Assim, foi delineada a doutrina que se conhece por umbanda,
despida de preconceitos racistas por sua origem africana, no sentido de agrupar
em suas atividades escravos, senhores, pretos, brancos, nativos, exilados,
imigrantes descendentes, enfim, todos os povos do mundo, sediados em solo
brasileiro.
RAMATÍS, A Missão do Espiritismo, 1967.
PERGUNTA: O que acontecerá com as práticas mágicas
populares, que nos indicais misturadas aos mais diversos sortilégios, tudo sendo
entendido como umbanda pelos leigos? Não temos de ser eletivos, excluindo-as?
RAMATÍS: Ocorre um
conflito entre dois caminhos. Um é a integração dos cidadãos hodiernos à
práxis, bem informados, o que redunda, senão na renúncia total às tradições que
não se encaixam mais na sociedade, no mínimo na sua reinterpretação de acordo
com valores da consciência coletiva. O outro é a exclusão dos ritos populares,
o que não contribui em nada e denota comportamento sectário. Há ainda os que
preferem fazer ritos ditos "puros", de preferência só com estudo e
sem atender os reclames dos consulentes.
Exatamente por não ter codificação doutrinária que a engesse, a umbanda se mostra solução original: dedicada tecelã, movimenta os fios num liame de continuidade para as práticas mágicas populares, inserindo-as na dominância filo-religiosa negro-ameríndia, amalgamada com a prática cristã-espírita-mediúnica. A umbanda é inclusiva, não sectária, sem proselitismo, tecelã de uma colcha viva do Pai Maior, que é toda luz e se faz com a costura de muitos retalhos, divina agulha que pacientemente alfineta as almas rumo ao amor, dando o tempo necessário a cada consciência para a unificação cósmica; daí a diversificação que cada vez mais se fará unidade. Assim, os sortilégios e os fetichismos serão amainados qual tenaz camelo que atravessa um deserto causticante.
Refleti que a eleição do ser é de foro íntimo e deveis procurar agremiação que vos conduza a um estado psicológico condizente com vossos anseios espirituais. Quando transferis para os outros valores e crenças internos, exteriorizando-os na forma de padrões de conduta que excluem, como faziam aos banidos hereges do pretérito, contrariais o amor que nada impõe, uma vez que orienta e esclarece sem estabelecer julgamentos, dando a cada consciência a oportunidade sublime de usar a razão, fundamentando a amorosidade que unifica, não a que separa a coletividade umbandista.
Exatamente por não ter codificação doutrinária que a engesse, a umbanda se mostra solução original: dedicada tecelã, movimenta os fios num liame de continuidade para as práticas mágicas populares, inserindo-as na dominância filo-religiosa negro-ameríndia, amalgamada com a prática cristã-espírita-mediúnica. A umbanda é inclusiva, não sectária, sem proselitismo, tecelã de uma colcha viva do Pai Maior, que é toda luz e se faz com a costura de muitos retalhos, divina agulha que pacientemente alfineta as almas rumo ao amor, dando o tempo necessário a cada consciência para a unificação cósmica; daí a diversificação que cada vez mais se fará unidade. Assim, os sortilégios e os fetichismos serão amainados qual tenaz camelo que atravessa um deserto causticante.
Refleti que a eleição do ser é de foro íntimo e deveis procurar agremiação que vos conduza a um estado psicológico condizente com vossos anseios espirituais. Quando transferis para os outros valores e crenças internos, exteriorizando-os na forma de padrões de conduta que excluem, como faziam aos banidos hereges do pretérito, contrariais o amor que nada impõe, uma vez que orienta e esclarece sem estabelecer julgamentos, dando a cada consciência a oportunidade sublime de usar a razão, fundamentando a amorosidade que unifica, não a que separa a coletividade umbandista.
PERGUNTA: - Mas, se "os 'caboclos', 'pretos
velhos' e 'crianças' são o canal de representatividade com os orixás, formando
as sete linhas vibratórias da umbanda", conforme vossos dizeres, concluiremos
que os persas, etíopes, marroquinos, indianos, árabes, egípcios, indochineses, povos nômades do deserto (ciganos),
entre outras formas de apresentação dos espíritos que caracterizam o
agrupamento do Oriente, são entidades excluídas da umbanda, não fazendo parte
dela?
RAMATÍS: As
entidades estruturais, que plasmam o triângulo fluídico mantenedor da umbanda,
do Espaço para a Terra, são os caboclos, pretos velhos e crianças. Além deles, aglutinam-se
"à volta" do movimento umbandista, fortalecendo a mensagem
libertadora do Cristo Cósmico e as leis universais, equânimes para todos como o
raio do Sol que não distingue telhado em dia inverna!, todas as formas que
servem de veículo da consciência para os espíritos nas diversas latitudes
siderais.
Desde seu surgimento numa sessão de mesa, [1] quando foi verbalizado
pela primeira vez o vocábulo "umbanda", com toda a sua sonoridade
mântrica associada ao mediunismo, seus mentores do Espaço foram insurgentes
contra a exclusão, na época, dos negros e silvícolas, proibidos que eram pelos
dirigentes encarnados de se manifestarem, além de não autorizarem a passividade
dos médiuns para espíritos que se apresentassem como dessas raças, taxados por
eles de inferiores e primitivos. Assim, suas bases são alicerces evolutivos que
incluem, sem preconceitos raciais espiritistas, todas as etnias excluídas por
outras religiões: negros, escravos, brancos, amarelos, nativos e imigrantes na
pátria brasileira, descendentes de todos os povos do orbe terrícola.
[1] Após a reunião mediúnica na
Federação Espírita do município de Niterói, quando foi anunciada a criação da
umbanda, em sua primeira manifestação por intermédio de Zélio Fernandino de
Moraes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, entre outras normas do culto
nascente, ditou as seguintes diretrizes para a umbanda e para a fundação da
Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade: "Assim como Maria acolhe em seus
braços o Filho, a Tenda acolherá os que recorrerem a ela nas horas de
aflição... Todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com os
espíritos que souberem mais e ensinaremos àqueles que souberem menos; a nenhum viraremos
as costas nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai". Maiores detalhes
em Umbanda e sua História, de Diamantino F. Trindade, 2ª edição, publicação da
Editora Ícone, p. 62.
PERGUNTA: - O trabalho mediúnico com
pretos velhos, caboclos e crianças, formas de apresentação das entidades
estruturais da umbanda no Espaço, pode ser caracterizado, por si só, como
umbandista?
RAMATÍS: Alguns irmãos médiuns, ao serem apresentados
como "aparelhos" pela umbanda, ficam tão entusiasmados com o caboclo
ou o preto velho que se comportam qual um menino que vai à feira comprar um
curió cantador e volta com um pardal de chilreado rouco, disfarçado, com o abdome
vermelho. Assim, não adianta a mais linda gaiola para abrigá-lo se sua natureza
é outra, que não a de pássaro, não tendo o cântico que encanta os ouvidos. Está
claro que a simples forma de apresentação dos espíritos não significa a essência
umbandista, que é fazer a caridade em nome do Cristo. Nesses casos, nos dias
atuais, mais vale a história, a procedência e a seriedade do terreiro do que o
trabalho das entidades em lugares menos afeitos às diretrizes de segurança
mediúnica, como o são as garagens de residências e salas improvisadas, sem os imprescindíveis
preceitos e descargas fluídicas que existem nos locais consagrados e unicamente
utilizados regularmente para o exercício da mediunidade caritativa.
DO LIVRO: “A MISSÃO DA UMBANDA” RAMATÍS/NORBERTO
PEIXOTO – EDITORA DO CONHECIMENTO.
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