Pergunta: Existe algum prejuízo mental ou
espiritual em se continuar a manter a lenda do Diabo e do Inferno, como ainda o
fazem as religiões escravas dos homens e dos mistérios sagrados?
Atanagildo:
Não vos esqueçais de que
vos dou a minha própria opinião; em virtude do que me é possível observar no
lado de cá, considero que tal lenda ainda causa prejuízos bem grandes, pois
todos os dias aportam ao Além magotes de criaturas alucinadas com as idéias aterrorizantes
do Inferno e a crença nos demônios, que elas evocam na mente desgovernada, o
que as faz ficarem desesperadas de qualquer esperança de fuga ou perdão. Alimentam
em si mesmas essas configurações tenebrosas e aniquilantes, que lhes impõe a
morbidez dos credos religiosos infantilizados, a ponto de oferecerem sugestões mentais
imprudentes aos próprios adversários das sombras, para que mais as convençam de
que realmente se encontram lançadas no seio das chamas eternas do Reino de
Belzebu. Aproveitando-se do desespero e do terror dos desencarnados obsidiados
com a idéia infernal, os espíritos malfeitores atuam-lhes na mente perturbadora
e clareiam ainda mais os quadros diabólicos ali já existentes. Mas, noutro
extremo, também surgem almas demasiadamente ingênuas e otimistas, que se julgam
credenciadas para habitar um Paraíso de ociosa contemplatividade, assim como
lhes ensinaram os seus preceptores religiosos; então se imaginam prestes a
viver entre as criaturas beatíficas e sempre escoltadas por anjos extremamente
corteses e serviçais. Mas o cenário do mundo astral, que lhes surge como laborioso
plano de trabalho digno e justo causa-lhes terrível decepção, deixando-as boquiabertas
e espantadíssimas quando identificam as comunidades de espíritos laboriosos e disciplina
dos, que em santificada atividade se dedicam à sua própria recuperação
espiritual.
Muitos
desses "fiéis" confrangem-se, decepcionados, à idéia prosaica de que
ainda existem trabalho, deveres, obrigações individuais e sociais nas regiões do
"Além", onde esperavam apenas encontrar os santos e as almas eleitas
refesteladas voluptuosamente sobre flocos de nuvens coloridas, enquanto gentis
arcanjos as fariam adormecer ao som hipnotizante de harpas e rabecas.
Pergunta: Considerais que seria de grande progresso para
as próprias religiões dogmáticas o desaparecimento dessa tradição infantil do
Céu e do Inferno, ainda tão cultivada entre os seus adeptos?
Atanagildo:
O sacerdócio católico e a
comunidade protestante há muito que deviam ter esclarecido a mente dos seus
fiéis, fazendo-os compreender que Deus não é um bárbaro impiedoso a punir
eternamente os seus filhos, assim como também não é vulgar distribuidor de
prêmios celestiais e exclusivos aos fiéis seguidores de suas normas religiosas. É
evidente que são bem raras as almas que partem da Terra absolutamente certas de
que estão isentas de qualquer mácula, por cujo motivo a dúvida e o medo são
sempre a preocupação da maioria. Não vos é possível avaliar o pavor dantesco da
alma que, ao emergir das sombras do túmulo, sente-se presa de suas próprias
criações mentais, convicta de que irá sofrer "eternamente" nas chamas
do inferno e nas garras de Satanás!
Jamais
podeis imaginar o que seja realmente essa convicção íntima do "castigo eterno",
para o desencarnado que se crê sem a mínima esperança de salvação, guardando ainda
em sua memória as imagens do lar amigo que deixou na Terra.
Muitos
ficam alucinados e se conturbam pela força das estultices que lhes ensinaram severamente
os sacerdotes e os ministros reformistas, completamente desconhecedores da realidade
espiritual do Além-Túmulo. Entretanto,
o espírita, que já aprendeu que o Inferno eterno é lenda infantil, e que mesmo
o pior sofrimento no astral ainda é provisório, mantendo viva a esperança de recuperação
espiritual, é indubitável que não se desespera, confiando sempre na Bondade e na
Justiça do Magnânimo Criador.
É
certo que toda alma também traz simbolicamente um pouco do Inferno em si mesma;
mas é insensatez religiosa torturar-se a imaginação humana e predispor o desencarnado
ao terrível desespero mental, conseqüente daquilo que é falso e ilógico! Assim
como as crendices sombrias e a fantasmagoria das lendas mórbidas criam estados
de temor e angústia nos cérebros fracos, chegando a interferir no equilíbrio do
sistema nervoso, as descrições nocivas e infantis, com que as religiões
dogmáticas pregam a eternidade do Inferno com o seu histérico Satã, também
plastificam nos seus fiéis os quadros tenebrosos e doentios que, depois da morte
corporal, adquirem forte vitalidade mental e torturam a alma desesperada. Isso
causa pavores e desesperos intensos, chegando a criar obstáculos
intransponíveis aos próprios espíritos benfeitores, que envidam todos os esforços
para atenuar o vigor dos clichês mórbidos, profundamente gravados no campo
mental dessas almas perturbadas.
O
tipo de Céu e Inferno ainda conservado pela fé católica e protestante, sem
qualquer dúvida, é o responsável pelo fato de muitas almas serem vítimas do
medo desesperador e se atormentarem
dantescamente nas primeiras horas de ingresso no Além-Túmulo. Ao contrário, o
esclarecimento sensato, ofertado pela doutrina espírita, afirmando a existência
de um Pai amoroso e incapaz de castigar seus filhos, e muito menos de os fazer sofrer
eternamente, é sempre abençoada esperança de breve libertação, mesmo que vos encontreis
desencarnados no seio do maior sofrimento.
Do
livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís/Atanagildo - Hercílio Maes –
Editora do Conhecimento.
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