PERGUNTA:
Qual é, enfim, o carma fundamental de cada espírito encarnado?
RAMATÍS: Em verdade, o carma fundamental de cada espírito é a condição a que
ele fica subjugado, inapelavelmente, sob um destino determinado pela natureza
do próprio planeta ou meio, onde deve
efetuar a sua nova experiência espiritual. 3
3 - Assim como um campeão de natação nem por isso fica
livre das más conseqüências de nadar num rio infestado de jacarés, um espírito
santificado terá de sofrer as injunções do clima, da pressão, da instabilidade
geológica e do solo geográfico do orbe onde ele tiver de se encarnar. Em conseqüência,
se a Terra é um planeta primário, os espíritos que nela se encarnam também são alunos
primários sob um processo educativo algo rude e incômodo, como ainda é a
natureza dessa escola planetária.
Embora seja um espírito de alto gabarito
espiritual, ou apenas um tipo primário, pouco importa se merece renascer em tal
ambiente, pois fica inapelavelmente sujeito às injunções naturais e próprias do
orbe onde tiver de habitar. Seria bastante absurda a exigência de se modificar
de imediato a composição geofísica de certo orbe, só porque lá se encarnou
determinado espírito, cuja graduação espiritual não aprova tal ambiente onde deve
viver. Assim, há muita diferença entre o "carma fundamental" do
espírito que se encarna em Marte, planeta agradável, tranqüilo e saudável, pelo
fácil controle climático e topográfico conseguido pelos marcianos, que
proporciona existência física venturosa, comparada à natureza hostil e instável
da Terra. O planeta Terra, pela sua instabilidade geológica, natureza agressiva
e rude, moradia de humanidade primária daninha, violenta, cruel, vingativa e
destruidora, qualquer que seja o grau evolutivo e a sensibilidade do espírito
superior ali encarnado, jamais poderá fugir das conseqüências
"naturais" e próprias do meio primário onde precisa ou decidiu-se de
habitar. Em conseqüência, quer o espírito seja
mau ou bom, sadio ou enfermo, ignorante ou sábio, o seu "carma
fundamental" derivase intrinsecamente da
natureza e reação de cenário físico que lhe emoldura a vivência humana.
Daí o motivo por que um espírito do quilate de um Francisco
de Assis, que era absoluta renúncia, ou mesmo de Jesus, sacrificado até a
última gota de sangue pelo seu amor aos homens, ainda sofreram mais do que o
homem comum terrícola, porque este defende-se com unhas e dentes pela melhor
sobrevivência e não alimenta os escrúpulos e a tolerância das almas sublimes.
Malgrado o seu elevado gabarito sideral, os santos não podem livrar-se da
agressividade da natureza primária de um planeta como é a Terra, nem da
ferocidade dos seus habitantes, recém-saídos das cavernas da idade da pedra, e
que só entendem as especulações do mundo de César, mas descrêem da fantasia e
duvidosa felicidade do "reino de Deus". Obviamente, Jesus não deve
ter padecido na Terra o efeito cármico de ter promovido a crucificação no
pretérito; mas, para ele ministrar o "Código Moral" do Evangelho aos
alunos terrícolas, obrigou-se, conscientemente, a sofrer as injunções da escola
primária em que viera lecionar, cujos alunos primários e rebeldes, daninhos,
desrespeitosos e cruéis, o crucificaram dominados pela sua irresponsabilidade espiritual.
Jesus enfrentava imensa desvantagem na vivência
terrena, porque, na competição humana e feroz dos terrícolas, ele só reagia
"dando a camisa a quem lhe furtasse a túnica" ou "oferecendo a
face direita a quem lhe batesse na esquerda". Entre a pomba que não se defende
do gavião cruel, apenas interessado no seu bem-estar, é óbvio que a pomba será sacrificada.
Num mundo tão agressivo e primário, ainda nos primórdios do seu aperfeiçoamento,
como é a Terra, os seus habitantes são espiritualmente analfabetos e só reconhecem
o poder da força, jamais a ternura e a renúncia. Em qualquer nível de vivência intelectual,
moral e emotiva do plano físico terrícola, só leva vantagem quem se defende protegido
pelas mesmas leis primárias e instintivas desse mesmo mundo inóspito. Mas será derrotado,
implacavelmente, o santo que, impelido por princípios espirituais inerentes à vida
de um reino superior, pretenda viver, pacífica e amorosamente, entre os
"trogloditas" de casimira e barba rapada, onde as leis e as regras de
sobrevivência ainda evocam a era do "sílex" das cavernas.
Num mundo de natureza agressiva e própria dos seres
ferozes impiedosos, tanto quanto mais delicado for o homem, mais facilmente ele
será ferido pelo impacto violento e destruidor do meio. 4 Daí o motivo por que
ao afirmar que era o "Caminho, a Verdade e a Vida", Jesus também advertia que o homem
teria de apanhar a sua própria cruz e submeter se, pacífica e resignadamente, a
toda sorte de sofrimentos e dores, caso desejasse realmente alcançar o
"reino de Deus".
4 - Diz Ramatís, na obra "O Sublime
Peregrino": "O traje de seda do príncipe rasga-se mais fácil e rápido
entre os espinheiros, do que o vestuário de couro do aldeão".
Do livro: “O Evangelho à Luz Do Cosmo” Ramatís/Hercílio
Maes – Editora do Conhecimento.
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