Sabedoria Ramatis

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quarta-feira, 19 de março de 2014

Considerações sobre a mediunidade natural e de prova – 3ª Parte (Final)


PERGUNTA: A nosso ver, ainda é grande a porcentagem dos médiuns que  fracassam no exercício da mediunidade, após terem gozado o prestígio de faculdade  mediúnica incomum. Que dizeis?

RAMATIS:
Quando Jesus enunciava que "muito se pedirá àquele a quem muito se  houver dado e maiores contas serão tomadas àqueles a quem mais coisas se haja confiado", (Lucas, 12: 47,48),  provavelmente o seu augusto pensamento referia-se também ao exercício da mediunidade. Sem dúvida, o  médium natural, o intuitivo puro, que já possui o tesouro espiritual da intuição angélica, é aquele que mais  recebe por mérito de sua maturidade e a "quem muito se pedirá". Mas ao médium de prova, embora seja  pobre espiritualmente,"maiores contas lhe serão tomadas", pois também "mais coisas lhe são conferidas" no  serviço mediúnico, para ressarcir os seus pecados pregressos.
Mas não é propriamente a posse prematura da faculdade mediúnica o motivo responsável pelo  fracasso muito comum de alguns médiuns em prova na matéria. Isso é mais conseqüente de sua imperfeição  ou contradição espiritual, pois o médium, em geral, é espírito que decaiu das posições privilegiadas do  passado, sendo ainda muito apegado à sua personalidade humana transitória. Deste modo, ele subestima a  transcendência dos fenômenos que se processam por seu intermédio e os considera mais como produto  exclusivo de sua vontade e capacidade mental.
Embora muitos médiuns sejam inteligentes e mentalmente desenvolvidos, o orgulho, a vaidade, a  ambição, a prepotência, a cupidez ou a leviandade ainda os fazem tombar de seus pedestais frágeis, porque  se crêem magos excepcionais ou indivíduos de poderes extraordinários para a produção de fenômenos
extemporâneos ou revelações incomuns. A Terra ainda é pródiga de magos de feira, curandeiros mercenários  ou iniciados sentenciosos que, através de rituais extravagantes, atraem e exploram as multidões ignorantes.
São verdadeiros "camelôs" da espiritualidade que, beneficiados pela graça mediúnica concedida pelos  espíritos benfeitores, exploram-na sob o disfarce da magia ou dos poderes esotéricos, mas sempre evitando a  disciplina do Espiritismo que, sem dúvida, lhes exigiria conduta ilibada e o absoluto desinteresse no trato  das coisas espirituais.
Entretanto, chega o momento em que eles são atingidos em cheio pela Lei Sideral, que lhes estanca  a exploração do veio aurífero da mediunidade a serviço do comércio indigno e dos interesses pessoais. E  assim terminam os seus dias sob terrível humilhação espiritual e sofrendo as agruras do mau emprego dos  favores concedidos pelo Alto.  Aliás, muitas lendas terráqueas são verdadeiros simbolismos e alusões ao mau uso dos dons  mediúnicos, quando certos médiuns traem a confiança dos seus mentores siderais. A tradição lendária  narra o caso de criaturas que, depois de favorecidas com os poderes excepcionais concedidos por anjos,  fadas ou gênios benfazejos, terminam perdendo-os lastimavelmente pela avareza, cupidez, vaidade, desleixo ou interesse mercenário.
Diz a lenda que certo avarento foi transformado em abutre porque não distribuiu o dinheiro que lhe  havia concedido a fada do bosque. Depois conta a história do homem ambicioso que, tendo recebido do gênio  bom um poder excepcional, preferiu usá-lo para transformar em ouro tudo aquilo em que tocassem suas mãos,  terminando por morrer de fome e sede, porque até a água e os alimentos se transformavam no dourado metal
quando ele os tocava! Há, ainda, a conhecida lenda do homem que se prontificou a entregar sua alma a  Lúficer, caso não gastasse diariamente todo o dinheiro que por ele lhe fosse fornecido. Infelizmente, perdeu a  aposta, pois, tendo esgotado todos os recursos para malbaratar a imensa fortuna que o Diabo lhe carreava  incessantemente, faliu antes do prazo, porque se esquecera de praticar a caridade! ...
Sem dúvida, tais narrativas não passam de lendas e contos fantásticos mas, em sua profundidade,  permanece o ensinamento espiritual do fracasso daqueles que fazem mau uso dos talentos proporcionados  pelo Senhor da Vida. A mediunidade, realmente, é um desses talentos que os gênios do Bem concedem aos  espíritos endividados e que necessitam urgente de sua própria reabilitação espiritual. No entanto, ela pode  desaparecer a qualquer momento, desde que o seu portador a conspurque na Terra para satisfazer sua vaidade  ou obter proventos ilícitos. A nenhum médium é facultado servir-se da mediunidade para o seu uso exclusivo  ou aproveitamento egocêntrico, nem expô-la em público na feição de tabu de negócios. É também um dos  talentos concedidos por Deus a seus filhos, tal como ensinou Jesus na sua parábola de admirável  ensinamento espiritual (Mateus, 25: 14-30).
As forças psíquicas tanto se degradam na manifestação espetacular que só exalta a personalidade  As forças psíquicas tanto se degradam na manifestação espetacular que só exalta a personalidade  humana transitória, como se deturpam quando são transformadas em mercadoria destinada a criar todas as  facilidades ou atender aos caprichos da vida física. Os valores legítimos da faculdade mediúnica, quando  são desenvolvidos e praticados com o Cristo, não produzem as quedas e as humilhações que abalam a  vida tumultuosa dos médiuns imprudentes.
O médium, como instrumento fiel da vontade do Senhor, revelada no mundo de formas,  elabora um dos piores destinos para o futuro quando, pela sua negligência ou má-fé, subverte o programa  espiritual que prometeu divulgar à superfície da Terra. Há sempre atenuante para aquele que peca por  ignorância, mas é indigno da tolerância quem o faz deliberadamente, depois de haver-se comprometido  para a efetivação de um serviço que diz respeito ao bem de muitas outras criaturas.

Do livro: “Mediunismo” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.


 

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