PERGUNTA:
- Como poderemos distinguir os verdadeiros médiuns de cura e aqueles outros que
são apenas ignorantes, palpiteiros ou interesseiros, e que, sob a legenda de
Espiritismo, exploram o sofrimento alheio? Às vezes, tais aventureiros astuciosos
receitam com tal presteza e habilidade, à guisa de médiuns espíritas, que se torna
bastante difícil distingui-los dos médiuns idôneos ou verdadeiros. Que dizeis?
RAMATÍS: 'A mediunidade também obedece a um roteiro
progressista que se impõe e aperfeiçoa tanto pela experimentação como pelo
estudo sensato. Deste modo, é difícil, no princípio de sua manifestação,
alcançar-se o êxito e a clareza desejada, pois em sua fase inicial ela se
manifesta envolvendo o médium em dúvidas e confusões. E, assim, esse período é
propício a que o médium incipiente, pela sua inexperiência e invigilância,
incorra na distorção da ética rígida exigida no desempenho de tal função. No
entanto, efetivamente, há os que se dizem receitistas, mas que, de fato, são
curandeiros mercenários. E
os sucessos que, em alguns casos, lhes atribuem, é apenas aparente, pois os
doentes que os procuram já estão, quase sempre, cumprindo prescrições médicas
ou sentiriam melhoras em sua saúde independente de qualquer remédio.
As
enfermidades, em sua maior porcentagem, são estados transitórios de reajuste fisiológico
ou uma espécie de reação do metabolismo orgânico, no sentido de resguardar e evitar
que o corpo sofra consequências mais graves, tal como a morte súbita; assim
como também se destina a apurar o grau espiritual do ser na sua resistência
moral contra a dor.
Existem
determinadas metamorfoses na vida animal, cujas manifestações também se assemelham
a enfermidades, embora se trate apenas de fenômenos destinados a revigorar o equipamento
orgânico. Citamos, por exemplo, o caso da "muda" das penas, nas aves,
da pele, nos répteis, do pelo, nos animais, ou da lã, nos carneiros. Mudanças
físicas de aparência enfermiça, que são apenas transições processadas em épocas
próprias. E graças a essa sábia disposição da Natureza, a "muda"
resulta sempre num reajuste mantenedor de saúde mais vigorosa. Notai
que, no homem, à medida que ele cresce e se desenvolve, ocorrem certas crises fisiológicas
produzidas no seu corpo, as quais, embora sejam naturais, também se manifestam
com aparência de "moléstias". Referimo-nos ao período da puberdade
nos jovens, à menopausa nas mulheres ou à inatividade das glândulas sexuais,
nos velhos. Muitos sintomas desagradáveis ou incomuns, no ser humano, têm seu
ciclo, sua curva ascendente ou descendente, mas desaparecem na época
apropriada, sem qualquer interferência estranha. No entanto, se as
manifestações e o desaparecimento desses incômodos coincidirem durante o tratamento
receitado por algum curandeiro, certamente que o resultado seria tido como invulgar
sucesso do mesmo.
Os
enfermos que, por coincidência ou espontaneamente, se livram de seus incômodos,
quando sob o cuidado de algum charlatão, acabam sempre por gabar virtudes terapêuticas
que tais aventureiros não possuem. E são-lhes gratos porque se acreditam realmente
curados por eles.
Ditos
curandeiros, quando a sua terapêutica resulta em fracasso, alegam negligência dos
pacientes quanto ao tratamento prescrito; ou, então, censuram-lhes a falta de
fé na medicação. E quase sempre eles se saem bem, pois o homem comum não
entende, a contento, o que seja a fé, nem sabe mobilizá-la em seu próprio
benefício. Sendo do feitio humano
que um acontecimento espetacular suplanta dezenas de outros sem sucesso, uma só
cura de aparência miraculosa é suficiente para propiciar fama a qualquer de
tais charlatões. Há pouco tempo, certa instituição médica (dos Estados Unidos
da América do Norte), ao efetuar autópsias e pesquisas em centenas de
indigentes, comprovou que mais de um terço deles havia contraído doenças graves
e resistido às mesmas durante longos anos, curando-se, até, espontaneamente,
sem precisar de tratamentos médicos ou de medicamentos específicos, de ação
fundamental. Esses indigentes recuperaram-se mobilizando suas próprias defesas
e reservas
orgânicas, sem necessidade de qualquer intervenção ou disciplina médica. Em alguns
casos, as úlceras tinham cicatrizado, sumiram-se as metástases cancerígenas, os
pulmões lograram sua calcificação espontânea e o pâncreas recuperara-se de
graves atrofias. Residuais de tumores provaram que eles foram drenados
naturalmente pelas vias emunctórias, assim como a circulação sanguínea vencera
profundas anemias e o coração restaurara-se, evitando infartos perigosos. Em
dois casos de alcoólatras, o tecido conjuntivo hepático revelava indícios de
cirrose regredida; e quatro por cento traíam vestígios de pronunciada amebíase
nas paredes do cólon intestinal, espontaneamente restabelecido.
Mediunidade de Cura - Hercílio
Maes/Ramatís.
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