PERGUNTA:
- Qual é o sentido e a ação da lei, em relação ao conceito evangélico de Jesus
que assim enuncia: "Não se pode servir a Deus e a Mamon"?
RAMATÍS: Apesar da existência de uma só Unidade Divina, ou seja, a Suprema Lei do
Universo, que governa e disciplina os fenômenos da vida espiritual e física, o
espírito do homem parte da dualidade, ou do contraste, para, então, se
ajustar conscientemente ao monismo de
Deus. Ele desperta a sua consciência individual percorrendo a senda da evolução
espiritual, baseado no conhecimento e domínio das formas, mas sempre balizado
pelo dualismo das margens opostas. A sua noção de existir, como alguém
destacado no seio da Divindade, firma-se, pouco a pouco, nas convenções de positivo
e negativo, branco e preto, sadio e enfermo, masculino e feminino, direito e
torto, acerto e erro, virtude e pecado. É a chamada lei dos contrários, tão
aceita pelos hermetistas.
Conforme
já explicamos alhures, embora Jesus tenha firmado os seus ensinamentos evangélicos
nos acontecimentos e nas configurações físicas da vivência humana, em suas parábolas
oculta-se a síntese das leis eternas que disciplinam criativamente o Cosmo. Assim,
no enunciado evangélico de que "Não se pode servir a Deus e a Mamon",
Jesus expressa, intencionalmente, nesse contraste, as leis que regem ambos os
mundos espiritual e material.
O
reino de Deus, configurando que a verdadeira vida do espírito imortal é uma resultante
do mundo material e se rege por outras leis infinitas e imutáveis; apesar do dualismo,
pela unidade.
O
homem consegue a libertação vivendo na matéria, conforme as leis espirituais
expressas por Jesus em sua romagem terrena. É matriz original, que plasma o
cenário de formas do mundo de Mamon, como um invólucro exterior, mas provisório
e conhecido como Universo físico, o qual se constitui por galáxias,
constelações, astros, planetas, satélites e asteróides. É o palco educativo,
para os espíritos virgens, simples e ignorantes modelarem e organizarem a sua
consciência individual, até possuírem a noção de existir no seio de Deus.
PERGUNTA: Mas esse ensinamento evangélico de que "Não se pode servir a Deus e a
Mamon", não implica uma rasa separação de dois mundos conflitantes e
opostos, onde apenas se valoriza o reino do espírito, mas se condena o desprezível
mundo da matéria?
RAMATÍS: Já vos dissemos que Deus é único e o Universo monista. Assim, jamais
pode haver conflitos na concepção de dois mundos, os quais permanecem constituindo
o mesmo Cosmo. Trata-se apenas de um propósito educativo e conciliador, concebido
pelos próprios líderes espiritualistas, a fim de se distinguir as diferentes operações
legislativas que atuam em pólos opostos, mas visando sempre o melhor conhecimento
da Unidade Divina. Não há separação absoluta entre o "reino de Deus"
e o "mundo de Mamon", mas apenas se distinguem dois modos de vivência
aparentemente opostos, entre si, e que, no entanto, não modificam a Unidade
Fundamental da Vida Cósmica. Trata-se mais de um ponto de apoio mental humano,
cujo contraste permite ao espírito limitado do homem efetuar pesquisas,
análises e conclusões, que lhe são favoráveis para o mais rápido modelamento da
própria consciência individual.
O
espírito trabalha, objetivamente, no mundo de Mamon, numa pesquisa e observação
centrípeta, a fim de ao mesmo tempo, organizar e aperfeiçoar a forma; mas, por intuição,
ele sente cada vez mais e melhor a natureza centrífuga e real de Deus.
O
instinto animal, que opera através das leis fisiológicas, mas é excessivamente
cego, modela o organismo carnal para o espírito poder atuar no mundo de Mamon,
exercendo a sua ação de modo particular e condicionado. Em consequência, na sua
focalização humana no cenário do mundo físico, o espírito precisa lutar,
veemente e sacrificialmente, para poder impor os seus princípios espirituais
superiores sobre as tendências animais instintivas inferiores. É como o cavalo
selvagem bravio, que tem de ser domado para, então, ser utilizado na tração útil
de carros ou como montaria.
Sob
a força do instinto animal de conservação do indivíduo, o espírito arrecada e acumula
bens e valores, aliciados incessantemente no mundo exterior, a fim de ativar e compor
o núcleo de sua consciência pessoal, que é preenchida pelas experiências e conclusões
no educativo intercâmbio "psicofísico". Apercebendo-se das leis e dos
motivos que regem o equilíbrio das vidas planetárias, pode concluir sobre a
Inteligência Suprema, que é na realidade o agente causal e disciplinador dos
fenômenos e acontecimentos exteriores. O homem sente intimamente a presença de
Deus, como a fonte sublime e infinitamente sábia que criou, cria e governa o
Universo. Sob o domínio das leis rudes e draconianas do mundo de Mamon, que o
acicatam sem descanso para compor e plasmar a sua consciência individual, é
incessantemente sensibilizado por esse intercâmbio psíquico. Então, se
apercebe, pouco a pouco, da presença divina oculta, mas diretiva para o próprio
aperfeiçoamento, que lhe atua na intimidade humana elaborando a metamorfose
angélica. Sem dúvida, enquanto o espírito serve no mundo educativo e
transitório de Mamon, ele ainda não pode distinguir lucidamente quanto à
realidade do "reino de Deus", o qual é a vida autêntica na
Espiritualidade. Não há razão de separação entre os dois mundos espiritual e
material; pois o homem é tão-somente um espírito materializado na face física da
Terra, orbe que também não passa de um "quantum" de energia universal
ali compactada. O espírito encarnado ausculta, mas não se apercebe de sua
realidade divina, porque ainda não desenvolveu os sentidos espirituais adequados
para desfrutar desse evento superior.
DO
LIVRO: “O EVANGELHO À LUZ DO COSMO” RAMATÍS/HERCÍLIO MAES – EDITORA DO CONHECIMENTO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.