Solicitamos à veneranda irmã que nos fale um pouco
de si, no intuito de situar melhor o leitor espiritualista, menos afeito à
Umbanda, egrégora em que sois mais conhecida.
VOVÓ MARIA CONGA: Saudamos os filhos de todas as crenças
terrenas nas suas mais variadas manifestações. Seremos concisa, pois não
gostamos de falar de nós.
Somos discreta servidora da caridade anônima, e se há
um nome e uma forma astral de apresentação aos homens, nesse caso uma combalida
vovó, preta velha septuagenária, curvada no débil corpo de ossos carcomidos, é
exatamente pela necessidade de exemplificação de humildade aos homens, nada
mais. O corpo físico que foi vestimenta fugaz, e lentamente foi-se finando
diante dos anos, serviu de meio imprescindível ao fortalecimento do ser imortal
para o festim de libertação do presídio das posses ilusórias na matéria, da
prepotência e do egoísmo humano. Somos espírito comprometido com o amparo das criaturas
sofredoras e doentes que procuram o alívio e a cura dos males que os afligem.
Ligamo-nos a Ramatís desde eras em que quase a nossa
memória espiritual falha, tal a antiguidade desse encontro, que se deu em outro
planeta do Universo. Viemos com esse irmão para a Terra dos homens, onde
estamos há algumas dezenas de milhares de anos, desde os Templos da Luz da
velha Atlântida, já tendo reencarnado várias vezes, compromisso de mergulho na
carne de que estamos dispensada nesse orbe, o que não nos isenta de
continuarmos evoluindo junto aos homens. O fato de um espírito não precisar mais reencarnar não
significa que seja perfeito, ou um facho de luz proveniente de locais elevados
que ofusca os olhos dos encarnados.
Ao contrário, pelo pouco alcançado, de amor
ao próximo, aumentam em muito as obrigações de auxílio para com aqueles retidos
na carne e, no nosso caso, também aos afligidos que transitam pelos vários
recantos, do que vocês chamam de Umbral Inferior. Para nós, são buracos largos, áridos, escuros e profundos,
com vastos habitantes: vermes, répteis, animais putrefatos, seres que já foram
homens na crosta, se apresentando com sérias deformações em seus corpos
astrais, em formatos de animais, lobos andrajosos, ursos com garras, macacos
peludos, ou ainda como seres patibulares de faces cadavéricas, de olhos injetados,
com patas em lugar de pés e mãos, e estiletes pontiagudos em vez de unhas;
todos "homens" desencarnados a perambular em bandos rastejantes,
fétidos e deformados, que emitem incessantes uivos animalescos de rancores e
lamentos dolorosos.
As desfigurações, as loucuras dessas mentes
desencarnadas é que sustentam o império dos "lucíferes", entidades poderosas
que realmente acreditam ser o próprio diabo a comandar em perpétuas torturas as
suas legiões infernais, a servirem no mal e na magia negra os homens encarnados
da crosta do planeta. É um escambo fluídico de larga disseminação nessas
regiões, onde os pensamentos dos dois planos da vida jungem-se irremediavelmente
pela semelhança de interesses desditosos.
Nascemos em encarnação passada no Brasil como simples
filha de escravos vindos da região do Congo, situada na África, e fomos
alfabetizada e catequizada na religião católica. Íamos à missa todos os
domingos, mas, desde menina, quase que diariamente, na penumbra da senzala,
como curiosa aprendiz, relembrávamos, por meio da prática com velho feiticeiro
da nossa tribo, os rituais de magia do antigo Congo do Oriente, que jaziam em
nosso inconsciente
de longa data, encontros em que esses conhecimentos
nos foram repassados oralmente e renasceram por anos a fio.
Tínhamos livre trânsito, mas éramos escrava igual a todos.
Não chegamos a sentir no dorso as chicotadas dos capatazes da fazenda, pois
éramos muito querida da sinhá e do sinhô, a ponto de termos sido mãe de leite
dos seus filhos. Nosso sofrimento foi no âmago da alma, causado pelas muitas
mortes ocorridas em nosso colo, dos irmãos de cor, vários nascidos em nossos
braços de parteira; todos negros, surrados diariamente em nome do feitor,
abaixo de cortante chibata. Muito curamos as feridas dos irmãos torturados aos
pés dos troncos e dos formigueiros, pois éramos exímia conhecedora de ervas e
fazíamos simpatias e benzeduras que aprendemos com as escravas mais antigas.
Fomos abadessa na Idade Média (1), em espécie de
hospital católico na Espanha do século 13, momento terrível da Inquisição. A
Igreja era fortemente contrária a todas as crenças, e os hereges eram
perseguidos em nome do Cordeiro. O povo oprimido e ignorante jogava-se aos
nossos pés em busca de proteção. Muitas crianças ficaram órfãs. Todas as
mulheres e homens que conhecessem ervas e realizassem curas deveriam ser
conduzidos e julgados pelos tribunais santos. Os infiéis eram sumariamente
queimados, e até mesmo saber ler já podia ser indício de feitiçaria; e qualquer
manuscrito estranho às escrituras sagradas era considerado diabólico. Por
receio de possíveis retaliações do clero ameaçador, que nos alertava constantemente
para a possibilidade de perda dos confortos e das mordomias da abadia, se houvesse
quaisquer suspeitas de socorro aos inquiridos. Deixamos de atender vários
irmãos que bateram a nossa porta, chagados pelos suplícios infligidos.
Nota do médium: Esse guia amoroso, Vovó Maria Conga, é entidade proveniente da Constelação
de Sírius, do mesmo planeta que abrigou a consciência espiritual que hoje
conhecemos como Ramatís. Ela também se mostra em corpo astral como uma freira,
ocasiões em que se apresenta com um grande livro nas mãos. Nessas
oportunidades, reassume a personalidade da sua encarnação como abadessa, na
Espanha do século 13, denominando-se madre Maria de Las Mercês.
Essa preta velha, humilde e laboriosa, ainda
se mostra como uma menina entre cinco e sete anos, com lindo vestido rosado,
grande laço amarrado à frente e de longas tranças loiras, chamando-se, nesses momentos,
de Chiquinha, atuando na magia como uma entidade do orixá Yori. Relata-nos que
foi muito feliz nessa encarnação de criança, que muito a marcou por ter sido a
última na longa caminhada de libertação do ciclo carnal, embora tenha ocorrido
um desencarne repentino, mas sem sofrimento, por volta da idade em que se deixa
ver.
Não fizemos o mal, mas deixamos de praticar o bem da
caridade cristã que tanto alardeávamos no meio religioso.
Vários dos cruéis e orgulhosos inquisidores espanhóis abrigamos
nos braços como recém-nascidos ou escravos torturados em chão brasileiro, e com
os conhecimentos de magia, de ervas, das simpatias e benzeduras resgatamos o
descaso de outrora.
Não é verdade que somos mais conhecida na Umbanda,
egrégora em que nos apresentamos como preta velha, pois também trabalhamos no
kardecismo como freira versada em assuntos da psicologia humana, nos
comunicando do Além pela escrita, entre outras atividades do mediunismo.
Somente para situar os homens, tão carentes dessas
referências, é que moldamos nosso corpo astral em conformidade com as vossas
consciências, hábitos, raças e costumes sociais, obtendo assim maior aceitação
da caridade socorrista e esclarecedora em todos os meios terrenos. De nenhuma
forma porque sejamos superiores a quaisquer servidores do Cristo-Jesus que não tenham
os nomes na lembrança dos filhos, muito menos por diferenças religiosas,
filosóficas ou doutrinárias dos homens. Essas distinções e diferenças não têm a
menor importância, pois o que nos rege é o amor, o combustível cósmico que
movimenta a grande Fraternidade Branca Universal.
"Evolução No Planeta Azul” Ramatís e Vovó
Maria Conga/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento
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