Pergunta: Os críticos mais derrotistas taxam o Brasil, sumariamente, de "País do
Carnaval", cujo conceito os impedem de crer num evento espiritual tão
nobre para o futuro! Que dizeis?
Ramatís: Evidentemente, não podemos louvar as conseqüências funestas e degradantes,
que resultam comumente dos festejos de Momo, por força dos descontroles emotivos,
das paixões desvairadas e alucinações alcoólicas, que fluem da extroversão dos sentidos
físicos na busca de satisfações exclusivamente carnais. Os foliões mais
degradados, astutos, fesceninos e irresponsáveis procuram extrair toda sorte de
proveitos, entre prazeres e aventuras censuráveis, graças à situação caótica
carnavalesca! Mas essa escória de viciados, delinqüentes e sacripantas
degenerados, que oneram as festividades carnavalescas pelo vício, lubricidade e
má intenção, não é propriamente fruto desse ruidoso festejo, mas o amálgama natural
de indivíduos ruins e desregrados, os quais se afogam no álcool e cometem os
crimes mais abomináveis, tanto no Carnaval, como em Noites de Natal, à porta de
uma igreja como no umbral de um prostíbulo! Eles são maus cidadãos na "Semana
da Pátria", assim como filhos degenerados no "Dia do Papai"!
Mas
o povo brasileiro possui nas suas veias o sangue alvissareiro e comunicável do português,
a ingenuidade, infantilidade e o requebro de corpo do negro, a força e a
liberdade incondicional do silvícola! Portanto, é gente expansiva, buliçosa e
alegre nessa festança primária da carne, que cultua ídolos e fetichismos,
homenageia os fenômenos comuns da natureza, aprecia as cores berrantes e os
trajes exóticos, confia em responsos, simpatias, benzimentos e bruxarias,
porque lhes vibra na alma primitiva os ritmos gritantes e nativos da velha
África!
A
carga emocional represada durante os 365 dias do ano, por força das obrigações prosaicas
e limitativas da vida, então extravasa ante a plena liberdade dos sentidos nos
dias de Carnaval! As vicissitudes, enfermidades, angústias, dores, sonhos
desfeitos e os desencantos da existência física sublimam-se nos trajes coloridos
e pitorescos, entre coleios e requebros, que fazem o povo esquecer-se durante 4
dias os pensamentos amargos e as emoções desagradáveis. Malgrado a crítica
desairosa ao "País do Carnaval", o povo brasileiro, simples, ingênuo
e comunicativo, esbalda-se nos festejos de Momo, mas expõe à luz do dia as suas
deficiências e os sentimentos primários, enquanto os países "superdesenvolvidos"
conseguem dissimular, sob douradas etiquetas de boa conduta e erudição incomum,
a sua moral artificializada, a ambição, cobiça e o egoísmo, além da crueldade
das grandes nações exterminando populações indefesas, famintas e feita de andrajos!
Mas
sob o toque divino e progressivo do Alto, em que tudo evolui e se aperfeiçoa, porque
traz a chancela de Deus, o próprio Carnaval, em vez de extinguir-se como festa licenciosa
e ignóbil, há de sublimar-se numa expressão sadia e artística, sendo no futuro
a atração turística e folclórica do Brasil! A natureza expansiva e amorosa do
povo brasileiro não tarda em alcançar um índice de alegria pura e sadia em todas
as manifestações do próprio instinto inferior!
Pergunta: Mas não é evidente que o Carnaval depõe
contra a nossa pátria, pois trata-se de uma festividade demasiadamente primária
e instintiva?
Ramatís: O povo brasileiro faz carnaval apenas quatro dias por ano,
quando então veste fantasias bizarras e imita reis, baronesas, príncipes,
faraós, mandarins, sultões, rajás, caciques, peles-vermelhas ou figuras
históricas, avivando sonhos e ideais, anseios e projetos, que foram frustrados
na mediocridade da vida humana cheia de sacrifícios e desilusões. A pressão emotiva
e mental, recalcada por força das convenções sociais e leis do mundo,
liberta-se, e o folião descomplexado esbalda-se nessa liberdade transitória de
rir, gritar e ironizar instituições, mandatários e políticos, além de afastar
da mente quaisquer obrigações e preocupações cotidianas. No entanto, em oposição
a essa eclosão irreverente do brasileiro nos 4 dias de entrudo, há nações
"superdesenvolvidas" que, durante 365 dias do ano, fazem o seu
carnaval tradicional, através de salamaleques e tolas submissões a reisinhos, príncipes
e aristocratas encarquilhados, cuja vida farta e improdutiva consome-se em ridículas
exposições sobre carruagens obsoletas e puxadas por cavalos, a ironizar as modernas
avenidas asfaltadas!
DO LIVRO: “A VIDA HUMANA E O ESPÍRITO IMORTAL” RAMATÍS/HERCÍLIO
MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.
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