Sabedoria Ramatis

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sábado, 11 de julho de 2015

O Diabo e a sede do seu reinado – VI




Pergunta: Por que motivo certas criaturas, embora cientistas ou acadêmicas, algumas até de invulgar cultura, ainda acreditam piamente na existência de Satã, do Céu e do Inferno teológicos, conforme lhes ensinam as suas religiões dogmáticas?



Atanagildo:  É provável que esses homens de cultura, que ainda crêem no Céu, no Inferno e no Diabo mitológicos, evitem raciocinar com isenção de ânimo sobre o assunto ou talvez receiem provocar polêmicas que possam perturbar as tradições religiosas da família ou dos conhecidos. Se refletissem seriamente sobre tais dogmas, é fora de dúvida que terminariam verificando a inconseqüência e a infantilidade de suas concepções, pois o conhecimento, o cientificismo e a arte do homem do século XX já se tornam motivos de humilhação para um Diabo ainda metido na fumaceira de um Inferno medieval.


Pergunta:  Em face de há tantos séculos cultivarmos a idéia do Diabo, não acreditamos piamente nele, mas quase que o sentimos real em sua forma lendária. Ainda custa-nos extinguir essa idéia tão arraigada e que incentiva os nossos temores humanos desde a infância. Que dizeis? 

Atanagildo:  Isso ocorre mais por efeito de um recalque que ainda permanece na memória etérica do espírito encarnado, pois é indiscutível que todos nós já permanecemos nas regiões trevosas, quer sob o jugo de outros "pseudodiabos" perversos, quer quando ainda não passávamos de outros tantos satãs, desforrando-nos sobre outras vítimas de nossas vinganças. 

Por isso, o Diabo ainda é uma concepção aceita em todo o orbe terráqueo; palpita e vive na consciência de todos os povos e seres, embora cada qual o configure na conformidade de sua própria psicologia humana. Para o oriental, o Diabo tem a cara exata do ocidental, enquanto Deus- tem os olhos oblíquos; o zulu rende homenagem ao seu Deus preto como carvão, se arrepela e excomunga o Diabo branco, de fisionomia européia. Quer o chamem, na linguagem clássica, de Satanás, Demônio, Belzebu, Lúcifer, Espírito do Mal, Anjo das Trevas ou Belfegor, ou a voz popular o denomine de Tinhoso, Capeta, Coisa-Ruim ou Canhoto, ou então seja o Anhangâ, dos indígenas, o Mafarrico dos portugueses, o Padeiro, dos franceses o Exu, da macumba, o Pedro Botelho ou Mofino das velhas lendas, ele representa sempre a figura da própria alma quando ainda subverte as admiráveis qualidades de sua natureza angélica, para se devotar apenas às paixões odiosas, à crueldade ou às impurezas da velha estirpe animal. A lenda é pródiga na apresentação dessa figura aviltante do homem rebelde e ainda adverso à Luz, e por isso as narrativas de cunho fantástico sempre se firmam na mórbida e trevosa lembrança da alma, que ainda estremece evocando as sombras em sua circulação angélica.

Mas à medida que o espírito ascende para os planos edênicos, o Inferno e o Diabo também se tornam cada vez mais inofensivos, porque as zonas trevosas existentes em cada criatura começam a ser substituídas pelas clareiras de luz angélica.



Do livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís/Atanagildo - Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.

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