Sabedoria Ramatis

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domingo, 30 de julho de 2017

CONSIDERAÇÕES SOBRE JESUS E A FAMÍLIA HUMANA


PERGUNTA: — Alguns escritores afirmam que Jesus, embora fosse de admirável composição moral, também não conseguiu furtar-se ao amor do sexo no mundo onde viera habitar. Que dizeis?

RAMATÍS: — Se Jesus houvesse casado e constituído um lar, a humanidade só teria lucrado com isso, pois ele então deixaria mais uma lição imorredoura da verdadeira compostura de um chefe de família. E mesmo que também houvesse alimentado um amor menos platônico, nem por isso menosprezaria a sua vida devotada exclusivamente aos outros. Muitas criaturas solteiras e castas vivem tão repletas de inveja, egoísmo, ciúmes e concentradas exclusivamente em si mesmas, que se tornam inúteis e até indesejáveis ao próximo.
Que desdouro seria para Jesus, se ele se tivesse devotado ao amor que une o homem e a mulher, quando deu toda sua vida em holocausto à redenção espiritual da humanidade? Sem dúvida, a sua rara beleza acendeu violentas paixões nos corações de muitas jovens casadoiras ou mulheres à cata de sensações novas, o que exigiu dele enérgica autovigilância para não sucumbir às tentações da carne e nem constituir o lar terreno do homem comum. Aliás, diversas vezes Jesus foi caluniado em suas abençoadas peregrinações, cujos detratores o acusavam de fascinar as viúvas ricas para herdar-lhes os bens materiais e atrair as jovens incautas para fins inconfessáveis. Sob o domínio despótico de Roma, algumas hebréias falseavam os seus deveres conjugais, pois preferiam a fartura do conquistador do que a pobreza honesta de seus conterrâneos. E os espíritos das trevas, que vigiavam Jesus em todos os seus passos armaram-lhe ciladas as mais sedutoras até entre as patrícias romanas. Mas embora ele tenha evitado formar um lar, jamais condenou ou menosprezou o agrupamento da família, porquanto sempre advertiu quanto à legalidade e ao fundamento da Lei do Senhor, que assim recomendava: "Crescei e multiplicai-vos!" O sangue humano como vínculo transitório da família terrena, tanto algema as almas que se odeiam como une as que se amam no processo cármico de redenção espiritual. Por isso, Jesus aconselhou o homem a libertar-se da escravidão da carne e estender o seu amor fraterno a todos os seres, além das obrigações inadiáveis no seio do lar. Tendo superado as seduções da vida material, e sentindo-se um realizado no recesso da humanidade terrena, chegou a advertir o seguinte: "aqueles que quisessem segui-lo em busca de reino de Deus, teriam de renunciar aos desejos da vida humana; e, se preciso fosse, até abandonar pai e mãe!" E por isso, acentuou textualmente: "Quem ama o pai e a mãe mais do que a mim, não é digno de mim!" Jesus recomendava amor e espírito de justiça, induzindo à libertação da família no mundo material acima do egocentrismo de casta, em favor de toda a humanidade. Ele procurou demonstrar, que apesar do vínculo sangüíneo e egoísta da parentela humana, o homem não deve limitar o seu afeto somente às criaturas viventes no ambiente de sua família ou simpatia. Muitas vezes, detrás da figura antipática do vizinho ou de algum estranho desagradável, pode se encontrar justamente um espírito nosso amigo de vidas passadas. No entanto, entre os nossos mais íntimos familiares, às vezes estão reencarnados espíritos algozes, que nos torturaram outrora e a Lei Cármica os reuniu para a necessária liberação dos laços de culpa ou do perdão recíproco (1). O imenso amor de Jesus pela humanidade é que o afastou do compromisso de constituir um lar.


Não foi somente (1) Nota do Médium: — Em nosso bairro da Água Verde, em Curitiba, conhecemos uma senhora que implicava odiosamente com um menino da vizinhança, e não lhe dava razão, mesmo quando seu filho agia com flagrante injustiça e desonestidade nas arruaças de infância. Já se previa uma tragédia entre os adultos, quando, freqüentando o nosso trabalho mediúnico, essa mesma senhora, após sentidos queixumes de verberações contra o referido menino detestado, ouviu do guia a severa advertência: "O seu amor materno egoísta está lhe fazendo praticar as maiores injustiças, pois na existência passada o seu atual filho foi um homem leviano, rico e despudorado, que levou a irmã ao prostíbulo e ao desespero. No entanto, surgiu outro homem digno, bom e piedoso, que não só a retirou do lodo, como ainda lhe deu a segurança desejada do casamento e da paz de espírito. Esse outro homem, a quem minha irmã deve a sua salvação e redenção no passado, é justamente o atual filho do vizinho, tão odiado por si e ali situado por efeito da Lei do seu Carma.

sua elevada qualidade espiritual, o motivo dele conservar-se ligado a todos os homens e desprendido de um afeto exclusivo à família humana; mas sim, a piedade, a ternura e a compreensão do sofrimento de todas as criaturas. Em verdade ele não condenou os direitos da família consangüínea, mas apenas advertiu quanto aos perigos do afeto egocêntrico, que se gera no meio do lar, embotando o sentimento do amor as demais criaturas. Por isso ao recomendar a terapêutica do "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei", ele mesmo já havia demonstrado esse amor incondicional, que abrange a Família-humanidade! Isso era um cunho intrínseco de sua alma, pois aos doze anos de idade já respondia dentro do conceito da família universal. Interrompido no seio de uma reunião, por alguém que lhe diz: "Eis que estão lá fora a tua mãe e teus irmãos que te querem falar", o menino Jesus surpreende a todos, quando assim responde: — "Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?" Em seguida, ergue-se e movendo a mão, num gesto acariciante, que abrange amigos, estranhos, mulheres, velhos, crianças e jovens, conclui a sua própria indagação: — "Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe!"

PERGUNTA: — Mas, Jesus aconselhando o homem a abandonar a família e devotar-se a amar os outros ou seja, a humanidade, essa atitude não será uma decorrência, justamente, do fato de ele não ter amado fisicamente e de não haver constituído um lar?

RAMATíS: — Jesus não constituiu a clássica família humana nem amou fisicamente, porque já era um Espírito liberto dos recalques do sexo. Ele não abjurou nem repudiou a parentela humana; apenas evitou os laços de sangue capazes de lhe oprimirem ou limitarem as expansões do seu amor tributado à humanidade inteira.
Assim, as criaturas que o seguissem sob o impulso generoso desse amor incondicional a todos os seres, evidentemente seriam hostilizadas pelos seus próprios familiares, incapacitados para compreenderem tal efusão despida de interesses egoístas. Ante o Mestre Jesus, o casamento não deveria impedir a floração dos sentimentos naturais de cada cônjuge, quanto ao seu proverbial espírito de justiça, tolerância, amor e devotamento ao próximo. O simples fato de duas criaturas unirem seus destinos na formação de um novo lar, não deve ser impedimento destinado a reduzir o amor espiritual ou substituí-lo pelo sentimentalismo egocêntrico do amor consangüíneo. Quando, no futuro, as virtudes superiores da alma dominarem os interesses e o egoísmo humanos, então existirá uma só família, a da humanidade terrena. Os homens terão abandonado o amor egoísta e consangüíneo, produto da família transitória, para se devotarem definitivamente ao amor de amplitude universal, que consiste em "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo".
Independente da recomendação de Jesus, quando aconselha o "abandono" de pai, mãe, irmão e irmã, para o seguirem, a verdade é que os membros de cada família humana também não permanecem em definitivo no conjunto doméstico, pois à medida que se desfolha o calendário terrícola, processam-se as separações obrigatórias entre os componentes do mesmo lar.
As crianças, já em tenra idade, precisam ausentar-se para freqüentar a escola; e isso as separa da família durante muitas horas; depois de jovens permanecem longo tempo fora de casa, a fim de obterem o sustento ou conseguirem o diploma acadêmico. Em breve, surge o namoro, o noivado, e então ligam-se a outras criaturas estranhas ao conjunto da sua família, para seguirem novos destinos e conseqüente "abandono" natural entre os dos mesmos laços consangüíneos.
Doutra feita, a irascibilidade, avareza, hostilidade, o ciúme, ódio ou egoísmo, chegam a separar os membros da mesma família e a afastá-los em caminhos ou destinos opostos. Filhos, pais, sogros, genros, irmãos e demais parentes, por vezes se incompatibilizam e cortam relações devido a interesses materiais adstritos a heranças, provando a fragilidade do amor de sangue.
Paradoxalmente, a família mais unida é justamente aquela cujos membros são tolerantes e amorosos para com todos os seres, pois a bondade e a paciência constituem um traço de união e boa convivência em todos os ambientes. Por conseguinte, os parentes separados por discórdias domésticas mais se uniriam se atendessem ao apelo de Jesus, pois, abandonando o amor exclusivamente ao sangue da família, também desapareceria o amor próprio na fusão de um sentimento universalista.
Jesus não recomendou ao homem o abandono impiedoso de seus familiares, fazendo-os sofrer dificuldades pela sobrevivência cotidiana; porém, advertiu "que não seria digno dele o que amasse mais o pai, a mãe, o irmão e a irmã, do que ao próximo". Deste modo, o homem precisa renunciar à sua personalidade, ao sentimentalismo, ao amor próprio, à opinião patética da família de sangue, e mesmo opor-se a ela, quando os seus membros o repudiem por esposar idéias e sentimentos crísticos. Foi no campo das idéias e dos sentimentos universalistas que Jesus concentrou sua advertência, ao dizer, "quem amar a mim mais do que à família, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna", ou seja, amando toda a humanidade, a criatura livra-se das purgações próprias dos contínuos renascimentos das vidas físicas. Então passa a viver apenas nos mundos espirituais superiores, entre as almas afetivas e libertas do conjunto egoísta da família carnal, onde o verdadeiro amor estiola oprimido pelas afeições transitórias do mundo reduzido do lar. Quem ama o próximo como a si mesmo, ama o Cristo; e assim desaparece o amor egoísta de casta, raça e de simpatia ancestral da matéria. Em troca surge o. "amor espiritual", que beneficia todos os membros da mesma parentela, e se exerce acima de quaisquer interesses da vida humana isolada, pois diz respeito à vida integral do Espírito Eterno!


DO LIVRO: "O SUBLIME PEREGRINO" RAMATÍS/HERCÍLIO MAES - EDITORA DO CONHECIMENTO.

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