Sabedoria Ramatis

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segunda-feira, 2 de julho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO V






PERGUNTA: Contam os evangelistas que, na hora de Jesus expirar, o céu abriu-se em tremenda tempestade e se "difundiram as trevas sobre a terra e se rasgou o véu do Templo em duas partes". Que dizeis disso?


RAMATÍS: Conforme dissemos, quando Jesus foi crucificado já passava do meio-dia; dali a algum tempo a multidão foi-se reduzindo em face do calor sufocante e talvez saciada do espetáculo confrangedor, que a uns comovia, a alguns horrorizava e a outros atraía por espírito mórbido e sadismo. O sol ardente obrigava os restantes a procurar sombras entre os raros arbustos, ou junto das ruínas de algumas catacumbas de um velho cemitério abandonado. Mas quase todos se mostravam cansados e fartos da cena tormentosa da crucificação, além do silêncio lúgubre que só era entrecortado pelos gemidos cada vez mais pungentes dos crucificados ao lado de Jesus.
Não era permitido a ninguém aproximar-se da cruz além de dez jardas, pois a sentença impedia qualquer iniciativa que reduzisse o tempo de vida dos crucificados, cuja infração poderia ser punida até com a morte dos infratores e a prisão dos guardas negligentes. Os parentes e amigos que se achavam mais próximos da cruz estavam de joelhos e oravam a Deus para dar o alívio ou a morte ao querido Amigo e Mestre Jesus de Nazaré; os homens tinham os olhos rasos de lágrimas e as mulheres gemiam em lamento.
Em verdade, na sexta-feira da crucificação todo o aspecto do tempo denunciava tempestade para a tarde ou à noite. Quando já fazia duas horas que Jesus fora crucificado, nuvens densas puseram-se a correr pelo céu, impelidas por um vento furioso, enquanto a luz do dia se apagava aos poucos, vencida por inesperada escuridão. As criaturas estranhas ao acontecimento da cruz apressaram-se a descer a encosta do Gólgota em direção aos seus lares. Sob o rugido do vento impetuoso, as cruzes se sacudiam arrancando gemidos lancinantes dos crucificados. Os próprios soldados se entreolhavam inquietos e os amigos do Mestre esperançavam-se de que Jeová iria intervir a favor do seu filho querido e eleito para a glória de salvar Israel!
Jesus sentia os braços cada vez mais entorpecidos por um espasmo cruciante; recrudesciam-lhe as dores prensivas da cabeça e o estômago queimava-lhe ardendo de modo esbraseado, enquanto os músculos do ventre pareciam rebentar sob a pressão da carga do corpo crucificado, penso para diante. O sangue das feridas dos pés e das mãos havia estancado, mas outra dor pungente tomava-lhe o coração. Tiago, o irmão de Maria, confabulava com os companheiros; ele não poderia suportar o espantoso drama de ver o seu adorado Mestre e sobrinho findar-se na cruz, aos poucos, só pelo crime de ter amado demais a humanidade. O que iria lhe acontecer dali por diante? Quantos dias Jesus resistiria, até apodrecer, acometido das pavorosas crises da gangrena da cruz, torturado sob o enxame de moscas e insetos, ou assaltado pelas aves carniceiras, que estavam habituadas a devorar os crucificados abandonados nas estradas?
Tiago estava decidido; mesmo que tivesse que submeter-se às mais terríveis torturas, jamais ele deixaria morrer de fome ou de sede o seu Mestre, pois o sacrificaria prematuramente dando-lhe o desejado alívio. Mediu o espaço que o separava dos soldados, mas verificou, desanimado, que seria morto antes de lograr vencer aquelas dez jardas. Naquele momento, num esforço supremo para exprimir-se, Jesus conseguiu dar a entender que suplicava por um pouco d'água; os soldados se entreolharam, numa espécie de consulta recíproca; então embeberam a esponja no caneco de sua beberagem alcoólica e aproximaram-lha dos lábios. Ele sorveu algumas gotas da bebida ácida, gozando de breve alívio nos lábios ressequidos, para depois retornar à sua condição de imobilidade atroz.
Tiago e João ainda se aproximaram mais da cruz, quedando-se ante o sinal ameaçador de um soldado armado de lança. Num esforço pungente, eles ergueram os olhos para Jesus, cujas veias estavam tensas e pareciam saltar da fronte sob o impacto do sangue impulsionado pela aorta.
Tiago enxugou o rosto com a própria mão e olhou o céu, como a pedir socorro; súbito, luziu-lhe um brilho de esperança nos olhos lacrimosos, ao ver que os soldados buscavam um lugar apropriado para se abrigarem ante a tempestade que se mostrava cada vez mais aterradora. Ele pretendia, de um salto, apanhar a lança que se achava encostada ha cruz de um dos ladrões e por amor e piedade por Jesus, o melhor homem do mundo, então far-lhe-ia cessar o tormento pavoroso, cravando-a no seu coração!


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

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