PERGUNTA: E que nos dizeis quanto à
significação da cerimônia do "lava-pés", tradicionalmente consagrada
pela Igreja Católica Romana na Semana Santa. Há algum fundamento em tal
consagração?
RAMATÍS: João Batista, o profeta solitário, havia instituído algumas
cerimônias com a finalidade de incentivar certas forças psíquicas nos seus adeptos
através da concentração ou reflexão espiritual. Isso impressionava os neófitos
e servia para a confirmação da própria responsabilidade aos valores
espirituais. Em sua época os símbolos, ritos, talismãs e as cerimônias ainda
produziam louváveis dinamizações das forças do espírito ou impunham respeito e
temor religioso. Eram recursos que serviam como "detonadores" das forças
psíquicas, produzindo profunda influência esotérica nos seus cultores, assim
como ainda hoje fazem os sacerdotes para o incentivo da fé e do respeito dos
fiéis, como são os
cânticos, perfumes, a música e o luxo nas igrejas. Por isso, João Batista instituiu
a cerimônia do batismo para os heófitos, cuja imersão nas águas dos rios e dos
lagos funcionava como um catalizador das energias espirituais, deixando a convicção
íntima e benfeitora da "lavagem dos pecados" e conseqüente renovação
do espírito para, o futuro. Aquele que se julga realmente purificado de seus
pecados, depois vive de modo a não se manchar tão facilmente. Mais tarde, João
Batista também organizou a cerimônia do "lavapés", que simbolizava um
evento fraterno e humilde, como um sentido de igualdade ou denominador comum
entre todos os discípulos e o próprio Mestre. O "lava-pés" era a
cerimônia que eliminava a condição social, o poder político, a superioridade
intelectual ou a diferença entre
(5) um: — Cremos que parte do pensamento da Nota de Jesus nesse breve discurso aos seus apóstolos, na hora da última ceia, encontra-se referido mais
aproximadamente em Lucas, XX — 14, 15,
16 e 18. Neste último versículo, o termo é "não tornarei a beber do fruto
da vida", que é a uva,
enquanto Ramatís diz que Jesus se referiu ao vinho. (6) João, XIII, vs. 4 e 5.
os adeptos e o Mestre atuantes sob a mesma bandeira espiritual. No
momento simbólico do "lavapés" o senhor seria o irmão do servo e
também o serviria, porque ambos seram herdeiros dos mesmos bens do mundo.
Jesus, humilde e tolerante, aceitou ambas as cerimônias com todo o
enlevo de sua alma e deixou-se batizar pelo Batista, no rio Jordão. Mais tarde,
e já no limiar da grande ceia, ele também deu forma à cerimônia tradicional do
"lava-pés" entre os seus próprios discípulos, como um ensejo
simbólico que deveria evocar os elos de amizade já existentes entre todos. Mas
os seus fiéis amigos ficaram bastante preocupados com o fato de Jesus antecipar
a cerimônia tradicional do "lava-pés" para a quarta-feira, a qual
deveria ser feita comumente na sexta-feira da semana da Páscoa. Mas a verdade é
que o Mestre Jesus não guardava dúvidas quanto à sua situação cada vez mais desfavorável
perante o Sinédrio e às autoridades romanas, pois algo lhe dizia que seria sacrificado
antes do domingo de Páscoa. Deste modo, ele decidiu-se a proceder a cerimônia
do "lava-pés" na quarta-feira, após a grande ceia, em vez de esperar a
sexta-feira tradicional, pois seria a sua última demonstração de confiança no
Pai. Depois de ter enxugado os pés dos seus discípulos, auxiliado por Tiago,
Jesus ergueu-se e alçou a voz, exortando-os para que prosseguissem
corajosamente na divulgação da "Boa Nova" e do "Reino de
Deus", e jamais se conturbassem mesmo diante da morte. Relembrou-lhes os.
motivos fundamentais de sua amizade e união espiritual, revivendo os
ensinamentos de libertação do Evangelho, enquanto recomendava o amor
incondicional, o auxílio à pobreza, o perdão aos algozes, o afeto aos delinquentes
e a compreensão fraterna às mulheres infelizes. Salientou a força do espírito
eterno sobre a carne perecível; exortou para que os seus fiéis amigos jamais
tisnassem a beleza do Cristianismo fazendo conluios com os poderes organizados do
mundo de César. A mensagem cristã deveria ser divulgada tão pura quanto os
lírios dos vales; pois de nada valiam as honras do mundo material ante a vida
imortal. Encheu-os de esperanças novas pela breve chegada do "Reino de
Deus" e incentivou os para uma vida heróica em sintonia com os princípios
mais elevados da redenção e libertação da humanidade!
Ante a dor, o espanto e a consternação de seus discípulos, que lhe
bebiam as palavras repassadas de melancolia e pesar, Jesus voltou-se para
Pedro, cujas faces estavam marcadas de profunda angústia e disse-lhe, de modo
eloqüente e profético: "Pedro, doravante tu serás um pescador de homens, e
não de peixes! Sobre tua fé e sinceridade eu fundamento a minha Igreja!
Seja-te o dom do bom falar, do bom ouvir e do bom agir para o
serviço do Senhor!"
Pedro caiu de joelhos, os olhos marejados de lágrimas perante o
Mestre Amado, enquanto os demais apóstolos mal podiam esconder sua comoção.
Judas, no entanto, estava cabisbaixo e roído de ciúmes, incapaz de esmagar o
orgulho e o amor próprio feridos ante qualquer distinção ou preferência no
colégio apostólico.
Jesus encerrou a cerimônia tocante do "lava-pés", e
achegando-se a João, enternecido, fez-lhe amena rogativa:
— João! Minha mãe é tua mãe, porque somos irmãos perante o Senhor!
Na minha falta, sê tu o seu filho! Em seguida, fez menção de sair, enquanto Pedro e João apressaram-se
a acompanhá-lo; da porta, voltou-se, dizendo a bodos ainda sob profunda emoção
espiritual:
— Vós sois meus apóstolos; pregai a palavra do Senhor e anunciai a
Boa Nova do Reino dos Céus sobre a Terra. A vontade do Pai se manifesta em mim
e devo cumpri-la, porque, a hora do meu testemunho é chegada!
Ante a emoção dolorosa que anuviou o coração de todos os discípulos,
pela primeira vez denominados os seus "apóstolos", Jesus afastou a
cortina e o seu vulto majestoso desapareceu nas sombras da noite estrelada,
envolto pela brisa perfumada do jardim de Gethesamani.
Do livro: “O Sublime
Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento.
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