Sabedoria Ramatis

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domingo, 10 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – V












PERGUNTA: Supomos que, se Jesus exercesse qualquer função prosaica no mundo, ele não poderia dedicar-se tão eficientemente à sua doutrina e às peregrinações. Não é verdade?


RAMATÍS: O povo judeu considerava os seus rabis como uma instituição tradicional e mesmo necessária para a solução dos milhares de problemas e dúvidas que surgiam a cada passo entre os discutidores e aprendizes. Eles atendiam as ansiedades espirituais em público, semeando conceitos benfeitores, justificando compromissos, regras e submissões religiosas. Por isso, eram benquistos como os preceitos vivos da religião mosaica e não pesavam na economia do povo judeu, que os ajudava e fazia questão de mantê-los em atividade! No caso de Jesus o seu ministério despertava protestos, ironias, críticas e irascibilidades em certas classes, porque os seus ensinamentos não se ajustavam à tarefa comum do rabinato das estradas, pois transcendiam corajosamente a tradição religiosa, sacudiam a canga bovina do povo e despertavam dúvidas pelo esclarecimento dos dogmas, das especulações e fantasias do sacerdócio astucioso! O rabi Jesus não seguia Moisés na sua linhagem doutrinária; seus conceitos eram convites excêntricos que quebrantavam o espírito viril e indomável do judeu na sua fé, obstinação e ódio contra o romano!
A Galiléia era uma região onde a natureza pródiga oferecia a todos os habitantes o máximo de formosura, encanto e também de sustento fácil! Os golfos e os lagos da Palestina eram extremamente piscosos, sobretudo o lago Tiberíades. O povo vivia principalmente de pesca, e do peixe faziam toda sorte de pratos alimentícios; além de guardarem fartura de farinha e conservas para o inverno, que não era tão rigoroso. Havia frutos em abundância e com facilidade se desenvolvia a apicultura, além da indústria do mel de figo; pêssegos, cerejas, laranjas, per as e o figo eram coisas comuns nos lares hebraicos. O pão de centeio, de trigo ou de mel nutria as dispensas dos mais pobres; e o mulheril perseverante e laborioso, produzia com facilidade outros meios de alimentação pródiga e nutritiva. Não se verificava essa exigência angustiosa das famílias pobres das cidades modernas, em que a moeda, ganha com imensa dificuldade mal consegue suprir uma refeição diária. Entre os galileus, a hospitalidade recíproca era um dever proverbial e sagrado; havia um constante fluxo de visitação entre o povo; e quando, porventura, alguém sentia-se em dificuldade recorria aos mais bem providas, que passavam a sustentá-lo até melhores dias e sem quaisquer exigências onerosas. Assim, o beneficiado ficava na obrigação de atender, no futuro, outro semelhante necessitado, compensando os favores recebidos.
Os presentes, as trocas e os empréstimos eram acontecimentos comuns, pois naquela gente o sentimento fraterno e a preocupação de servir o próximo estavam na índole quase geral.
Deste modo, Jesus não fazia falta junto à família, nem sua inatividade era motivo de prejuízo ou desdouro para a comunidade de Nazaré. Também não arregimentava acólitos desviando-os de seus lares para seguirem-no estrada afora, porque estes acompanhavam-no depois de guarnecerem suas famílias de todas as necessidades; e seu retorno era breve! Na condição de rabi itinerante Jesus atendia a uma das tarefas mais imprescindíveis daquela gente correspondente às ansiedades espirituais de todos afeitos a uma religiosidade fanática. Tanto o Mestre como os seus seguidores contentavam-se com as migalhas que sobejavam das mesas e vestiam-se com simplicidade, aceitando as sobras dos lares mais fartos sem pesar na economia local. Eram frugais na alimentação, como cultores de uma virtude própria do "reino» de Deus", completamente despidos de quaisquer outros objetivos que não fossem sua tarefa messiânica. Prevendo-se os dias em que a caravana do Mestre Jesus se manteria em atividade nas cidades ou lugares adjacentes, quase todos os moradores, num esforço coletivo, providenciavam os meios para que os viajantes não viessem a sofrer qualquer necessidade, no tocante aos alimentos e hospedagem.
Hoje também se repete essa disposição emotiva e espiritual entre os espíritas que se sentem felizes e eufóricos em proporcionar bom acolhimento aos confrades, oradores e doutrinadores que passam por suas cidades, a serviço do Espiritismo. Quando isso acontecia, então recrudescia-se a pesca, o cozimento de pães, a moagem de trigo, a preparação de conservas, a secagem de peixe, a fabricação de geléias, biscoitos, mel de figo; aumentava-se a feitura da farinha de centeio e de trigo, a destilação de xaropes e a produção de sucos de laranja, pêssego, maçã e o dificílimo caldo de cerejas. Era uma festa emotiva para aquele povo despido de acontecimentos insólitos. As mulheres trabalhavam alegremente para cooperar no êxito e na divulgação da Boa Nova trazida pelo profeta de Nazaré. Eram confeccionados delicados farineis para a jornada mais longa do rabi e dos seus fiéis; um ou mais burros seguiam à retaguarda dos peregrinos conduzindo as provisões necessárias para o sustento de todos durante as pregações. A ternura e a alegria confraternizavam todos e os deixavam sumamente felizes pela oportunidade de participarem mais ativamente no advento da doutrina cristã!
Em face do espírito de hospedagem e solidariedade que predominava entre a maioria dos judeus da época, Jesus, seus discípulos e seguidores conduziam reservas abundantes e terminavam por distribuir grande parte de suas provisões e rações aos deserdados que encontravam durante sua peregrinação, comprovando a feição terna e gentil da caridade e do amor ao próximo, ainda patente no seio do Cristianismo. Os leprosos atirados aos grotões e às furnas que marginavam as estradas eram constantemente visitados pelos pregadores da nova crença, recebendo deles não somente alimentos e vestes necessários para o corpo físico, como ainda a palavra amiga e confortadora do amoroso rabi Quando todos retornavam felizes e eufóricos para seus lares, com a alma satisfeita pela alimentação espiritual do amor que é o traço essencial da contextura do anjo, depois de suas incursões pela Judéia divulgando o reino de Deus a todas as gentes, então eram recebidos amorosamente pelos seus próprios familiares com festas e demonstrações afetivas do mais puro sentimento! Os que ficavam à retaguarda cuidando das coisas prosaicas da vida em comum, ainda se davam por felizes ante o ensejo de participarem humildemente da obra do Mestre Jesus!
É por isso que nos relatos evangélicos é possível identificarmos a profunda afabilidade que sempre existia e unia os apóstolos e suas famílias, cada vez mais expansivas pela adesão de outros membros e parentes à missão de Jesus, o qual era o primeiro a não permitir sacrifícios alheios para ele transmitir a palavra do Senhor, pois em sua natureza profundamente honesta, mística e generosa, sentia-se o único responsável pelos óbices e sacrifícios que porventura adviessem na pregação do Cristianismo. Ele administrava tão sabiamente sua tarefa messiânica, que a história religiosa nos fala da ordem, disciplina e obediência que reinavam entre ele e seus discípulos propondo soluções e sugerindo providências que não exorbitassem do bom senso.


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

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