Sabedoria Ramatis

Sabedoria Ramatis

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Exilados terrícolas evolvidos em ciência, arte, filosofia e senso religioso, ajustando-se no corpo grosseiro e letárgico dos homens primitivos.







“Concordamos em que os exilados terrícolas possam ser mais evoluídos em conhecimentos científicos, artísticos, filosóficos ou religiosos e, naturalmente, já possuam certos requintes de civilização, mas não concordamos quanto aos seus sentimentos, porquanto a maioria deles ainda está bastante enquadrada no temperamento passional do homem das cavernas. 
O acadêmico que mata o seu desafeto com um punhado de balas despejadas de artística pistola de prata, nem por isso merece melhor tratamento do que o bugre que esmaga o crânio do seu adversário sob o golpe de massudo tacape. Enquanto o civilizado é mais responsável pelo seu ato, porque já compulsou compêndios de moral superior e não pode ignorar os ensinos do Cristo, o selvagem é menos responsável, porque só aprendeu que a sua glória e o seu valor aumentam na proporção do número de crânios amassados...
Entre o ladrão que arrisca a vida para furtar uma galinha e o eleito do povo que esvazia os cofres da Nação com a gazua da caneta-tinteiro, o primeiro merece mais respeito e admiração; porque o seu roubo possui algo de heróico e não se protege com as garantias oficiais do Direito subvertido pelos mais poderosos! É possível que haja mais cultura no cérebro do bêbado de fraque e cartola, consumidor do uísque importado, do que no do homem primitivo, que grita estentoricamente depois de uma carraspana de milho fermentado; mas, quanto às condições morais e à natureza espiritual, o selvagem é, pelo menos, mais inocente, porque ninguém o fez compreender o ridículo e a estupidez da bebedeira.
É suficiente abrirdes as páginas do jornal cotidiano, para verificardes quantas criaturas alfabetizadas, membros de associações desportivas e culturais, clubes filantrópicos e credos religiosos, detentoras de prémios de oratória, bolsas de estudo e senso artístico, ou condecorações de mérito, famosas pela frequência aristocrática aos clubes chiques, distintas pela educação esmerada, "elegantíssimas no seu trajar", como as situam melifluamente os lugares comuns da imprensa social, caluniam, envenenam, esfaqueiam e fuzilam esposos ou esposas, irmãos, parentes e até mesmo os progenitores! Esses espíritos, aparentemente evoluídos, que ainda conseguem evitar o cárcere onde geme o infeliz ladrão de galinhas, deixam-se fotografar trajando finíssimos pijamas de seda e ostentam calculados sorrisos fotográficos. 
É natural que a sua elegância, cultura e cientificismo, apreciados na Terra, sejam argumentos contra a pseudo-injustiça do exílio para o planeta inferior; entretanto, sob o nosso fraco entender, lamentamos antes, e profundamente, a sorte do homem das cavernas, que terá de receber esses espíritos "cultos" em seu "habitat" rude, mas profundamente honesto!
Na realidade, os exilados da Terra serão aqueles que perderam os pêlos, mas não evoluíram do animal para o homem, estando vestidos com trajes modernos, mas em discordância ainda com a sua índole, no vosso orbe. 
Esses, sob o imperativo da lei natural, deverão voltar a empunhar o velho tacape e a devorar vísceras sangrentas, cruas, embebedando-se com o milho fermentado, em lugar do conhaque ou do uísque. 
Não se trata de punição, mas de uma devolução natural e lógica, em que os "homens das cavernas", desajustados na Terra, serão encaminhados ao seu verdadeiro ambiente psicológico. 
A emigração ser-lhes-á de imenso benefício nesse outro planeta, no qual deverão sentir a euforia do batráquio devolvido à sua lagoa. Ao homem pacífico e evangelizado, que cultua a ordem e a estabilidade espiritual na Terra, é imensamente prejudicial que aumente a progénie dos homens das cavernas, habilmente disfarçados sob os trajes elegantes, o desembaraço oral e o volumoso arquivo literário ou científico, mas ainda famélicos de banquetes, de embriaguez elegante e de fortunas fáceis. 
As suas armas, demasiadamente aguçadas pelo intelecto, superam geometricamente o coração e, assim, criam desatinos e discrepâncias no vosso mundo, já em vésperas de promoção espiritual. Eles são egocêntricos e descontrolados, instintivos e ambiciosos, e vivem repletos de cupidez pela mulher do próximo; quando se centralizam nos seus mundos de negócios, idealizam planos argutos favoráveis exclusivamente à parentela e a si mesmos; semeiam intrigas políticas e criam trustes asfixiadores; favorecem a indústria do álcool, mas dificultam a produção do leite e do pão. Significam perigosa horda de selvagens vestidos a rigor, que galgam posições-chaves na sociedade e na administração pública, mas, enceguecidos pela volúpia do ouro e do prazer, não trepidam em armar as mais cruéis e astuciosas ciladas, que deixam verdadeiramente boquiabertos os seus irmãos peludos, das cavernas!
Mas a Lei, justíssima e boa, disciplinadora e coesa no mecanismo evolutivo, termina afastando-os da rápida experiência prematura na civilização, e os coloca outra vez no seu verdadeiro "habitat", onde se afinam melhor à psicologia do irmão vestido com as peles naturais!"



(Do livro: “Mensagens do Astral” – Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

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