PERGUNTA: Já escutamos
dirigentes espirituais afirmarem que o médium se encontra desarmonizado porque
não está cuidando do "santo" adequadamente. O que significa a
expressão "zelar pelo 'santo' assentado", e quais os motivos por que
isso exige tantos rituais e tempo dos terreiros ligados às praticas mágicas
populares?
RAMATÍS: - Existe
uma relação de dependência dos seres humanos iniciados nessas práticas mágicas
populares: têm obrigação de estar permanentemente refazendo as oferendas e os sacrifícios
na busca dinâmica, mútua, de renovação da força (axé). Ou seja, é um sistema de
oferta e devolução mecanicista, de dar e receber, com o objetivo de se
harmonizar com o suposto "orixá" de cabeça, que, por sua vez, foi
assentado com raspagem e incisão no alto do chacra coronário, tendo como
princípio energético catalisador o sangue quente, repleto de vitalidade animal.
Este serve para a fixação vibratória de entidades que se apropriam da
inteligência, motricidade e ideação do médium (glândula pineal), tendo com ele
uma relação individual, potencializada artificialmente, como se fossem
hospedeiros, e culminando nos transes e nas catarses ritualísticas.
Esse "acasalamento" fluídico, para manter o equilíbrio,
fundamenta-se num sistema perpétuo, durante a vida encarnada e posteriormente
desencarnada, de dar e receber. Esquece-se muito facilmente que a ritualística exterior
e os pactos fundados em iniciações não
demonstram os compromissos ocultos atemporais que reverberam no espírito por
uma "eternidade". Quem oferta sangue quente hoje será o ofertado de
amanhã, ambos chumbados na crosta e escravizados à vitalidade propiciada pelas
matanças animais.
Para conseguir a renovação da força e a proteção do suposto
"orixá", o iniciado deve revitalizar e dinamizar o fluxo de axé, por
meio dos incontáveis sacrifícios votivos e festins de comilanças. É um pacto de
interdependência, uma vez que o dito "orixá" , na verdade um ou mais espíritos
densos imantados ao médium, necessita de vitalidade animal para se fortalecer,
e, ao mesmo tempo, oferecer em troca seus agrados ao medianeiro. Assim, o
mimam, arrumam namorada, emprego, retiram os inimigos do caminho, aumentam os
prazeres carnais, entre outras facilidades da vida mundana, protegendo e
mantendo em boa situação os repastos vivos e todos aqueles que mostram
fidelidade regular quanto aos sacrifícios e oferendas prescritas pelo pai-de santo.
Esse pacto é uma via de mão única, e a vontade do
"iniciado" nada vale se ele não cumprir os preceitos para zelar com
seu assento vibratório, já que os elementos que servem como
condensadores energéticos devem ser renovados
freqüentemente, pois perdem, por fadiga fluídica, a capacidade de fornecer os
tão almejados eflúvios etéreos que servem de alimento vital para as entidades
do baixo Astral.
Há de se comentar que é conhecimento fechado, não divulgado
pela maioria dos diretores de terreiros que praticam esses ritos, o fato de que
quando o filho do "santo" viola, frauda ou não cumpre toda uma série
de compromissos, tabus e preceitos, mantenedores do fluxo vital do plano físico
para o Astral, e vice-versa, cessam as benesses das entidades do "lado de
cá" para a realização dos desejos individuais do médium; isso quando os
"vivos" da Terra, antigos iniciadores, não fazem despacho para a
desgraça do "infiel" que ousa abandoná-los. Ocorre um motim astral,
uma revolta contra o ente que até então era mimado, pelo fato de ele não mais fornecer
os acepipes e sacrifícios sanguinolentos. A partir de então, atacam o antigo
"serviçal", como vampiros determinados a sugar-lhe as próprias
vísceras, qual parasita que "mata" a planta que não consegue mais
produzir seiva vegetal pela aridez do solo, em meio à seca de verão. Por isso,
o assunto é velado aos neófitos, para não se assustarem; assim como só são
informados os enormes favores, nunca as gigantescas obrigações que, se não
cumpridas, ocasionará funestas contrariedades e retaliações, tal como a
montanha vistosa esconde, aos olhos incautos, que em seu cume existe um
precipício.
O enorme perigo da ira, dos revides e das quizilas que recaem sobre os
"iniciados" que se arriscam a deixar o "santo" acaba sendo
resolvido quando há merecimento, e o obsediado exercita seu livre-arbítrio nos
templos da Divina Luz, da verdadeira umbanda.
Na verdade zelar pelo "santo" não é de forma
alguma uma opção de exercício religioso em conseqüência do livre-arbítrio, mas
sim um pacto de sangue que deve ser constantemente refeito com o suposto
"orixá", cujo não cumprimento implica riscos enormes, colocando sob
pesado choque vibratório os que estão nessa roda nefasta de sacrifícios animais
e ousam sair. A obediência cega perante o "santo" fascina e nubla as
consciências, forjando escravos que ceifam a vida dos animais menores do orbe e fortalecem as cidadelas do Astral inferior,
enraizadas desde eras ancestrais na dependência de se "alimentarem"
dos fluídos volatilizados pelo sangue derramado na crosta planetária.
(Origem: “A Missão Da Umbanda” Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)
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