PERGUNTA: — Segundo a conceituação, eutanásia seria a morte sem sofrimento; a morte feliz, em seu sentido orgânico; porém, sobre o aspecto espiritual, como a interpretar?
RAMATÍS: — Para os espiritualistas reencarnacionistas, constituiria um desperdício de tempo e energia apressar o desencarne de qualquer pessoa. Muitas delas necessitam ficar mais algum tempo no corpo carnal, cumprindo os seus ditames cármicos e, nesse caso, obrigaria a uma nova vida material para cumprir alguns dias ou meses completando o tempo necessário na eliminação de energias deletérias.
PERGUNTA: — Mesmo quando se tratar de enfermos terminais, sem qualquer possibilidade de cura, e padecendo de dores atrozes?
RAMATÍS: — Sim. E as leis humanas, como reflexo dos princípios que regem o Universo, a consideram crime perante os códigos legais e as religiões dogmáticas a classificariam entre os pecados. Repetimos: ninguém tem o direito de matar qualquer ser, mesmo nos processos dolorosos insuportáveis e resistentes aos mais potentes analgésicos e, ainda, quando a previsão da ciência oficial for de morte.
O tempo de vida de cada criatura é -resultado de suas necessidades evolutivas na experiência da vida terrena para a ascensão espiritual. Como pode o homem, cego para o mundo maior, arrogar-se o direito de modificar o desenvolvimento anímico do indivíduo, se desconhece as razões da vida e da morte? Pode livrar, aparentemente, o doente de suas aflições dolorosas, entretanto não o livra de suas obrigações espirituais no universo paralelo da matéria quintessenciada. Aliás, em Esparta — na Grécia Clássica — jogavam-se as crianças com defeitos físicos ou psíquicos do cimo da Rocha Tarpéia, como processo eugênico de eliminar os possíveis socialmente inúteis. Mas, isso ocorreu numa etnia bastante bárbara e primitiva.
Em circunstância alguma, por mais racional que seja a argumentação, cabe ao homem o direito de deliberar e julgar sobre a vida e a morte de seu próximo, ou a própria. Cada criatura traz um programa de vida, ao deixar o Além para reencarnar. Esse programa vivencial, diríamos, numa linguagem cibernética, é formado por vários projetos — profissional, social, familiar, onde estão previstas as metas máximas e mínimas, dentro de um tempo mais ou menos determinado e, além disso, o seu perispírito traz cargas pesadas de energias negativas, que, no processo de higienização pessoal, passam para o mata-borrão carnal, com todas as dores e angústias devidas pelo ser eterno. Por desconhecer esses preceitos da ciência espiritual, o próprio enfermo, julgando-se incapaz de aguentar o sofrimento, pede a morte, como alívio final, sem saber que as dores do psicossoma o acompanharão no outro mundo. Há o alívio dos padecimentos corporais e não da individualidade eterna; pois, a eutanásia interrompe o processo de desintoxicação psíquica dos resíduos cármicos densos, aderidos ao perispírito, resultantes das imprudências em vidas pregressas e da atual. Inúmeros casos de morte clínica são relatados na medicina e, no entanto, retornam à vida em consequência de necessidades evolutivas.
PERGUNTA: — Não haveria um certo sadismo da parte de Deus, ao criar no mundo físico criaturas enfermas orgânica ou psiquicamente, ou defeituosas de nascença? E, ainda, negar-lhes o alívio das dores atrozes, da teratogênese, ou da alienação irrecuperável?
RAMATÍS: — Sem entrarmos em elaborações teológicas sobre Deus, e ficando somente em nosso planeta, não nos esqueçamos ser a Terra uma escola do primeiro grau de educação espiritual, cuja finalidade é ensinar o bê-á-bá para o espírito em evolução, que é o amor ao próximo e a si mesmo e, nesse objetivo, são usadas várias técnicas pedagógicas. Devido ao primarismo emocional e dos sentimentos humanos, muitas vezes os mestres vêm-se na obrigação de usar certas técnicas, aparentemente odiosas, lembrando-nos da advertência crística (em Mateus): "Não deis o que é sagrado aos cães, não jogueis pérolas aos porcos, para que eles não as pisem com as patas e, voltando-se, vos dilacerem". Um desses métodos são as moléstias com seus sofrimentos atrozes, consequentes a desvios da Lei maior, feitos pelo doente por sua animalidade primitiva.
A Lei Divina, em seu objetivo maior, serve-se de uma didática, às vezes pouco ortodoxa, para proporcionar à pessoa um retomo mais rápido à escalada evolutiva. A Lei reeduca, não pune. Portanto, constitui a prática da eutanásia uma intervenção inoportuna, não permitindo ao enfermo completar sua higiene perispiritual, conforme o projeto reencarnatório, planejado pelos mestres espirituais dentro de uma prática divina. Sabe-se que a dor concentra as forças internas do espírito para resistir ao desprazer, mobilizando as energias sublimes internas e, ao mesmo tempo, leva a alma a reflexões, num movimento total para novos paradigmas vivenciais.
Diante do exposto, não podemos atribuir qualquer injustiça à Divindade, pois, é o próprio homem, com sua incúria, quem cria as situações dolorosas para si e para seus parceiros cármicos. Toda a constelação social forma um grupo de resgate das relações desarmônicas do passado. Deus nada tem com os nossos compromissos criados pelo primarismo humano; a eutanásia seria mais uma forma de pô-lo em prática, fugindo a obrigações anteriormente assumidas.
A eutanásia, resultado de uma falsa compaixão, é motivada por diversas finalidades sub-reptícias dos compadecidos. Usando um jargão jurídico, é sempre um crime diante dos códigos legais da Vida Real, porquanto interfere num programa reencarnatório, cujo objetivo geral é a libertação e a felicidade eterna do homem.
PERGUNTA: — Mas no caso de o enfermo solicitar a morte por não sentir qualquer esperança de cura e, também por não suportar as dores que nada alivia, ainda assim, seria considerada uma transgressão da Lei maior?
RAMATÍS: — Só pode dispor da vida o seu Criador, através de seus prepostos, por ser Ele o gerador e, consequentemente, unicamente a Ele cabe cessá-la. Quem assim age é por desconhecer os desígnios vivenciais, cuja finalidade é promover a ventura eterna de seus filhos.
Pedir a morte pela eutanásia ainda é uma forma de autodestruição consciente; é o suicídio deliberado, conforme afirmam os mestres da espiritualidade. O homem é o produto dos seus próprios pensamentos e, por esse motivo, deve sofrer todos os efeitos danosos de sua vida particular, ou gozar dos prazeres de uma vida correta. Logo, sob qualquer hipótese, o enfermo sem qualquer esperança, que nasceu estigmatizado por uma enfermidade ou defeito anatômico, ainda está colhendo os efeitos de sua própria vontade. Sob a "Lei do Carma", "cada um colhe segundo as suas obras". Portanto, é tão condenável a prática da morte piedosa pela eutanásia, quanto pedir a morte e exigi-la num suicídio deliberado.
Como ninguém sabe, ao certo, o tempo de vida do paciente, caso pretenda aliviá-lo dos sofrimentos atrozes, incorre na sanção das leis divinas, uma vez que interfere indebitamente no programa do Senhor e da libertação espiritual do moribundo. A enfermidade, por mais aflitiva, prepara o homem para a sua vivência espiritual. E as dores e sofrimentos efetuam a limpeza do perispírito, a fim de ele chegar ao mundo imaterial, vestido com a "túnica nupcial" do convidado pelo Mestre.
DO LIVRO: "SOB A LUZ DO ESPIRITISMO" RAMATÍS/HERCÍLIO MAES - EDITORA DO CONHECIMENTO.
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