(Texto retirado do livro Chama Crística)
"Estais
na carne para vos educar. A manifestação do princípio espiritual na matéria
densa é abençoado educandário da alma. Se soubésseis a importância e a
relevância da encarnação, começaríeis imediatamente um processo de reflexão. No
entanto, ocorre ao homem esquecer-se de sua real situação. É espírito, estando
momentaneamente preso ao casulo carnal, num interregno reencarnatório e, no
mais das vezes, a eximir-se de suas responsabilidades e dos comprometimentos,
promessas feitas e assumidas no Astral. No fulcro dessa ausência, encontra-se o
medo da morte, rito de passagem tantas vezes atravessado pelo espírito imortal.
Gerou-se no seu psiquismo mais profundo, nos porões mais escuros e empoeirados
do inconsciente, a falta de coragem e de ânimo para dedicar-se às questões
espirituais, transcendentes e ocultas.
A
dificuldade natural de contemplar-se o que não está restrito aos sentidos
fisiológicos, exigindo-se a aquisição de percepção extrafísica, por si só não
serve de justificativa. Embora já tenha atravessado milênios de práticas
religiosas, a humanidade ainda está engatinhando na busca de si mesma, da
recaptura da chama crística perdida e quase apagada, do porquê do existir, de
onde se veio e para onde se vai. O
homem-espírito, desconhecedor da condição da vida eterna, apega-se à satisfação
das exigências mais fugazes do seu calceta, que é o equipo carnal, numa corrida
desenfreada pelo prazer transitório e pela felicidade ilusória. Entende que a
vida é finita, que deve-se aproveitar o aqui e o agora, transformando-se em
homem fisiológico: alimentação excessiva, desregramento sexual, embriaguês ao término
do expediente laboral, preguiça e sono letárgico nos fins de semana e, advento
da modernidade, excessiva exposição à televisão alienadora e hipnotizante. Fica
anestesiado e esquecido de maiores burilamentos e de buscar conhecer-se.
Torna-se insaciável, enfadado e escravo dos estímulos exteriores. Como as
respostas estão dentro de cada um, não consegue descobrir-se. No entanto,
bastaria analisar suas disposições, preferências e comportamentos.
Alie-se
a isso a exacerbação do ego, inerente ao ser humano, desde as tribos mais
antigas, perpetuando-se como predisposição psíquica quando do relacionamento
com o meio da matéria e do mundo imaterial, que pulula em torno de vós como
verdadeiro enxame de moscas, e teremos o cenário, numa visão dantesca, horrível
comédia acessível àqueles que já conseguiram libertar-se do ciclo obrigatório
da carne.
Dentro
da Lei de Causa e Efeito, quando o homem teve o mais tênue sinal de
consciência, da sua condição de pensar e raciocinar, tornou-se responsável
pelos seus próprios atos e conseqüências. As causas de suas mazelas começaram a
implantar-se e a gerar os efeitos correlatos, encontrando-se até os dias atuais
enredado no seu próprio carma, na correspondência justa para a harmonização de
cada célula pensante, que é um microcosmo. O reequilíbrio de cada unidade é
fator predisponente ao equilíbrio do Todo, do macrocosmo. Aqui
no Astral, tendes noção dos verdadeiros efeitos dos desatinos e dos erros
cometidos, invisíveis quando do fato gerador. Agimos por compromisso com a
evolução, espécie de ação de profilaxia, sobre vós, ainda quando vos encontrais
imersos na carne, inspirando-vos, intuindo-vos e curando-vos de males e de
doenças, se tendes merecimento, e para o despertar da fé. Assim procedemos,
pois somente através da vitória sobre a matéria, da ruptura dos grilhões que
vos prendem ao ciclo das encarnações, da superação dos sentimentos egocêntricos
que ainda vos vibram no íntimo, conseguireis ter uma vida correspondente no
Astral, mais fraterna, feliz e solidária. Relembrando-vos: tal desiderato é
efeito primeiro de vossos atos e ações na carne, e só pode agravar-se ou
atenuar-se por vossos atos e ações, quando fora da carne, nunca extinguir-se.
A
disciplina e a educação do pensamento, esse corcel alado, selvagem e anárquico,
se impõe, urge! A mediunidade é oportunidade inadiável, é um chamamento ao
aperfeiçoamento anímico consciencial. Enquanto presos no invólucro carnal,
tendes chance celestial de ressarcimento e estabilização das forças contrárias
reguladoras da balança cármica, intensificadas em decorrência das dificuldades
inerentes à vida material. Observai o dever de atuação na caridade,
direcionando essa potencialidade para o bem de todos ao vosso redor, e educai
os sentimentos, expurgando a nódoa do egoísmo a marcar-vos o perispírito,
incompatível com o homem contemporâneo, com o carma coletivo e com a idade
sideral do orbe terráqueo.
Não
se pode mais esperar. Os tempos são chegados! A Nova Era, que se avizinha,
requer maior altruísmo. Realçamos o egoísmo, pois antecede a todos os outros
sentimentos negativos; dele derivam: o orgulho, a vaidade, a luxúria, a inveja,
a cobiça, a covardia, entre tantos outros, que poderíamos enumerar, mas nos
tornaríamos assaz maçantes. Nos atendimentos aos desencarnados, constata-se que
em muito poderia ter sido minimizada a gravidade dos casos, se esses irmãos,
quando mergulhados no oceano grosseiro da matéria, tivessem se preocupado com a
vida do lado de cá. Nesses casos, faz-se de fundamental influência a disciplina
e a educação das mentes dos médiuns, que serão as molas propulsoras da reeducação
daqueles espíritos mais recalcitrantes e empedernidos. É o preparo inicial para
a nova encarnação. Há
os drogados, que pintavam, compunham músicas ou escreviam poesias nas viagens alucinógenas,
e que aqui estão num quadro interminável de compulsividade. Há os assassinados em
conjunto nos triângulos amorosos possessivos, que procuram intermitentemente
rever suas amadas ou vingar-se, dementados e fixos que estão no quadro mental
que se formou na hora do desencarne. Existe o vigário que não entende porque
não vê os anjos e os santos a lhe devotarem festividades na sua entrada ao céu
paradisíaco; que se exalta com todos e quer voltar às facilidades e mimos dos
seus paroquianos fiéis. Todos, impreterivelmente, a par da misericórdia do
Altíssimo e, como numa reaprendizagem corretiva, levados ao esclarecimento e à
conscientização, se farão acompanhantes
dos medianeiros, trabalhadores do cristianismo puro. Com a convivência e exposição
aos fluidos mais densos, através da disciplina e imposição da vontade do médium
sobre as suas, educar-se-ão novamente, podendo continuar suas caminhadas
evolutivas no local do Astral que esteja em sintonia com suas afinidades e
densidades perispirituais. Os drogados só poderão pintar, compor ou declamar poemas,
quando a instrumentação mediúnica der passividade, em local e horário adrede
programados. O assassinado vingativo, em busca
da amada, escutará do doutrinador as explicações cabíveis de acordo com seu
nível de discernimento. O vigário verá que não existe céu como concebe e,
através da observação do assédio diário dos seus análogos que pulsa ao redor do
médium, compreenderá a verdadeira vida espiritual e retirará o véu que lhe
cobre os olhos. Todos esses recursos aplicados fazem parte da psicoterapia
divina, de que o Evangelho do Cristo é a viga mestra. Médiuns, identificai
costumeiramente, quem vos está acompanhando, e tende muito amor por esses
irmãos doentes. Somente através dos fluidos animalizados, do empréstimo de um
corpo, da demonstração e da retidão de vossas condutas, é que esses sofredores
se convencem e se decidem a mudar, a melhorar e a continuar a galgar os degraus
da escada de Jacó, rumo a Deus, ao Cristo, à verdadeira vida.
Jesus,
concisa e precisamente, definiu as grandes dificuldades que a civilização
humana teria para vencer, e superar o egoísmo, quando instituiu a necessidade
de amar ao próximo igual ao amar a si mesmo. Psicoterapeuta divino, sabia ser
esta a máxima possibilidade de expressão de amor do terrícola. O mestre amava a
Deus acima de todas as coisas e aos homens mais do que a si mesmo. Exemplificou
na renúncia total, em prol da humanidade, pelo calvário a que se expôs, culminando
com sua crucificação."
Muita
paz e muita luz!
Ramatís
(Retirado do livro: Chama Crística)
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