Sabedoria Ramatis

Sabedoria Ramatis

quinta-feira, 7 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – lV








PERGUNTA: Jesus sempre recebeu o apoio e a adesão dos seus conterrâneos da Galiléia, quando iniciou suas prédicas evangélicas?


RAMATÍS: Mudam-se as épocas, mas os homens se repetem porque a Terra ainda é uma escola de educação primária, cuja turma aprovada no aprendizado do ABC, é imediatamente substituída por outro contingente de almas analfabetas e portanto nas mesmas condições espirituais dos aprovados anteriormente. Aliás, o próprio Jesus queixou-se de "que ele viera para os seus e eles não o conheceram", justificando perfeitamente o aforismo "santo de casa não faz milagres", coisa que tornaria a acontecer hoje, caso ele retornasse à Terra para cumprir tarefas semelhantes. Iniciando a sua jornada messiânica, o Mestre Jesus foi alvo de entusiasmos e de zombarias, de respeito e sarcasmo, de elogios e censuras, de admiração e hostilidade. Os gozadores, os egoístas, os hipócritas de todos os tempos, também estiveram presentes na sua tarefa de libertação espiritual do homem e sem dúvida, ainda hoje estariam novamente na sua "segunda vinda".
Os mais irreverentes da época consideravam Jesus um indivíduo hábil, esperto e talentoso, que seduzia as mulheres jovens enquanto usufruía a fortuna das viúvas ricas. Os risos de mofa, os ditos ferinos, o sarcasmo e a censura circulavam em tomo dele, desafinando-lhe a tolerância e a resignação. Entre os seus próprios seguidores havia os pusilânimes, traidores e aproveitadores, como acontece nos movimentos políticos e nas revoluções sociais. Para a maioria dos maledicentes Jesus não passava de profeta dos vagabundos, pois a perfídia, como a peçonha da serpente que se renova a cada mordedura, também lograva infiltrar-se entre os seus discípulos e simpatizantes. Os mais débeis afastavam-se temerosos ante a primeira ameaça do Sinédrio e os interesseiros desistiam ante o insucesso financeiro do movimento cristão!
Certas vezes, ao surgir na curva do caminho principal que se estreitava depois na rua pedregosa principal de Nazaré, voltando de suas pregações junto ao Jordão, Tiberíades ou adjacências e cercado pelos pescadores, homens do povo, viúvas, mulheres de todos os tipos e condições sociais, então os velhos rabis tomados de cólera "sagrada” recebiam Jesus com ápodos e vitupérios. Batiam-lhe as portas da sinagoga à sua passagem num protesto vivo contra as suas ideias e a ousadia de contrariar os preceitos de Moisés, em troca de aforismos e ensinamentos subversivos à religião do povo! Eram velhos sacerdotes ainda submetidos às regras dos manuscritos ortodoxos e não se reconciliavam com a pregação livre e talentosa de Jesus. Os seus protestos senis combatiam a idéia imortal que vicejava à luz do dia sob a palavra mágica do jovem pregador de  Nazaré! Desesperados, empunhavam no recinto da sinagoga, massudos e envelhecidos pergaminhos para justificarem suas prédicas ortodoxas e o dogmatismo de suas palavras vazias! 
Os fiéis entravam e saíam do santuário local, tão ignorantes como viviam todos os dias à semelhança do que ainda hoje ocorre com os crentes modernos, que fazem dos templos religiosos exposições de modas, ou apenas demonstração de fé para efeito de conceito público. O rabi Jesus era portador de ideias revolucionárias explicando a existência de um Deus incompatível com a obstinação, o fanatismo e as especulações religiosas dos judeus. Isso era a subversão de todos os costumes religiosos e tradicionais do passado até a abdicação da virilidade judaica, pois ele chegava a aconselhar a "não violência" contra os romanos!
Assim, alguns dos seus parentes, vizinhos e amigos, aliando-se aos que possuíam interesses no prolongamento de uma situação de utilitarismo pessoal e acobertada pela falsa religiosidade, também não viam com bons olhos Jesus em suas pregações tão liberais, desprendidas dos preconceitos milenários. Ele contrariava a própria tradição do aconchego íntimo do santuário, uma vez que pregava abertamente em público junto aos montes, aos lagos, enfraquecendo o poder religioso e a força sacerdotal centralizados nos dogmas religiosos. A Natureza era á sua única igreja, pois ele tanto pregava ao povo do cimo de uma colina, sob a fronde de uma árvore, à margem dos rios e dos lagos, como da popa de um barco de pesca! Os seus sermões eram claros, simples e sem mistérios, o que também não agradava aos sacerdotes que se sacudiam nos púlpitos agitando a atmosfera das sinagogas com os berros de uma altiloquência deliberada sobre o público!
Era um contrassenso que um jovem sem aparatos sagrados nos templos e sem os estágios disciplinadores do entendimento mosaísta, em vez de se contentar com a modesta função de rabi itinerante, expondo soluções miúdas entre povo, se pusesse a minar as bases do Torá, substituindo temas, preceitos e regras ditados pelo grande legislador que fora Moisés! O seu papel de rabi seria apenas o de explicar com mais clareza, ou mesmo sob um toque de sua opinião pessoal os conceitos da religião dominante, mas sem deformá-los ou desmenti-los!
Ademais, Jesus enfraquecia o "mistério" da religião que alguns homens astutos como as raposas, evitavam explicá-lo ao povo ignorante e tolo! Ensinava tudo muito fácil, expunha em público as delicadas facetas da especulação iniciativa dos templos e os mais complexos tabus tornavam-se brinquedo de criança! A compreensão da imortalidade tornava-se cada vez mais simples entre o povo rude e inculto, que entendia facilmente o generoso rabi; ele evitava as argumentações teológicas, as exortações áridas e quilométricas, nem apelava para os quadros estentóricos com o fito de valorizar a sua oração. Descrevia o "reino de Deus" com as palavras e as imagens conhecidas por aquela gente simples; eram símbolos da própria vida humana nas mais claras comparações objetivas! Aqui, aludia ao grão de mostarda, à espiga dourada, ao trigo e ao joio; ali, aos talentos enterrados, ao fermento que leveda a massa, à pérola de grande valor, à rede e à pesca; acolá, suas lições, seus apólogos e aforismos giravam em torno do filho pródigo, das bodas do filho do Rei, do bom Samaritano, do rico e de Lázaro, do juiz iníquo, dos servos inúteis ou dos trabalhadores da vinha! Tudo muito claro, incisivo e comovente, fácil de ser divulgado pelos mais hábeis iletrados e compreendido pelos mais obtusos! Mas, repetimos, nem todos aceitavam Jesus, malgrado sua gentileza, ternura e sublimidade, pois naquela época, os interesses humanos tanto quanto hoje ainda acontece, dividiam as criaturas de conformidade com os seus objetivos egoístas, ou paixões! O reino que o Mestre pregava, pedia de início a abdicação do interesse egoísta e do utilitarismo do inundo; insistia na humildade, na cessão de bens em favor dos mais necessitados, coisa que não podia ser bem aceita pelos ávidos, cúpidos e especuladores inimigos milenários de quaisquer reformas sociais!
Nem mesmo todos os galileus submetiam-se aos ensinos de Jesus, pois não querendo prejudicar os seus interesses, não se integravam no conteúdo evangélico do que ouviam!


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...