Sabedoria Ramatis

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terça-feira, 14 de julho de 2015

O Diabo e a sede do seu reinado – VII




Pergunta:  Existe algum prejuízo mental ou espiritual em se continuar a manter a lenda do Diabo e do Inferno, como ainda o fazem as religiões escravas dos homens e dos mistérios sagrados?

Atanagildo:  Não vos esqueçais de que vos dou a minha própria opinião; em virtude do que me é possível observar no lado de cá, considero que tal lenda ainda causa prejuízos bem grandes, pois todos os dias aportam ao Além magotes de criaturas alucinadas com as idéias aterrorizantes do Inferno e a crença nos demônios, que elas evocam na mente desgovernada, o que as faz ficarem desesperadas de qualquer esperança de fuga ou perdão. Alimentam em si mesmas essas configurações tenebrosas e aniquilantes, que lhes impõe a morbidez dos credos religiosos infantilizados, a ponto de oferecerem sugestões mentais imprudentes aos próprios adversários das sombras, para que mais as convençam de que realmente se encontram lançadas no seio das chamas eternas do Reino de Belzebu. Aproveitando-se do desespero e do terror dos desencarnados obsidiados com a idéia infernal, os espíritos malfeitores atuam-lhes na mente perturbadora e clareiam ainda mais os quadros diabólicos ali já existentes. Mas, noutro extremo, também surgem almas demasiadamente ingênuas e otimistas, que se julgam credenciadas para habitar um Paraíso de ociosa contemplatividade, assim como lhes ensinaram os seus preceptores religiosos; então se imaginam prestes a viver entre as criaturas beatíficas e sempre escoltadas por anjos extremamente corteses e serviçais. Mas o cenário do mundo astral, que lhes surge como laborioso plano de trabalho digno e justo causa-lhes terrível decepção, deixando-as boquiabertas e espantadíssimas quando identificam as comunidades de espíritos laboriosos e disciplina dos, que em santificada atividade se dedicam à sua própria recuperação espiritual. 
Muitos desses "fiéis" confrangem-se, decepcionados, à idéia prosaica de que ainda existem trabalho, deveres, obrigações individuais e sociais nas regiões do "Além", onde esperavam apenas encontrar os santos e as almas eleitas refesteladas voluptuosamente sobre flocos de nuvens coloridas, enquanto gentis arcanjos as fariam adormecer ao som hipnotizante de harpas e rabecas.


Pergunta:  Considerais que seria de grande progresso para as próprias religiões dogmáticas o desaparecimento dessa tradição infantil do Céu e do Inferno, ainda tão cultivada entre os seus adeptos?

Atanagildo:  O sacerdócio católico e a comunidade protestante há muito que deviam ter esclarecido a mente dos seus fiéis, fazendo-os compreender que Deus não é um bárbaro impiedoso a punir eternamente os seus filhos, assim como também não é vulgar distribuidor de prêmios celestiais e exclusivos aos fiéis seguidores de suas normas religiosas.  É evidente que são bem raras as almas que partem da Terra absolutamente certas de que estão isentas de qualquer mácula, por cujo motivo a dúvida e o medo são sempre a preocupação da maioria. Não vos é possível avaliar o pavor dantesco da alma que, ao emergir das sombras do túmulo, sente-se presa de suas próprias criações mentais, convicta de que irá sofrer "eternamente" nas chamas do inferno e nas garras de Satanás!
Jamais podeis imaginar o que seja realmente essa convicção íntima do "castigo eterno", para o desencarnado que se crê sem a mínima esperança de salvação, guardando ainda em sua memória as imagens do lar amigo que deixou na Terra. 
Muitos ficam alucinados e se conturbam pela força das estultices que lhes ensinaram severamente os sacerdotes e os ministros reformistas, completamente desconhecedores da realidade espiritual do Além-Túmulo. Entretanto, o espírita, que já aprendeu que o Inferno eterno é lenda infantil, e que mesmo o pior sofrimento no astral ainda é provisório, mantendo viva a esperança de recuperação espiritual, é indubitável que não se desespera, confiando sempre na Bondade e na Justiça do Magnânimo Criador. 
É certo que toda alma também traz simbolicamente um pouco do Inferno em si mesma; mas é insensatez religiosa torturar-se a imaginação humana e predispor o desencarnado ao terrível desespero mental, conseqüente daquilo que é falso e ilógico! Assim como as crendices sombrias e a fantasmagoria das lendas mórbidas criam estados de temor e angústia nos cérebros fracos, chegando a interferir no equilíbrio do sistema nervoso, as descrições nocivas e infantis, com que as religiões dogmáticas pregam a eternidade do Inferno com o seu histérico Satã, também plastificam nos seus fiéis os quadros tenebrosos e doentios que, depois da morte corporal, adquirem forte vitalidade mental e torturam a alma desesperada. Isso causa pavores e desesperos intensos, chegando a criar obstáculos intransponíveis aos próprios espíritos benfeitores, que envidam todos os esforços para atenuar o vigor dos clichês mórbidos, profundamente gravados no campo mental dessas almas perturbadas. 
O tipo de Céu e Inferno ainda conservado pela fé católica e protestante, sem qualquer dúvida, é o responsável pelo fato de muitas almas serem vítimas do medo desesperador e se atormentarem dantescamente nas primeiras horas de ingresso no Além-Túmulo. Ao contrário, o esclarecimento sensato, ofertado pela doutrina espírita, afirmando a existência de um Pai amoroso e incapaz de castigar seus filhos, e muito menos de os fazer sofrer eternamente, é sempre abençoada esperança de breve libertação, mesmo que vos encontreis desencarnados no seio do maior sofrimento.

Do livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís/Atanagildo - Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.

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