentou as bases do Cristianismo nas atividades singelas de pescadores, camponeses, publicanos e gente de mau viver! Na comunidade da própria Igreja Católica, transformada em museu de granito e mármore, cultuando as quinquilharias de ouro e prata entre a púrpura e o veludo dos sacerdotes, o Alto situou Francisco de Assis, convidando todos os eclesiásticos à volta ao Cristo-Jesus da simplicidade, da renúncia e do amor! Infelizmente, só alguns raros espíritos que movejam no seio do Catolicismo entenderam o divino chamamento e, realmente, passaram a viver os preceitos puros do Cristianismo nascido à beira do mar da Galileia!
No entanto, imaginai Jesus tentando alicerçar sua mensagem monoteísta entre a versatilidade dos deuses pagãos da Grécia, dos povos bárbaros da Germânia, dos fanáticos da Gália, dos espanhóis agressivos, dos selvagens da África, dos feiticeiros da Caldéia ou das castas orgulhosas da índia massacrando o pária infeliz? Sem dúvida, o Mestre fracassaria atuando no seio dessas multidões rústicas, fanáticas, irascíveis e politeístas, que se dividiam em castas de sacerdotes e párias.



(2) Nota do Revisor:  Essênios ou Terapeutas, cuja fraternidade perde suas raízes além das civilizações já conhecidas.
  


Do livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes.

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