Era um menino encantador, de olhos claros, doces e aveludados, como duas jóias preciosas
e de um azul-esverdeado encastoadas na fisionomia adornada pela beleza de Maria
e cunhada pela energia de José! Vestia pobremente, como os demais meninos dos
subúrbios de Nazaré, onde proliferavam as tendas de trabalho dos homens de
ofício e as lavanderias do mulheril assalariado.
O
menino Jesus tinha os cabelos de um louro-ruivo, quase fogo, que emitiam
fulgores e chispas à luz do Sol; eram soltos, com leves cachos nas pontas e
flutuavam ao vento. Quando ele corria ladeira abaixo perseguido pelos cabritos,
cães e aves, seus cabelos então pareciam chamas vivas esvoaçando em torno de
sua cabeça angélica! A roupa íntima era de pano inferior, que depois
ele cobria com uma camisola de algodão, de cor sépia ou salmão. Só nos dias
festivos ou de culto religioso ele envergava a veste domingueira de um branco
imaculado, sendo-lhe permitido usar o cordão de neófito da Sinagoga.
Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha-lhe o manto azul-marinho, de lã pura, tecida cm Jerusalém que fora delicado presente de Lia, uma de suas mais queridas amigas de infância.
Sobre os ombros, nas manhãs mais frias, Maria punha-lhe o manto azul-marinho, de lã pura, tecida cm Jerusalém que fora delicado presente de Lia, uma de suas mais queridas amigas de infância.
Aos
doze anos de idade o porte do menino era ereto e altaneiro, pois as roupas
caíam-lhe majestosas sobre o corpo impecável, de anatomia tão admirável, que
causava inveja às mães dos meninos trôpegos ou defeituosos. Nele se justificava
o provérbio de que o "belo e o bom não são imitados, mas apenas
invejados", pois tanto o invejavam pela fartura do seu encanto, pela prodigalidade
de sua doçura e cortesia, como devido à sua dignidade e conduta moral mais própria
de um sábio e de um santo! Embora fosse criatura merecedora de todos os mimos
do mundo, nem por isso a maldade humana deixava de atingir o menino Jesus, em
cuja fisionomia, esplêndida e leal, às vezes pairavam algumas sombras
provocadas pela maledicência, injustiça e despeito. Aliás, o que é delicado é
mais fácil de ser maltratado, pois enquanto o condor esfacela um novilho, o
beija-flor sucumbe sob o afago do menino bruto! Assim também acontecia com Jesus.
Seu porte atraente, a sua beleza angélica, a sabedoria prematura e a meiguice
invulgar, tornavam-no um alvo para a concentração de fluidos de ciúme, de
inveja e sarcasmo! Enfrentou, desde cedo, a maldade, a má-fé, a malícia e a
hipocrisia humanas, o que é natural às almas sublimes exiladas no plano
retemperador e educativo dos mundos materiais.
Ramatís – “O Sublime Peregrino”
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