Sabedoria Ramatis

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segunda-feira, 15 de junho de 2015

O Diabo e a sede do seu reinado - III





Pergunta:  Então, devemos concluir de vossas palavras que o Diabo é apenas um produto da imaginação humana; não é assim?
Atanagildo: Não há dúvida de que o Diabo é produto mórbido da imaginação humana, pois o figurino escolhido para vesti-lo ainda é o próprio homem, revestido de todas as suas maldades. Existindo na Terra homens que cometem atrocidades as mais bárbaras, quer em tempo de paz, quer em tempo de guerra, nos horripilantes matadouros dos campos de concentração, acredito que é tolice e falta de imaginação do homem o pretender pintar um Diabo pior e mais cruel do que ele mesmo!
Se examinardes a história terrena, verificareis que nunca existiram atrocidades, crimes, torpezas, impiedades ou vinganças maiores do que as praticadas pelo homem, de vez que eles as cometem com mais requintes de malvadeza do que se fossem praticadas pelo Diabo!
As cruzadas da Idade Média, que retalhavam vivos os "infiéis"; a "Noite de São Bartolomeu", quando milhares de católicos apunhalaram os protestantes por ordem de Catarina de Médicis; a impiedade dos Doges venezianos; as tropelias de Atila; as pirâmides de cabeças decepadas por Gengis-Khan; a matança dos cristão nos circos de Roma; as torturas dantescas da Inquisição; as chacinas monstruosas da China; os enterrados vivos no Egito; as degolas em massa na Turquia; os empalamentos na Índia; os milhares de judeus assassinados pelos nazistas, porventura não são acontecimentos que fariam corar de vergonha, ante seu fracasso, o Diabo mais perverso? Acresce, ainda, que o pobre Diabo mitológico, capaz de assustar os religiosos dogmáticos, há muito tempo que deve sofrer de invencível complexo de inferioridade, pois ainda não gozou da volúpia de lançar uma bomba atômica sobre 140.000 criaturas que respiravam oxigênio e faziam planos de ventura humana, nem tampouco pôde apreciar o "magnífico" espetáculo de vê-las se transformarem em gelatina fervente.
Os próprios sacerdotes católicos, que tanto acusam o infeliz Belzebu e lhe atribuem a culpa de todas as maldades do mundo, não se tornaram, porventura, os seus fiéis procuradores, quando Gregório IX instituiu o Santo Ofício e, à sombra da proteção de Fernando e Isabel, os reis católicos, torturavam criaturas humanas e arrebanhavam as fortunas dos "infiéis" para depois os fazerem estorricar nas chamas purificadoras do programa religioso oficial?
Todas essas barbaridades, praticadas pelos poderosos da Terra, não significaram, porventura, verdadeiros insultos ou desafios a Satanás e uma técnica bem mais original que a dos vulgares recursos dos caldeirões de líquidos ferventes?
Pergunta:  Ante a vossa liberdade de expressões, apreciaríamos ouvir outros pormenores relativos ao descrédito do Diabo e às razões por que o homem o superou em malignidade. Podeis atender-nos?
Atanagildo:  Conforme vos tenho exposto, o Diabo já é uma figura de pouca importância e bastante superada pelo maquiavelismo do homem, que o venceu em maldade, hipocrisia, cupidez, vingança, luxúria, avareza e desonestidade. Há muito tempo que Satã já devia ter sido dispensado de suas mórbidas funções, quer por ineficácia e falta de imaginação, quer por faltar-lhe a índole ou o dom congênito que o tornasse capaz de produzir crueldades inéditas, que pudessem impressionar os seres humanos. 
O seu sistema de agir, demasiadamente anacrônico, já não atemoriza a humanidade, pois ainda teima em seguir a velha fórmula de cozinhar os pecadores nos caldeirões de azeite fervente e chumbo derretido, embora com algumas variações burlescas de espetá-los em garfos enferrujados ou assá-los ao molho de enxofre. É um sofrimento demasiadamente "estandardizado" e despido de novas emoções; acredito que ele ainda o prefira mais devido à força de hábito em um ofício milenário e tradicional, do que por qualquer preocupação em se vingar do gênero humano.
E uma das provas do pouco caro que o homem do século XX atribui às ameaças de Belzebu - também chamado Príncipe dos Demônios - pode se encontrar facilmente no crescente descalabro moral e crueldade do mundo terreno atual, pois a humanidade se prepara para matar cientificamente e se degrada filosoficamente, enquanto uma grande parte realiza o mais entusiasta concurso no campeonato da desonestidade.
Se o inferno, com os seus anacrônicos caldeirões ferventes e com o braseiro de churrasquear pecadores, tivesse força suficiente para atemorizar a humanidade terrena, é evidente que, desde há muitos séculos, o homem já estaria radicalmente regenerado em espírito O Diabo, criado pela imaginação primitiva da mitologia do passado - é fora de qualquer dúvida! - já se encontra completamente saturado do seu ofício tão espinhoso e ridículo. Não se duvida de que ele já deve nutrir uma vaga esperança de obter sua breve e tranqüila aposentadoria, a fim de se livrar do trabalho com seus caldeirões de azeite fervente, libertando-se também das responsabilidades de manter as vultosas reservas de carvões e substâncias combustíveis para atender à fervedura dos seus clientes, cujo número cresce assustadoramente, já não havendo tachos disponíveis para atender às longas filas à porta do inferno! Belzebu há de querer repousar os nervos e melhorar a sua saúde, vivendo a distância do ambiente infernal, tão saturado de fumaça, fuligem e da gritaria que lhe azucrina os ouvidos dia e noite... O homem, em sua imaginação mórbida, criou o ambiente atormentador do Inferno e, em sua maldade instintiva, ainda impôs terrível sofrimento ao próprio Diabo, obrigando-o a exercer um ofício rude, exaustivo e anacrônico, tornando-o um indivíduo neurótico e psicopata, quando devia merecer algo da ternura humana.
Do livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís – Atanagildo/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.

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