Muitos equívocos relativos à natureza e função de Exu decorrem do fato de ele ter sido maquiavelicamente traduzido da expressão original da língua iorubá como Satã, o diabo judaico-católico, ou Príapo, o deus fálico greco-romano, guardião das casas, praças, ruas e encruzilhadas. Na mitologia de origem, nagô, explica-se a criação do universo manifestado, assim como em tantas outras religiões. Na cosmogonia iorubana, Exu foi o primeiro Orixá a ser criado para ser ordenador de todo o sistema cósmico. A gênese mítica nagô, em alguns registros etnográficos – não unânimes –, relata que Oxalá já era criado, mas “habitava” imanifesto “internamente” em Deus. Após Exu ser criado, ele é o primeiro Orixá a se manifestar. Então, a seguir, Oxalá “pôde” expressar-se como espaço infinito, que deixou de ser o nada, a vacuidade inerte – voltaremos a este conceito mais de uma vez. Simbolicamente, pois os mitos são metáforas, devemos interpretá-los à luz de fundamentos que permeiam as verdades cósmicas. A partir de Exu, Deus se “desdobra” em muitos atributos com interferência “direta” no mundo das formas, no sentido de que este “elemento” criado primeiro foi propiciatório à criação dos demais Orixás, assim como o cimento com areia não dá liga se não for acrescentada água. Ou seja, os vários atributos divinos que entendemos como Orixás tiveram Exu como elemento de ligação para que pudessem, num impulso de movimento, se desgarrar do Criador e se expressar nas primeiras formas criadas. Então, Exu é atributo divino primordial na criação universal que se manifestou em idos primevos, que “permite” e permeia toda expressão das vidas, que se deslocam do Imanifesto – Deus – e se tornam manifestas, precisando ser “agasalhadas” por uma forma. Enfim, Exu impõe movimento no espaço – que já seria Oxalá manifestado depois dele – “cheio” de fluido cósmico fazendo-o condensar-se, como consequência da própria Mente Universal imprimindo sua força n’Ele (o contém e é contido por Exu), no início de toda coisa criada existente no Cosmo. Ou seja, nada existia, tudo era vacuidade. Eis que se fez a primeira luz e movimento, nasce Exu, o primeiro elemento morfológico universal.
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