Sabedoria Ramatis

Sabedoria Ramatis

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O Diabo e a sede do seu reinado - V




Pergunta:  Isso quer dizer que estão certos os comunicados mediúnicos dos espíritos desencarnados quando, em vez do Inferno e do Diabo da teologia cristã, eles descrevem o "Umbral" das regiões inferiores; não é assim?



Atanagildo:  Quanto a mim, posso vos assegurar que, depois de desencarnado, não me foi possível encontrar o Céu com sua corte de santos pronunciando extensas orações, nem mesmo as onze mil virgens em festivos cânticos, da tradição popular. Felizmente, também não me defrontei com o Inferno e os seus caldeirões ferventes, nem com qualquer bando de Diabos a perambular pelo espaço. Eis porque considero bem exatas as descrições que, por médiuns criteriosos, os espíritos têm feito das regiões do astral inferior, onde tenho ido em excursões socorristas e sacrificiais, quer por motivo de estudos, quer para retirar dali algum amigo ou alma aflita, que mereça o fraterno socorro. Mas não posso deixar de registrar que, nessas regiões, encontrei muitos espíritos de homens excessivamente mais experimentados em vinganças do que o famigerado Diabo da Teologia, pois além de torturarem impiedosamente os seus desafetos, ainda os impediam de qualquer esforço de renovação espiritual.

Não se trata, porém, de entidades devotadas à maldade, com um ofício obrigatório, ou que tenham sido atiradas às sombras por causa da ira divina, que são as razões que se costumam invocar para justificar a existência e a rebeldia do Diabo. Esses espíritos agem por sua livre e espontânea vontade, sob o mais sádico desempenho artístico, como se fossem "virtuoses" da crueldade. São almas ferozes, verdugos impiedosos e carrascos sem a menor partícula de contemporização, pois extraem de suas vítimas a última gotícula de esperança e prolongam o menor espasmo de sofrimento! Cobram-se da mais insignificante dívida e não toleram o menor prejuízo, mesmo que tenha sido fruto da imprudência ou da ignorância de suas infelizes vítimas. O que me impede a revolta diante de tais atrocidades é saber da lógica da Lei Cármica, que demonstra não existirem injustiças, dando-nos a certeza de que sempre terão fim tais sofrimentos e vinganças. E o que nos consola é saber que esses barbarismos, quer durem minutos, horas, séculos ou milênios, felizmente não passam de acontecimentos transitórios e justos, pois em jubiloso futuro tanto algozes como vítimas hão de se unir em sincero abraço de afeto e ternura, alçando o vôo definitivo para as regiões celestiais. Isto posto, considero bem mais lógicas e sensatas as "regiões umbralinas", ou do "astral inferior", que os espíritos costumam descrever em suas mensagens mediúnicas – onde as almas expiam as suas próprias criações infernais que imprudentemente alimentaram na vida física - do que o pavoroso sofrimento, na eternidade, em um inferno criado pela vingança de Deus.

Verdadeiramente, mais cedo ou mais tarde toda vítima libertar-se-á dos seus poderosos verdugos e também dos seus próprios defeitos, reajustando suas culpas com a sua própria consciência e merecendo então novos ensejos de desenvolvimento e ventura espiritual.



Atanagildo:  O inferno teológico é um produto da imaginação lendária do passado religioso, adaptada à compreensão de uma humanidade ainda atrasada. Daí o fato de se descrever o sofrimento no astral inferior como um reinado de Belzebu, com as características das torturas primitivas e dos castigos mais conhecidos e empregados naquela época. Para que a humanidade ficasse impressionada - pois que de outro modo não o ficaria - foi preciso dizer que os infelizes pecadores deveriam ser cozidos em caldeirões de água, cera ou chumbo ferventes, e assados entre carvões e enxofre. É óbvio que, se o Inferno fosse imaginado no vosso século atual, os religiosos poderiam descrevê-lo como provido de todos os recursos científicos modernos, em matéria de destruição, tais como instalação de cadeiras elétricas, bombas asfixiantes, câmaras frigoríficas ou superaquecidas, e tudo que o cidadão do século XX descobriu para aliviar a superpopulação do seu planeta...


Sem dúvida, o Inferno eletrônico do século XX não só poderia dispensar os seus caldeirões anacrônicos e anti-higiênicos, como também abandonar o sistema obsoleto de queima de enxofre e carvão, cujo braseiro vultoso consome verbas astronômicas sem esperanças de que Satã obtenha indenização por parte de pecadores já completamente falidos.

Sem dúvida, o Diabo sentir-se-ia eufórico e venturoso, nesse Inferno modernizado e automático, onde, para se moverem talhas, guinchos e vagonetes admiravelmente eletrificados, bastar-lhe-ia um rápido acionar de botões, e todo o Inferno funcionaria na mais efusiante sinfonia de gritos, berros e barulho de ventiladores e exaustores elétricos, eliminando o cheiro da carne assada! A Ciência e a Indústria, bastante desenvolvidas no vosso mundo, poderiam fornecer o aparelhamento de torturas mais genial e eficiente para o Inferno, acomodando-o na conformidade dos tipos, pesos e torpezas dos pecadores modernos. Acredito que os comodistas e os ociosos teriam que repousar eternamente sobre confortáveis redes anatômicas, elétricas; os exploradores do próximo rodariam de modo divertido dentro de modernas máquinas de lavar roupa, mas repletas de água fervente, que lhes arrancaria a pele sem danificar os órgãos; os avarentos seriam condenados a contar falsários e os hipócritas ficariam se debatendo dentro de fornos elétricos, aquecidíssimos, tentando abrir e fechar suas portas falsas e sem saída; os coléricos e irascíveis seriam colocados incessantemente sob chuveiros elétricos de água fervente; os cruéis seriam colocados em excelentes churrasqueiras rodantes, enquanto os administradores relapsos e delapidadores do patrimônio público ver-se-iam condenados a servir-se de poderosas canetas eletrificadas, eternamente obrigados a encher cheques feitos de folhas de aço...

Uma vez que a própria Terra evolui, desde o seu cenário material até às realizações mais prosaicas de sua humanidade, por que também não hão de evoluir o Diabo, o Inferno e o Céu bíblicos, transformando-se para melhores condições? Quanto a este último, não seria razoável que a alma terrena, já conhecedora das magistrais obras de Beethoven ou de Mozart, terminasse se entediando contra os anacrônicos tocadores de rabecas, as procissões e o cantochão litúrgico, que ainda fazem sucesso num céu primitivo? Creio que a simples idéia de faltar no céu o popular acordeão moderno já seria motivo suficiente para que a maioria dos "fiéis" se desinteressasse do lendário Paraíso.



Do livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís – Atanagildo/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...