Pergunta: Por que motivo certas criaturas, embora
cientistas ou acadêmicas, algumas até de invulgar cultura, ainda acreditam
piamente na existência de Satã, do Céu e do Inferno teológicos, conforme lhes ensinam as
suas religiões dogmáticas?
Atanagildo: É provável que esses homens de cultura, que ainda crêem no Céu, no
Inferno e no Diabo mitológicos, evitem raciocinar com isenção de ânimo sobre o
assunto ou talvez receiem provocar polêmicas que possam perturbar as tradições
religiosas da família ou dos conhecidos. Se refletissem seriamente sobre tais
dogmas, é fora de dúvida que terminariam verificando a inconseqüência e a
infantilidade de suas concepções, pois o conhecimento, o cientificismo e a arte
do homem do século XX já se tornam motivos de humilhação para um Diabo ainda
metido na fumaceira de um Inferno medieval.
Pergunta: Em
face de há tantos séculos cultivarmos a idéia do Diabo, não acreditamos
piamente nele, mas quase que o sentimos real em sua forma lendária. Ainda custa-nos
extinguir essa idéia tão arraigada e que incentiva os nossos temores humanos desde
a infância. Que dizeis?
Atanagildo: Isso ocorre mais por efeito de um recalque que ainda permanece
na memória etérica do espírito encarnado, pois é indiscutível que todos nós já
permanecemos nas regiões trevosas, quer sob o jugo de outros "pseudodiabos"
perversos, quer quando ainda não passávamos de outros tantos satãs,
desforrando-nos sobre outras vítimas de nossas vinganças.
Por
isso, o Diabo ainda é uma concepção aceita em todo o orbe terráqueo; palpita e vive
na consciência de todos os povos e seres, embora cada qual o configure na conformidade
de sua própria psicologia humana. Para o oriental, o Diabo tem a cara exata do ocidental,
enquanto Deus- tem os olhos oblíquos; o zulu rende homenagem ao seu Deus preto como
carvão, se arrepela e excomunga o Diabo branco, de fisionomia européia. Quer o chamem,
na linguagem clássica, de Satanás, Demônio, Belzebu, Lúcifer, Espírito do Mal, Anjo
das Trevas ou Belfegor, ou a voz popular o denomine de Tinhoso, Capeta,
Coisa-Ruim ou Canhoto, ou então seja o Anhangâ, dos indígenas, o Mafarrico dos
portugueses, o Padeiro, dos franceses o Exu, da macumba, o Pedro Botelho ou
Mofino das velhas lendas, ele representa sempre a figura da própria alma quando
ainda subverte as admiráveis qualidades de sua natureza angélica, para se
devotar apenas às paixões odiosas, à crueldade ou às impurezas da velha estirpe
animal. A
lenda é pródiga na apresentação dessa figura aviltante do homem rebelde e ainda
adverso à Luz, e por isso as narrativas de cunho fantástico sempre se firmam na
mórbida e trevosa lembrança da alma, que ainda estremece evocando as sombras em
sua circulação angélica.
Mas
à medida que o espírito ascende para os planos edênicos, o Inferno e o Diabo também
se tornam cada vez mais inofensivos, porque as zonas trevosas existentes em
cada criatura começam a ser substituídas pelas clareiras de luz angélica.
Do
livro: “A Sobrevivência do Espírito” Ramatís/Atanagildo - Hercílio Maes –
Editora do Conhecimento.
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