Sabedoria Ramatis

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terça-feira, 28 de novembro de 2017

"Com o juízo com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós" Mateus, 7:2


PERGUNTA: - Quando Jesus recomendou o conceito de "Não julgueis e não sereis julgados" ou "Não condeneis e não sereis condenados", dirigia-se, exclusivamente, à raça judia ou o seu pensamento estendia-se também aos demais povos?

RAMATÍS: -
O Mestre Jesus sempre servia-se das imagens do mundo terreno, conhecidas e convencionadas em sua época, para expor os ensinamentos espirituais a fim de que o homem pudesse assimilá-los o mais profundamente e além do limite objetivo da própria vida. Mas em face de sua sabedoria incomum, Jesus tecia as suas parábolas de tal forma, que as mesmas configurações descritas e enquadradas na vivência comum social e moral da época, ainda hoje estimulam e orientam a dinâmica mental do homem moderno para melhor conhecimento da vida imortal. Graças à dedicação persistente e às conclusões sensatas de um espírito de alto gabarito, como foi Allan Kardec na composição da doutrina espírita, o homem atual já pode avaliar mais intimamente as leis e os fenômenos autênticos da vida espiritual. E sob o mecanismo disciplinado da mediunidade, os espíritos mensageiros e instrutores, quando atuam por médiuns sensatos, estudiosos e fiéis, ajudam a humanidade para melhor aperceber-se do conteúdo esotérico do Evangelho de Jesus, fixando-lhes uma interpretação cada vez mais espiritual e menos humana.
Os ensinamentos de Jesus, lembrando energia de "alta voltagem" sideral', podem ser
regulados conforme a capacidade receptiva das lâmpadas humanas e entendidos sensatamente em cada época de análise e divulgação. Assim, a máxima do "Não julgueis para não serdes julgados" significava, para os homens incipientes da época cristã, uma severa advertência contra a injustiça, maledicência e calúnia, mas ainda algo restrito ao tipo da vida judaica. Após a alvorada do Espiritismo, esse mesmo conteúdo se delineia em sua intimidade esotérica e se torna mais genérico em relação à vivência do espírito imortal. Em vez de sentença exclusiva e regular, o intercâmbio entre os homens amplia-se no seu sentido moral, abrangendo já algo do processo cármico no julgamento das relações e conseqüências entre os espíritos nas suas encarnações sucessivas. Já não se trata de um conceito mais propriamente disciplinador e relativo à vida do povo judeu, porém extensível à continuidade da vida espiritual, abrangendo os maus e os bons juízos que o espírito pronuncia no decurso de todo o processo de sua angelização.
Do mesmo conceito, que se referia mais, particularmente ao procedimento incorreto e injusto do cidadão existente na época de Jesus, quando julgava o adversário, desconhecido, amigo e até parentes, mas sem julgar-se a si mesmo, o Espiritismo já identificou o encadeamento predominantemente espiritual. No futuro, após a comprovação científica da realidade do espírito imortal, que será identificado pela instrumentação de precisão laboratorial, o homem, então, compreenderá que a miniatura do próprio metabolismo cósmico palpita ativamente na intimidade de sua própria alma. Os conceitos de Jesus, "Não julgueis, para não serdes julgados" e "Não condeneis para não serdes condenados", são importantes advertências de que toda ação negativa do espírito redunda sempre em seu próprio prejuízo, pois julgar o alheio é "medir-se" a si próprio. Aliás, é muito conhecido o fenômeno da psicologia do mecanismo de defesa do "ego", que é a sua fanática projeção, em que para ressaltar-se ou elevar-se o homem julga o próximo e o diminui por uma conclusão inferior.
Muito além da simplicidade de um julgamento pessoal de homem para homem, essa sentença do Cristo abrange a vivência do espírito, através de suas encarnações. Ela vincula o espírito a princípios e regras científicas, conforme já comprovamos, filosoficamente, pela psicologia moderna. Não aludem exclusivamente ao julgamento terra-a-terra, quando um acusado pratica qualquer delito e deve sofrer uma pena de acordo com os códigos regionais. Mas isso também se refere quanto ao fato de a criatura julgar os equívocos, as imprudências e os pecados dos seus irmãos, e depois verificar a frustração de já ter procedido assim em vidas anteriores, ou aperceber-se de que ainda poderá praticá-los no futuro. Sob a vestimenta de um conceito moral a propor melhores hábitos morais aos judeus, as análises psicológicas modernas podem comprovar que essa conceituação de Jesus é mais propriamente uma lei do que um aforismo, e que além de funcionar fora do tempo e do espaço, ainda adverte e disciplina as atividades cármicas dos espíritos na sua ascese angélica.
PERGUNTA: - Poderíeis explicar-nos melhor esse assunto?

RAMATÍS: -
Em verdade, esse temário evangélico do Mestre Jesus refere-se,
precipuamente, à essência da vida espiritual do homem, pois abrange as causas e os efeitos fundamentais de suas vidas sucessivas sob o processo implacável e justo da Lei do Carma.
Daí certa semelhança entre os vários conceitos evangélicos sob a mesma concepção aforística, em que o Mestre Divino diz: "Com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos", "Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra", "A cada um será dado segundo as suas obras", "Quem com ferro fere, com ferro será ferido" ou, numa síntese significativa, que assim adverte: "A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória".
Sob o invólucro dessas sentenças e aforismos cristãos, permanece sempre o inalterável conteúdo evangélico, que esclarece quanto à mesma lei cármica de ação e reação, atuando em todos esses casos algo semelhantes. Não se trata apenas de advertência, censura ou sentença moral, porém, é referência indiscutível a uma lei ou princípio específico, que age num determinado ângulo do Cosmo, visando sempre a harmonia e q equilíbrio criativo da vida. É lei que corrige e cerceia a causa, a fim de eliminar o efeito, mas proporciona um resultado educativo. No âmago desses ensinamentos o Mestre Jesus adverte e esclarece quanto aos prejuízos e à leviandade do espírito que, julgando-se santificado diante de algum delinqüente, muitas vezes condena os mesmos pecados que já cometeu alhures, ou que ainda poderá cometer na atual e em existências futuras. Quanto mais o espírito se integra no conceito de justiça suprema e desenvolve o amor, ele deixa de julgar os seus irmãos menos credenciados, livrando-se mais cedo da implacabilidade justa da Lei do Carma, que atua na sua função impessoal e, exclusivamente, para a retificação espiritual.
Assim, conforme o procedimento que alhures tivemos em vidas pregressas, poderemos julgar o alheio, mas sem desmentirmos o conceito de "amar o próximo como a nós mesmos" ou "fazermos aos outros o que queremos que nos façam". 1 Sob a rigorosa justiça com que julgarmos os demais espíritos, nós seremos rigorosamente julgados. Todas as máximas evangélicas são correlatas entre si, porque se derivam da mesma Lei Cósmica panorâmica, que mantém a coesão entre os astros, a afinidade entre as substâncias e o amor entre os homens. Malgrado certas regras e enunciações familiares, que limitam a vida humana, na sua intimidade sempre vibra a chama criadora.
1 - Nota do Médium - Lembramos o provérbio de que o "roto zomba do esfarrapado", no tocante ao mau julgamento. Em certa instituição católica de Curitiba, a diretora das mães cristãs condenou veementemente duas jovens algo volúveis e alijou-as das reuniões íntimas, julgando-as indignas do ambiente santificado. No entanto, lendo-lhes a aura de existência passada, surpreendime identificando na rigorosa mãe cristã uma inescrupulosa cafetina que viveu na França, no século passado. Igualmente, certo juiz impiedoso, que consumiu noites adentro para enquadrar um infeliz açougueiro por roubo no peso da carne, vislumbrei-o, pela aura perispiritual, como um dos mais solertes vigaristas agindo inescrupulosamente em Barcelona, Espanha, no século XVIII.
Deste modo, quem julgar o próximo com o mesmo amor e boa intenção com que julga a si mesmo, salva-se, porque, então, revela um elevado princípio de honestidade espiritual, uma vez que julga e condena o próximo ao mesmo nível de culpa e penalidade, que desejaria para si próprio.

DO LIVRO: "O Evangelho à Luz Do Cosmo" RAMATÍS/Hercílio Maes- EDITORA DO CONHECIMENTO

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