PERGUNTA: - Umbanda,
uma religião brasileira ou afro-brasileira?
RAMATÍS: - Inquestionavelmente a umbanda nasceu em
solo pátrio, abrigando influências religiosas indígenas, negras e brancas.
Unem-se em suas práticas, tal como está estruturada atualmente, em doutrina
mediúnico-espiritualista de terreiro, espíritos de caboclos, pretos velhos e
crianças, além de todas as outras formas e "raças" espirituais que as
entidades do plano astral utilizam para fazer a caridade, tendo em vista que a
umbanda é guindada à universalidade no intercâmbio mediúnico, preponderantemente com influência africanista,
em seu aspecto positivo, benfeitor. É o contrário da rotina fetichista e
atávica dos ritos de alguns terreiros eminentemente de cultos africanos e indígenas
já distorcidos dos rituais ancestrais das nações e tribos originais de que são
procedentes, o que podeis denominar práticas mágicas populares, que não se
enquadram nas "normas" do culto umbandista ditadas pelo missionário e
luminoso Caboclo das Sete Encruzilhadas, particularmente quanto à gratuidade,
dispensa de oferendas votivas com sacrifícios animais e não-utilização de
sangue ritualístico. Respeitosamente, e sem excluir nenhuma forma de mediunismo
que almeja a caridade com o Cristo, diante da saudável diversidade da umbanda,
faz-se necessário, neste momento da formação da consciência coletiva
umbandista, distinguirdes as práticas mágicas populares, distorcidas diante das leis de causalidade que regem a harmonia
cósmica, do verdadeiro movimento de umbanda, que se espraia na Terra provindo
do Espaço com a finalidade de interiorizar nos corações o "espírito"
da caridade.
As normas de culto ditadas pelo Caboclo
das Sete Encruzilhadas servem como balizadores àqueles que estão em dúvida
sobre se os terreiros que frequentam são amparados ou não pela Divina Luz.
Está claro que toda sorte de mediunismo
tem um valor diante da inexorável evolução dos seres, desde que a cada um seja
dado em conformidade com seu merecimento e afinidade, necessidade de
retificação e capacidade de assimilação, nada se perdendo do rumo do Pai. Ao público
espiritualista que nos é simpático; impõem-nos os compromissos assumidos com os
Maiorais do Espaço para ditar elucidações ampliando o discernimento das coletividades
encarnadas que nos leem. Assim, esclarecemos que há tipos de rituais confundidos
com a umbanda que vão desde a ritual com beberagem de ervas; o tambor de mina,
em que se misturam cultos de diversas nações africanas com a pajelança para dar
passagem às entidades de cura e para "tirar" feitiço; o catimbó, em
que a fumaça da queima de certas folhas oferece êxtase, dando poderes
"sobrenaturais" ao pajé e colocando-o em comunicação com os
espíritos; o ritual de jurema, em que os "juremeiros" manifestam
índios ousados, violentos e ardilosos ostentando enfeites de penas, cocares,
tacapes, arcos-e-flechas, dançando em rito exterior que arrebata as populações
carentes de assistência social e à saúde, com suas ervas e raízes curativas
apresentando proezas fenomênicas entre fogo, brasa e cacos de vidros; bem como
os rituais africanistas descaracterizados das matrizes ancestrais das antigas
nações. Não vos iludais com as aparências espirituais, em que espíritos com
formas astrais símiles aos da verdadeira umbanda nas apresentações e completamente
diferentes de sua essência caritativa, alimentam-se energeticamente em ritos
"iniciáticos" sanguinolentos, regalados entre danças e acepipes de
pedaços de animais sacrificados e farofas, finamente temperados, que enchem as
covas estomacais qual enterro famoso em átrio sepulcral, tudo pago para o
bem-estar dos médiuns e consulentes. Afirmamos que nada disso é umbanda,
enquanto movimento plasmado pelo Cristo Cósmico, que se irradia para a crosta
terrícola do Astral superior. Umbanda é uma verdade que independe da vontade e das
suscetibilidades feridas de lideranças sacerdotais que conspurcam seu nome
sagrado com práticas que não são condizentes com a caridade referendada no
Evangelho de Jesus.
Por outro lado, reconhecemos a existência
de variados ritos, usos e costumes na umbanda; alguns um tanto fetichistas,
outros um pouco distorcidos: aqui um grito exagerado, ali uma apoteose dispensável, acolá um médium
envaidecido com o guia "infalível", o consulente desejoso do milagre
em seu favor, doa a quem doer. O hábil jardineiro do tempo extrai delicadamente
os espinhos para não ferir as mãos. Nem tudo são belas e perfumadas rosas no
jardim dos orixás. No atual movimento umbandista, isso é explicável pelo fato
de não termos padronização ritualística ou codificação, o que, por sua vez,
acaba "enxotando" os dogmas, tornando o movimento dinâmico e sempre
evoluindo, como tudo no Cosmo. Oxalá e seus ditames preveem o equilíbrio nessa diversidade.
É oportuno registrar que os costumes
africanistas tribais de religiosidade ancestral aportaram no Brasil com
acentuadas distorções de suas práticas originais. Já eram atacados pela Inquisição
antes de as levas de escravos capturados serem jogadas nos fétidos porões das
naus portuguesas.
Via de regra, isso foi intensificado aqui
pela continuidade da opressão do clero, que redundou em várias outras
adaptações, com raras exceções que conseguiram manter os ritos primários
incólumes. Impôs-se uma necessidade de sobrevivência da população negra
explorada, "liberta" com a Lei Áurea, que ficou excluída do contexto
social e entregue à própria sorte, sem nenhum apoio do Estado monárquico, que
se curvava ao controle de um catolicismo arcaico e perseguidor (ambos se beneficiaram
da pujança econômica oferecida pelo braço escravo) Finalmente livres, os negros se viram sem as
moedas dos patrões que os alimentavam sem o mínimo para a manutenção de suas vidas.
Foram, circunstancialmente, "obrigados" a cobrar pela magia curativa
que faziam gratuitamente aos sinhôs e sinhás no recôndito das senzalas de chão
batido. Dessa vez, estimulados pelos constantes pedidos dos próprios homens
brancos que furtivamente saíam das missas e procuravam as choupanas dos
ex-escravos alforriados, os quais subitamente se viram transformados em
ilustres magistas de aluguel. Distorceram, portanto, as leis divinas e deu no
que deu: o vil mercantilismo religioso que viceja culturalmente em todos os
recantos desta nação atual, formando o carma grupal a ser queimado no futuro,
assim como foi no passado. Afinal, quando nos vestimos com a roupagem
transitória de Pai Benedito, perfilado na linha de frente da umbanda, não
fazemos a magia branca de raiz, ancestral e originária do Congo, da Angola, da
Etiópia, do Egito ou dos velhos templos da Luz de nossa remota e saudosa
Atlântida?
A magia que praticamos do "lado de
cá", apátrida, referendada por leis cósmicas universais e imutáveis, não é
atingida pelas ilusões dos homens, que infelizmente se perpetuam, pelos equívocos
que passam de geração a geração, ao longo das encarnações sucessivas nessa
pátria verde e amarela.
(Origem livro: A Missão da Umbanda - Ramtís/Norberto Peixoto - Editora do Conhecimento)
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