PERGUNTA: Qual o significado do que
diz João Evangelista, no Apocalipse: "E vi uma de suas cabeças como ferida
de morte; e foi curada a sua ferida mortal"?
RAMATÍS: Considerando que as
"cabeças" da Besta significam a força perigosa dos instintos animais,
quer isso dizer que a Besta foi ferida justamente no seu potencial de ódio,
quando o Cordeiro baixou à Terra para pregar o Amor. O sacrifício de Jesus, o
martírio dos cristãos nos circos e o dos apóstolos em vários pontos do mundo,
renunciando à vida da carne para exaltação do amor, significaram um ferimento
mortal na cabeça odiosa da Besta, que promove a separação entre os seres, as
raças e as doutrinas.
Jesus viera reunir as ovelhas sob o cajado de um
mesmo pastor, e por isso nenhuma delas se perderá!
No princípio do Cristianismo a Besta começou,
então, a ser tolhida num dos seus mais terríveis instintos animais, do que
resultou diminuir o ódio entre os homens que, assim, corriam ao apelo do
Evangelho. A força vigorosa que feriu a cabeça da Besta provinha daqueles
primeiros seres que seguiam os ensinos do Cristo e que, mais tarde, foram sendo
substituídos pelos frades trapistas, os capuchinhos, os bernardinos e eremitas
de toda espécie, que percorriam o mundo pregando o amor e convidando o homem a
reduzir a sua violência milenária. Era uma mensagem viva, de sacrifício e de
pobreza honesta, de dignidade humana e renúncia em favor do próximo, que esses
homens traziam sob a inspiração do Cristo! Os Mentores do Alto já se
rejubilavam nessa ofensiva crística à Besta, aumentando o número de
"direitistas" a se salvarem no futuro exame severo do "juízo
final".
O Cristo ferira de morte uma das cabeças da Besta,
justamente a do ódio entre os homens; mas a Besta conhecia a debilidade humana,
e tratou de explorá-la, mesmo ferida de morte e ainda exangue, pois encontrara
o meio sorrateiro para ser curada em sua ferida mortal! E, em consequência, o
Evangelho do Senhor começou a ser olvidado. E a Besta inspirou, então, as
sangrentas campanhas das cruzadas e semeou a morte, a dor e o sangue nas
campinas verdejantes do mundo, "glorificando-se na insolência e na
blasfêmia" porque a solerte mensagem de ódio e de crimes fora justamente
pregada em nome do Cristo! E foi curada a sua ferida mortal, pois aquele que a
havia ferido de morte, a Besta o invocou perfidamente para acobertar o próprio
ódio que semeou sob o disfarce de um falso amor.
Graças
aos homens invigilantes que inverteram a essência da mensagem amorosa de Jesus,
no derrame de sangue supostamente infiel, o ódio disfarçado em amor foi o
"unguento" capaz de curar a ferida mortal da Besta e recolocá-la no
seu velho cinismo e abominação! A cilada tremenda, a pretexto de que os fins
justificam os meios, criara novos estímulos cruéis para o futuro, em nome do
Cristo, alimentando novos propósitos daninhos. Então a Besta, restabelecida,
inspirou a Inquisição e cometeu os mais bárbaros crimes à sombra dos
subterrâneos infectos; Catarina de Medíeis matou a torto e a direito os
huguenotes, na noite de São Bartolomeu; os protestantes liberais, escorraçados
da velha Inglaterra, tornaram-se os "quakers" puritanos, mas também
queimaram os novos crentes da Nova Inglaterra! Sob o dossel sublime do
Evangelho, inumeráveis crimes têm sido praticados pelos sectaristas fanáticos e
pelos instrutores e inspiradores de abominações, cujo ódio "bestial"
ainda se disfarça, hoje, pelas tribunas, pelo rádio, pelos jornais, revistas e
panfletos separativistas!
Em nome do Cristo, os homens continuam a negá-lo
nos templos suntuosos e no luxo nababesco do sacerdócio epicurista,
de-traindo-o nas mais estúpidas quizilas doutrinárias! As igrejas, os templos,
as instituições, as lojas, os centros e agremiações espiritualistas combatem-se
não só entre si como no seu próprio seio, preocupadíssimas em pregar um
Evangelho exclusivista, a seu modo de ver, como se ele fosse mercadoria de
competição na praça! Essas discordâncias, esses caprichos pessoais e blasfêmias
religiosas transformam-se em contínuo unguento medicamentoso para curar a
ferida da Besta "que tinha recebido um golpe de espada e ainda continuava
viva" (cap. XIII — 14).
DO LIVRO: “MENSAGENS DO ASTRAL”
RAMATÍS/HERCÍLIO MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.
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