PERGUNTA: Não seria mais conveniente que todos os
médicos desencarnados também só receitassem ervas e remédios caseiros, evitando
a medicação alopática que pode ser perigosa, quando receitada por médiuns muito
anímicos?
RAMATÍS:
Em primeiro lugar, esclarecemos que os espíritos desencarnados só receitam de
acordo com o seu próprio conhecimento adquirido na Terra; e, além disso, a preferência,
a simpatia ou a tolerância dos enfermos variam quanto aos diversos tipos de drogas
e medicamentos. Alguns são alérgicos a certos remédios, mas outros já os
assimilam satisfatoriamente. Há doentes que se recuperam apenas pelo uso da
homeopatia e são inócuos à medicina alopática, às infusões de ervas tóxicas ou
à química farmacêutica. Há criaturas que se restauram facilmente pela
terapêutica violenta das injeções, em perfeita afinidade com a sua constituição
psicofísica mais densa. Finalmente, ainda existem pessoas de natureza magnética
muito receptiva ou sensível, que logram a saúde pela terapia das
"simpatias", dos benzimentos e exorcismos.
Em consequência, os espíritos de médicos desencarnados
procuram receitar aos enfermos a medicação mais adequada ao seu tipo orgânico
ou psíquico, atendendo mais ao doente do que propriamente à doença. Deste modo,
o remédio miraculoso indicado pelo "preto-velho" a determinada
criatura pode ser inútil e mesmo nocivo a outro tipo de indivíduo condicionado
somente à homeopatia. Esse é o motivo por que ainda existe no vosso mundo um
arsenal tão heterogêneo e variado de medicamentos e os diversos tipos de dietas
e sistemas de tratamento, a fim de se atender aos tipos humanos conforme os
seus complexos biológicos e não de acordo com suas doenças.
PERGUNTA: Que dizeis do sucesso do receituário de
"pretos-velhos", silvícolas e caboclos nos terreiros de Umbanda, enquanto
já não lhes sucede o mesmo êxito nas suas prescrições junto à mesa espírita
kardecista?
RAMATÍS:
Os "pretos-velhos", os caboclos e os índios logram melhor êxito nos
trabalhos de Umbanda, porque ali encontram o clima psíquico mais simpático e
dinâmico à sua índole e aos costumes primitivos que lhes foram familiares na
Terra. Nesse ambiente pitoresco, eles reavivam suas reminiscências terrenas,
evocam suas experiências de curandeiros, quando, ainda encarnados, manuseavam a
medicina ervanária ou o processo da magia de campo e de mato.
Não vos deve surpreender o melhor resultado terapêutico
que eles obtêm no ambiente de Umbanda, pois as ervas, as infusões caseiras, a
homeopatia, os exorcismos, os benzimentos e as "simpatias" sempre
foram os recursos de que se utilizaram na Terra para atender aos enfermos de
corpo e de alma. Eles sentem-se mais à vontade no clima catalítico que os ajuda
a dinamizar suas forças psíquicas pelas sugestões regionais eletivas, pelos cânticos
ou "pontos", objetos, patuás e rituais, que lhes contemporizam o
próprio saudosismo do orbe terráqueo.
Ali associam os motivos e as condições já
vividas na matéria e misturam-se entre os "filhos do terreiro",
livres de quaisquer complexos ou constrangimentos, enquanto manifestam o seu
temperamento no próprio linguajar de sua pátria terrena. Junto à mesa espírita
kardecista, os guias receitam quase somente pelo contacto perispiritual,
enquanto os médiuns escrevem apressadamente pela via intuitiva; no sistema de Umbanda,
os "pais de terreiro" atuam pelos plexos e gânglios nervosos dos seus
"cavalos", conversando, indagando, e até modificando a receita indicada
anteriormente. Movimentam-se pelo terreiro, luz acesa e sem concentração, em
que ajustam os médiuns à sua própria configuração perispiritual, os
"pretos-velhos", os silvícolas e os caboclos "batem-papo"
com os "filhos de Umbanda", ouvindo-lhes as queixas, estudando-lhes
os problemas, enquanto recomendam a medicação e a dieta mais adequadas a cada
caso.
Embora louvemos a resolução sadia de Allan Kardec em
escoimar o Espiritismo das práticas supersticiosas e dos ritualismos inúteis e
dispensáveis, o bom espírita deve respeitar o ensejo mediúnico dos terreiros de
Umbanda, em cujo ambiente fraterno os espíritos ainda afeitos às formas do
mundo terreno, também encontram o ambiente espiritual eletivo para exercerem o
Bem sob a Inspiração do Cristo!
Do livro: Mediunidade de Cura – Ramatís/Hercílio
Maes – Editora do Conhecimento.
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