PERGUNTA: O que são os assentos dos orixás?
RAMATÍS: Há de se
ter noção de que todo o trabalho mágico das religiões africanistas (não o da
umbanda) fundamenta-se no intercâmbio entre dois níveis de existência. São duas
formas, ou possibilidades de vida, que coexistem paralelamente. O aiye é o
universo físico concreto, com todos os seres vivos; e o orum, o
sobrenatural, onde vivem os "orixás" e os eguns (espíritos de mortos
e antepassados naturais). O mundo material é compreendido como uma conseqüência do
espiritual. Todo o culto é fundamentado no rebaixamento vibracional dos
habitantes do aiye, para o orum; do divino espiritual, para os homens filhos dos orixás; do
sagrado abstrato, para o profano concreto.
A "materialização" dos orixás ocorre pelo transe
ritualístico, pelo filho que cede seu corpo e psiquismo para a manifestação
dessas energias. Acontece que todo iniciado no transe tem seu assento
vibratório do orixá, um altar individual com determinados elementos férreos e
minerais que simbolizam, energeticamente, as insígnias do orixá servindo de
ponto de imantação no plano material. São os denominados pegis: locais
onde são realizadas as venerações e colocadas as oferendas devidas, geralmente
animais votivos e alimentos. Por meio das oferendas diante do pegi acontecem
e se fortalecem as trocas praticadas, o dar e o receber.
Os filhos de um "orixá" ofertam em permuta, para
receber a força (axé) num ciclo de oferendas votivas e derrame de sangue que
nunca termina, numa distorcida filosofia mantenedora da harmonia, já dissociada
dos ritos tribais de antigamente, em que os sacerdotes iniciadores não auferiam
o vil metal nem cobravam pela assistência curativa às populações.
Na atualidade, existe uma desconexão temporal em nome dessas
tradições, caracterizada por um apelo mágico negativo, popular, imposto por uma
acirrada concorrência entre os terreiros, que por sua vez são demandados por
criaturas que exigem resultados rápidos no intercâmbio espiritual, o que impõe
mais sacrifícios ofertados, perpetuando uma série de fenômenos que se sucedem
fortalecendo a "indispensável" matança de animais e a oferta de
sangue quente. Como a fixação do "orixá" na cabeça (coronário) do médium
é realizada com sangue, um condensador vital de baixa vibração, uma entidade de
reduzida envergadura espiritual se apropria do psiquismo de seu
"filho", levando-o a fazer todas as suas vontades, falsamente, como
se estivesse nas tribos de antigamente, oferecendo em troca progresso material,
realizações amorosas, prazeres e outras sensações animalizadas.
A relação entre os espíritos e o aparelho, potencializada no
assento do orixá, tem de ser periodicamente renovada, oferecendo os alimentos
vitais, fluídicos, para que, em troca, não haja a desgraça do médium. É uma
relação de temor e medo em nome de um falso sagrado, formando escravos dos
"orixás" por toda a vida, em que ininterruptamente, em certos
períodos, há de se sacrificar um animal para a satisfação do Além dominador.
Na umbanda, preservam-se os aspectos positivos, benfeitores,
das tradições africanistas. Não se impõem assentamentos vibratórios individuais
dos orixás fundamentados em iniciações sanguinolentas, com raspagens de cabeças
e oferendas regulares para satisfazer o "santo". Assim, basta fixar
no congá alguns elementos condensadores para servirem de imantação, afim com o orixá
regente do terreiro. A mediunidade canalizada para a caridade, o amor por todos
os seres vivos em auxílio aos sofredores é o mais seguro "assento"
dos orixás no templo interno de cada criatura.
DO LIVRO: “A MISSÃO DA UMBANDA” RAMATÍS/NORBERTO PEIXOTO –
EDITORA DO CONHECIMENTO.
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