PERGUNTA: O que é
"arriar" uma oferenda? É só colocar no chão de terra batida ou na
encruzilhada da via urbana?
RAMATÍS: - Os
antigos sacerdotes negros dos clãs tribais, iniciados e hábeis manipuladores
das energias ocultas do planeta, entendiam que todo o trabalho que tinham para entrar
nas florestas, escolher e separar as folhas, macerá-las para retirar o sumo,
localizar flores às margens de cachoeiras e riachos, frutas e raízes nas matas seria
inválido se não fosse bem "arriado" na natureza. Na cosmogonia das
religiões africanistas, especialmente a iorubá, o ato de "arriar" uma
oferenda estabelece e perpetua uma troca de força sagrada entre dois mundos: o divino
oculto e o profano visível; tudo é energia e tem mais afinidade com este ou
aquele orixá.
Essa energia deve estar sempre em movimento em ambos os
sentidos: entre o plano concreto material e o invisível-astral. Assim como a
água em seu ciclo sucessivo de chuva, evaporação, resfriamento e degelo, a
dinâmica de transferência energética é considerada essencial e parte da vida.
Está claro que nenhuma oferenda supera a fé e a confiança no
Divino que jaz dentro de cada criatura. O ato de amor à natureza, e que
ocasiona o sentimento de caridade, auxílio ao próximo e preservação da vida
animal, difere em muito da busca do "divino" em favorecimento próprio,
disposição solitária e egoísta fundamentada na matança dos irmãos menores do
orbe que servem de repasto não a espíritos de luz, mas a entidades que precisam
da vitalidade fluidificada pelo sangue e "arriada" nas encruzilhadas
de ruas urbanas para continuarem plasmando suas cidadelas de prazer no além-túmulo.
Contudo, atentai que muitos dos cidadãos que se enojam
diante dos despachos nas esquinas, quando vão, ainda durante a manhã,
sonolentos em deslocamento para o trabalho, sentindo-se superiores aos
"crioulos" atrasados, em seus encontros semanais nos centros
assépticos louvando hosanas ao senhor, esquecem-se de que perante a
equanimidade do Incriado (o Deus único) o bife acebolado sobre a mesa também
foi um inocente porquinho, vaca ou javali, morto pelo ser humano para encher a
barriga de outros de sua espécie. O ente que come não é menos responsável perante as leis universais que aquele que mata.
Embalados em caixas coloridas que hipnotizam a mente diante
das prateleiras dos mercados perfumados, com funcionários sorridentes, o mesmo
acontece com o empanado de frango, o hambúrguer e a salsicha do
cachorro-quente, todos mastigados para saciar a fome animalesca dissimulada dos
homens civilizados.
(Origem: “A Missão Da
Umbanda” Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)
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