PERGUNTA: Em que circunstâncias Jesus simpatizou com as parábolas, e fê-lo
decidir a utilizá-las como o meio de comunicação mais acessível e convincente
ao povo judeu?
RAMATÍS: - Embora mesmo alguns
espíritas discordem de que Jesus teve contato com os essênios, (2) o Divino Mestre manteve íntimo relacionamento com eles, cuja vida
simples, de elevado padrão espiritual comunitário e isenta de quaisquer vícios
ou os costumes criticáveis, era já um esquema inicial da sabedoria e da beleza
do Cristianismo.
Apreciando-lhes a constante troca de idéias e comunicabilidade,
através do uso comum da parábolas, Jesus, intuitivo incomum, inteligente e
supersensível, percebeu que essa forma de intercâmbio verbal era a mais perfeita,
excelente canal para ensinar o conteúdo de sua doutrina aos homens de todas as
épocas.
Servindo-se da louvável peculiaridade da parábola como elemento
fácil de comparação, Jesus passou a usá-la para despertar a dinâmica espiritual
na mente das criaturas simples e sem cultura sistematizada. Sentindo o Mestre
na natureza a vibração do espírito imortal, costumava recorrer aos seus
fenômenos e objetivos em comparação com os acontecimentos da vida humana.
Dava-lhes a feição de coisas que pareciam vivas e se mantinham em estreita
relação, como se a Terra fosse apenas a ante-sala do céu, onde o homem
primeiramente devia limpar as suas sandálias. Jesus extraía admiráveis lições
da simples queda de uma folha, do murmúrio do regato, da mansuetude da pomba,
da sagacidade das serpentes, da importância do tesouro enterrado, da singela
semente que o semeador depunha no solo. Os seus ouvintes embeveciam-se ante a
beleza e a força das imagens que o Divino Mestre sabia compor em simbiose com o
encanto da natureza.
Assim, os acontecimentos mais sisudos e severos, os fatos mais
complexos e difíceis tornavam-se simples e compreensivos ao mais rude campônio,
em face da singeleza com que era apresentado, ajustando-se perfeitamente às mais variadas
estruturas mentais de cada ouvinte.
O
Mestre Jesus simpatizou de imediato com a graça e o encanto das parábolas, porque
podia resumir narrativas e oferecer admiráveis lições de moral superior,
entendíveis em qualquer recanto onde houvesse vida humana. Modelava as frases e
as escoimava do trivial, inócuo e do inexpressivo; sabia transformar a mais
singela pétala de flor no centro de um acontecimento de relevante fim
espiritual. Do mais insignificante fenômeno da natureza ele fazia sentir a
força das leis cósmicas. As parábolas, sob o quimismo espiritual do Amado
Mestre e sob a brisa cariciosa do seu Amor, valiam por ensinamentos eternos e que
penetravam fundo na alma dos homens.
Através
da diminuta semente de mostarda explica a fé que remove montanhas e cria os
mundos; na parábola do talento enterrado adverte quanto à responsabilidade do
homem no mecanismo da vida e da morte; servindo-se do trigo e do joio,
simboliza a seleção profética dos "bons" e dos "pecadores"
no seio da humanidade. Enfim, graças às parábolas e do que elas podiam conduzir
de respeitabilidade e da comunicação proveitosa e fiel, Jesus despertava nos
homens as reflexões para a Verdade e lhes ativava o fundamento da vida eterna
do Espírito. Por isso, suas palavras eram suaves, doces e recendiam o próprio perfume
dos campos e o aroma das florezinhas silvestres; suas formas e suas cores
ficavam vivamente gravadas e nítidas na mente dos seus ouvintes. Era um
narrador de histórias dotado de um insinuante magnetismo; um peregrino descido
dos céus, que se punha a contar as coisas mais delicadas e atrativas de
paragens edênicas. Aquela gente derramada pelas encostas floridas, recostada
nas pedras e nos tufos de capim verdejante, ficava imóvel, sem um gesto, atenta
à musicalidade da voz amiga e confortadora do rabi galileu. Mas
tudo se justificava, porque a poesia modelava o conteúdo das parábolas; nas
suas narrativas vicejavam o mar, as montanhas, as aves, os rios, as flores, as
nuvens, o campo e as árvores, gravando-se tudo na forma de imagens claras e
objetivas sem forçar o cérebro dos mais incultos.
São
tão importantes as parábolas, que elas poderiam reconstituir todo o ensino do Evangelho,
caso fossem extraviados ou desaparecidos os textos tradicionais deixados por Mateus,
Lucas, João e Marcos. Através das parábolas, Jesus se revelou poeta, cuja imaginação
de prodigioso sentido espiritual atingia as fímbrias do céu; foi um santo pela sublimidade de sua moral incomum; divino, pela majestade do
seu caráter insuperável e gabarito sideral. Jamais hesitou na sua heróica
missão de transfundir a luz crística para o orbe
terráqueo mergulhado nas sombras da animalidade. A história do mundo menciona
tantos libertadores nutridos pelo sangue dos povos
vencidos, enquanto Jesus consubstanciou a
liberdade do homem agrilhoado à instintividade inferior que o prende à terra, vertendo o seu sangue no madeiro da cruz. (3)
2- Nota do Médium - Vide a obra "O Sublime
Peregrino", capítulo "Jesus e os Essênios", onde Ramatís relata
e fundamenta a permanência e convivência do Mestre Jesus entre os essênios, dos
quais assimilou muito dos seus costumes, símbolos, iniciações e,
principalmente, o manejo das parábolas, em que eles eram exímios.
3- Nota do Redator - Apenas com referência ao reino dos
Céus, Jesus proferiu oito parábolas à beira do mar da Galiléia, nas quais
definiu o modo de a criatura receber a vida eterna, conflito entre o bem e o
mal, o caráter da semente que cresce misteriosamente, o valor do reino dos
Céus, e o sacrifício do homem para alcançá-la. Após sair da Galiléia, entre a
festa dos tabernáculos e da Páscoa, o Mestre expôs dezenove parábola ilustrando
o reino dos Céus e, ainda, seis outras durante a última semana em Jerusalém,
onde referiu-se, também, ao julgamento final e à consumação do reino.
Do livro: “O
Evangelho À Luz Do Cosmo” – Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.
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