"Nas
escolas filosóficas da Antigüidade, especialmente na Grécia, os mestres
utilizavam-se de acentuado simbolismo nos ensinamentos aplicados aos discípulos
mais instruídos das confrarias iniciáticas. Esse método de ensino muito lhes
exigia e fazia-se necessário, pois era também uma forma de dificultar e
restringir o acesso ao conhecimento, servindo de modo seletivo ao ingresso dos
interessados, sendo que apenas os mais capazes, intelectualmente, conseguiam
integrar esses
círculos
restritos.
No
estudo da psique humana, eram bastante utilizados, como símbolos, os quatro
elementos da natureza: a terra, o ar, o fogo e a água, que eram tomados por
base e colocados em contraposição dualista, como forma de entendimento da alma
e como introdução ao conhecimento ocultista das formas energéticas da natureza,
ou elementais. A terra simbolizava o homem racional, previsível e "pé no
chão", em comparação com o ar, o homem filosófico, contemplativo e algo melancólico.
O fogo, significando as paixões, os desejos ardentes e a exigência de
satisfação imediata, em oposição à água, a serenidade, o domínio de si e a
sensibilidade do feminino. Esta é apenas uma pálida idéia dos ensinamentos
esotéricos, que, na verdade, eram muito mais profundos e demandavam tempo para
sua assimilação. Mostrava-se a coexistência de dois princípios irredutíveis e
de posições opostas, em qualquer ordem de idéias. O exemplo exposto, refere-se
à alma e ao corpo, ao bem e ao mal, à matéria e ao espírito. Como modelo
comparativo, a terra e o fogo estariam mais para os ocidentais e o ar e a água
mais para os orientais. Nenhum é melhor que o outro e todos são iguais perante
o Pai. Da amálgama desses elementos opostos, surgirá o homem do Terceiro
Milênio, mais espiritualizado, muito mais mental.
O
aprendizado, a assimilação dos conhecimentos, sem objetos comparativos
exteriores, é processo mental que demora a acontecer na evolução do homem. As
antigas fraternidades niciáticas utilizavam-se muito do simbolismo associado a
elementos externos para a fixação mental, como foi demonstrado. Poderia o homem
atual tornar-se, de repente, puramente mental e prescindir dessas associações?
Não! O maior mentalismo que se avizinha, comotodas as ocorrências na natureza e
no Cosmo, não acontecerá de maneira abrupta e será gradativo e quase que
imperceptível.
A
comunidade terrícola ainda está muito longe de prescindir dos instrumentos
palpáveis que impulsionam à fé. A grande maioria das populações, no estágio
evolutivo em que se encontra, ainda precisa dessas escoras para conseguir se
religar ao Criador. Não têm consciência da onipresença de Deus e as mentes não
estão treinadas para despertar, solitariamente, as potencialidades divinas que
lhes são imanentes. São milênios de amarras coercitivas e punitivas, diante da
"posse" religiosa pelas instituições, aliadas ao poder temporal dos
governantes, julgando e concedendo pelo evo dos tempos o direito aos crentes e
imaculados do privilégio de ingresso ao céu paradisíaco e de hosanas eternas,
ou a arbitrariedade de envio das pobres almas pecadoras e censuradas às
perpétuas labaredas infernais.
A
religião é um meio de religar-se ao Todo, ao Criador. Não é um fim em si mesma,
com propósitos e interesses exclusivistas, de classes, portanto, a instituição religiosa
não deveria sobrepor-se à religiosidade. Dentro das leis de causalidade que
regem a harmonia cósmica, fixaram-se no inconsciente dos terrícolas atavismos
contrários ao que se espera em relação à fé, atribuindo-se a instrumentos
exteriores a força de religação com Deus, que, originariamente, provém do
interior de cada um.
À
época presente, o que seriam as seitas protestantes sem a Bíblia e suas interpretações
mais ardentes e lamuriosas; a Umbanda sem as oferendas, os despachos à beira da
natureza, os pontos e as pembas; o catolicismo sem seus paramentos, suas insígnias
e o ato confessional de joelhos diante da impessoalidade do sacerdote; os rosa-cruzes
e maçons sem os templos e seus graus simbólicos e filosóficos; os místicos sem
os mantras e o retiro meditativo; a benzedeira sem a velinha acesa? Se ainda
vos exaltais ao não encontrar os objetos e os vestuários nos lugares normais em
vossas residências, como quereis abrir mão desses instrumentos da fé? Há, no
meio espírita, certos irmãos mais radicais e ortodoxos, sentindo-se superiores
e com ojeriza por esses instrumentos de fé, alegando que tudo depende da mente
e do pensamento, e que nós, do lado de cá, nos comunicamos somente pelo
pensamento. Como não iríamos considerar
esses
irmãos um passo atrás na longa caminhada evolutiva? Quem sabe esses irmãos não conseguem
ser vistos dos planos vibratórios mais elevados e sutis, em que os pensamentos
se apresentam destituídos da forma como compreendeis?
Uma
das prerrogativas para a ascese do espírito imortal é o amor ao próximo. Os
irmãos que estão um degrau à frente na escada ascensional da evolução
espiritual não se encontram distanciados ou impedidos de estender a mão para
aqueles que estão atrás, ou que baseiam sua fé em instrumentos exteriores. Por
sua vez, a exteriorização da fé, necessidade e direito dos cidadãos, não
determina a ascensão, e sim os sentimentos e as obras realizadas. A
fraternidade e a solidariedade estão presentes em todas as paragens do Cosmo.
O
Criador é onipresente, e a Lei do Amor Universal é única em todos os planos
evolutivos. Da ameba ao anjo, da bactéria ao arcanjo, o amor do Altíssimo desce
como fonte no meio do deserto de vossas veleidades. Há ainda alguns partidários
ferrenhos do término do passe. Que seria das casas espíritas sem o passe,
formulário da fé, ato alegórico do contato com a Espiritualidade?
Ficariam
vazias! A humanidade não está preparada para o passe mental. Respeitai o agente
da fé de cada um; observai os sentimentos e vereis que os amorosos palpitam nos
simples, pobres de espírito, e independem da crença e da fé que praticam.
Jesus, o espírito mais evoluído e de maior mentalismo que já pisou em vosso
orbe, nunca deixou de impor as mãos, mesmo podendo agir somente com o seu
pensamento crístico. Acatemos o tempo necessário à evolução de cada um, até quando
chegar o momento do despertar interno sem exigência de exteriorizações."
Muita
paz e muita luz!
Ramatís
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